"É lá da quinta!". A quinta não era dele, mas o nosso jovem diplomata, convencido que isso lhe conferia o "coté" finaço de proprietário rural no Douro, utilizava a quinta da tia como origem do vinho do Porto que oferecia, com orgulho, aos seus convidados, em garrafas sem rótulo, que entendia darem maior genuinidade ao afirmado néctar.
Naquela noite, tinha o seu embaixador para jantar. Apurado "gourmet", o velho diplomata tinha fama de ser um "connoisseur"* de vinhos. Os Portos seriam, aliás, a sua grande especialidade, pertencendo até à respetiva confraria.
O jovem anfitrião não resistiu enquanto não passou um cálice do Porto "lá da quinta" ao Embaixador, não se coibindo de adiantar: "O senhor embaixador vai deliciar-se com este Porto!". Fez-se na sala um silêncio ansioso, enquanto o embaixador degustava um trago do Porto "lá da quinta". O velho diplomata rolou com calma o líquido na boca e, para satisfação maior dos donos da casa e instrução definitiva dos restantes convidados, disse: "estupendo!".
Só o empregado português, contratado à hora pelo diplomata, que o embaixador encontrava por todas as receções naquela capital, terá notado que, segundos depois, com a discrição coreográfica que a carreira ensina a quem a sabe aprender, o embaixador pousou na sua bandeja o resto do cálice daquela zurrapa "lá da quinta", que tentava passar por um Porto, e optou por um seguro copo de água.
Em tempo: Um amigo referiu o meu "lapso" de ter escrito "connoisseur" em lugar de "connaisseur". Não foi lapso. De facto, em francês diz-se "connaisseur" mas, devo confessar, habituei-me, de há muito, a utilizar a consagrada corruptela anglosaxónica de "connoisseur". Mas, de futuro, e enquanto por aqui andar, reconheço que tem sentido vergar-me às origens etimológicas do vocábulo. Obrigado pela nota.
Só o empregado português, contratado à hora pelo diplomata, que o embaixador encontrava por todas as receções naquela capital, terá notado que, segundos depois, com a discrição coreográfica que a carreira ensina a quem a sabe aprender, o embaixador pousou na sua bandeja o resto do cálice daquela zurrapa "lá da quinta", que tentava passar por um Porto, e optou por um seguro copo de água.
Em tempo: Um amigo referiu o meu "lapso" de ter escrito "connoisseur" em lugar de "connaisseur". Não foi lapso. De facto, em francês diz-se "connaisseur" mas, devo confessar, habituei-me, de há muito, a utilizar a consagrada corruptela anglosaxónica de "connoisseur". Mas, de futuro, e enquanto por aqui andar, reconheço que tem sentido vergar-me às origens etimológicas do vocábulo. Obrigado pela nota.
10 comentários:
Não tenho sombra de dúvidas quanto ao "grande sentido de Estado e elevado sentido de responsabilidade profissional" da maioria do corpo diplomático português do qual o Senhor Embaixador é o melhor exemplo. Por isso mesmo, e por já estar familiarizada com o seu "franc parler", é com grande prazer que o leio quando "desanca" com graça e estilo os seus pares. Quel courage!
Cá está mais um belo naco de prosa do Sr Embaixador muito mal acompanhado com o vinho "lá da quinta"...
E a sabedoria do Diplomata a relembrar que "Um bom diplomata é aquele que se lembra sempre do aniverário de uma mulher, mas nunca da sua idade".
Interessantes post e comentários. E um agradecimento especial a Cunha Ribeiro pelo "ditado diplomático", que não conhecia!
Embora pertença ao número das mulheres que se não importa de dizer a idade, é sempre bom ter na manga este ditado para poder, em caso de necessidade, dar uma resposta à altura...
Julgo um pouco injusto atribuir exclusivamente à snobeira do diplomata o gosto de mostrar o produto "lá da terra", mesmo que a "terra" seja da "Titia" e não dele; Porque qualquer mortal português, que seja parente de uma qualquer horrível zurrapa, julga sempre que essa, precisamente essa, é a melhor do mundo. E tem sempre razão porque o vinho é bom quando se gosta dele. O resto é propaganda.
João Vieira
Muito me honra, ilustre Senhora, Helena S.C., ter apreciado o ditado diplomático em questão.
2ª parte do comentário
O) O subsídio da PAC à destilação de vinhos para o fabrico de aguardente vínica termina, em Portugal, na próxima campanha, tendo já terminado em outros países europeus, facto que determinará o agravamento substancial do preço das aguardentes no mercado livre, que não dos vinhos que lhe dão origem
P) Pela morfologia do seu solo e das condições climáticas, a que acrescem agora todas as exigências conducentes à defesa do Património Mundial, os vinhos da RDD nunca poderão ser concorrenciais, a nível de preço, com os das outras regiões
Q) A RDD produz anualmente excedentes de vinhos não beneficiados (vinhos de mesa) os quais, comercializados a preços internacionais, jamais permitirão cobrir os respectivos custos de fabrico
R) Segundo as previsões oficiais, a Vindima de 2010 produzirá entre 303.000 e 366.000 pipas de mosto; tendo sido fixado, para esta campanha, a beneficiação de 110.000 pipas de mosto e considerando uma comercialização, idêntica à de 2009, para os DOC´s, Moscatel, Espumante e Terras Durienses, irá haver um excedente de vinhos na RDD desta vindima por comercializar entre 138.000 e 201.000 pipas
S) A RDD, com uma área de cultivo de vinha de 45.726 ha, poderá produzir 457.000 pipas de mosto (limite máximo legal autorizado para os vinhos tintos)
Foi publicado, no jornal regional Notícias do Douro, um projecto que, em síntese, propõe as seguintes medidas:
- Toda a aguardente, a utilizar no fabrico do Vinho do Porto, será elaborada, exclusivamente, a partir de vinhos da própria região, escoando toda a sua produção vínica e garantindo a integral genuinidade do produto
- No Comunicado de Vindima anual será fixado o preço mínimo para compra, aos Produtores, dos vinhos a destino do fabrico da aguardente, tendo em linha de conta os efectivos custos de produção
- O IVDP, que integra a Organização Interprofissional da região, aplicará o valor das taxas cobradas na necessária e permanente promoção do Vinho do Porto, dos DOC’s, do Moscatel, do Espumante e da Região Demarcada do Douro junto dos consumidores finais, podendo mesmo, caso se venha a revelar necessário, aumentar o respectivo valor
Com esta alteração legislativa, os autores deste projecto prevêem um acréscimo de receitas anual para a região do Douro na ordem dos 80 milhões de euros (cerca de 78%) e, mantendo-se a actual margem percentual de comercialização, um aumento do valor das exportações anuais na ordem dos 120 milhões de euros (cerca de 34%).
Perante estes dados, pergunta-se:
Pergunta 1: O Vinho do Porto e a região que o produz tem algum significado especial e/ou particular para si? (declaração de interesses)
Pergunta 2: Conhecia a situação de facto acima referida? E esses dados causam-lhe alguma preocupação? Considera urgente assumir alguma atitude?
Pergunta 3: Qual a sua opinião sobre a estratégia de se produzir o Vinho do Porto com matéria-prima exclusiva da região do Douro?
Pergunta 4: Quais são, na sua opinião, os riscos inerentes àquela estratégia?
Pergunta 5: Vislumbra, dentro dos considerandos apontados e do conhecimento pessoal que eventualmente possui desta matéria, uma qualquer outra solução, ou ideia complementar, para aumentar as receitas da RDD de forma a dar cobertura aos respectivos custos?
2ª parte do comentário
O) O subsídio da PAC à destilação de vinhos para o fabrico de aguardente vínica termina, em Portugal, na próxima campanha, tendo já terminado em outros países europeus, facto que determinará o agravamento substancial do preço das aguardentes no mercado livre, que não dos vinhos que lhe dão origem
P) Pela morfologia do seu solo e das condições climáticas, a que acrescem agora todas as exigências conducentes à defesa do Património Mundial, os vinhos da RDD nunca poderão ser concorrenciais, a nível de preço, com os das outras regiões
Q) A RDD produz anualmente excedentes de vinhos não beneficiados (vinhos de mesa) os quais, comercializados a preços internacionais, jamais permitirão cobrir os respectivos custos de fabrico
R) Segundo as previsões oficiais, a Vindima de 2010 produzirá entre 303.000 e 366.000 pipas de mosto; tendo sido fixado, para esta campanha, a beneficiação de 110.000 pipas de mosto e considerando uma comercialização, idêntica à de 2009, para os DOC´s, Moscatel, Espumante e Terras Durienses, irá haver um excedente de vinhos na RDD desta vindima por comercializar entre 138.000 e 201.000 pipas
S) A RDD, com uma área de cultivo de vinha de 45.726 ha, poderá produzir 457.000 pipas de mosto (limite máximo legal autorizado para os vinhos tintos)
Foi publicado, no jornal regional Notícias do Douro, um projecto que, em síntese, propõe as seguintes medidas:
- Toda a aguardente, a utilizar no fabrico do Vinho do Porto, será elaborada, exclusivamente, a partir de vinhos da própria região, escoando toda a sua produção vínica e garantindo a integral genuinidade do produto
- No Comunicado de Vindima anual será fixado o preço mínimo para compra, aos Produtores, dos vinhos a destino do fabrico da aguardente, tendo em linha de conta os efectivos custos de produção
- O IVDP, que integra a Organização Interprofissional da região, aplicará o valor das taxas cobradas na necessária e permanente promoção do Vinho do Porto, dos DOC’s, do Moscatel, do Espumante e da Região Demarcada do Douro junto dos consumidores finais, podendo mesmo, caso se venha a revelar necessário, aumentar o respectivo valor
Com esta alteração legislativa, os autores deste projecto prevêem um acréscimo de receitas anual para a região do Douro na ordem dos 80 milhões de euros (cerca de 78%) e, mantendo-se a actual margem percentual de comercialização, um aumento do valor das exportações anuais na ordem dos 120 milhões de euros (cerca de 34%).
Perante estes dados, pergunta-se:
Pergunta 1: O Vinho do Porto e a região que o produz tem algum significado especial e/ou particular para si? (declaração de interesses)
Pergunta 2: Conhecia a situação de facto acima referida? E esses dados causam-lhe alguma preocupação? Considera urgente assumir alguma atitude?
Pergunta 3: Qual a sua opinião sobre a estratégia de se produzir o Vinho do Porto com matéria-prima exclusiva da região do Douro?
Pergunta 4: Quais são, na sua opinião, os riscos inerentes àquela estratégia?
Pergunta 5: Vislumbra, dentro dos considerandos apontados e do conhecimento pessoal que eventualmente possui desta matéria, uma qualquer outra solução, ou ideia complementar, para aumentar as receitas da RDD de forma a dar cobertura aos respectivos custos?
1ª parte do comentário
É sempre com enorme prazer que leio, seguindo, os seus “posts”, não só pela riqueza da variedade dos temas abordados, como também pelo seu fluído estilo de prosa, sempre demonstrando uma necessidade de permanente comunicação e servindo de alerta a todos os seus leitores. Bem haja!
Pelas suas ligações ao Douro e pelo título do post de hoje, lembrei-me de lhe fazer um repto: questionar os seus conhecimentos quanto à realidade económica actual daquela região.
Sinta-se perfeitamente livre para, no exercício da moderação do seu blog, não publicar este comentário, mas compreenda que eu, como português, me sinto também “obrigado” a alertar todos os que, para mim, mostram disponibilidade para alterar todas as situações demonstrativas dum certo imobilismo e, sobretudo, em terminar com a actual postura dominante do “empurra para a frente” os escolhos que vão surgindo, não tomando decisões.
Contextualização do actual sector do Vinho do Porto:
A) O Vinho do Porto é internacionalmente conhecido e produzido exclusivamente na Região Demarcada do Douro – primeira região vinícola do mundo, com mais de 250 anos de existência
B) As marcas “Porto” e “Douro” encontram-se mundialmente protegidas como designação de origem e identificação geográfica
C) O Vinho do Porto é um vinho generoso resultante da paragem da fermentação do mosto (beneficiação), obrigatoriamente da Região Demarcada do Douro, pela adição de aguardente vínica, a qual, até 1948, era também, obrigatoriamente, proveniente da destilação de vinhos de mesa da Região, passando, a partir daí, a ser de qualquer proveniência, situação que ainda hoje se mantém
D) Anualmente, em Comunicado de Vindima, é definida a quantidade a produzir de Vinho do Porto, tendo em linha de conta as vendas do sector e os stocks existentes, assim como a quantidade máxima de aguardente a ser utilizada na beneficiação; historicamente, vem sendo determinada a adição máxima de 130 litros de aguardente para 435 litros de mosto, para a obtenção de uma pipa de Vinho do Porto
E) Para obtenção de um litro de aguardente são necessários destilar cerca de 7 litros de vinho de mesa
F) De acordo com as estatísticas do IVDP, o consumo mundial do vinho do Porto tem vindo a diminuir anualmente, tendo passado de 171.749 pipas em 2000 para 150.768 em 2009
G) Também de acordo com as estatísticas do IVDP, também os preços médios de comercialização caíram no mesmo período, passando de 4,33 €/l em 2000 para 4,21 €/l em 2009
H) Por este duplo efeito, o valor global da comercialização baixou, no período considerado, 60 milhões de euros (sem correcção monetária)
I) Pelos actuais padrões de consumo, quanto a álcool e doçura, a comercialização de Vinho do Porto carece de campanhas promocionais permanentes, efectuadas junto dos consumidores finais
J) Por força da aplicação da Lei do Terço, por cada litro de quebra nas vendas ao consumidor, a produção, no Douro, deverá ser reduzida em 3,33 litros, para manter o equilíbrio entre a oferta e a procura
K) Em 31 de Dezembro de 2009 existia um stock de Vinho do Porto nos operadores num volume próximo das 600.000 pipas; atendendo a que as vendas do sector atingiram em 2009 as 150.000 pipas e mantendo-se o mesmo volume em 2010, não seria necessário, nos termos da Lei do Terço, produzir um único litro de Vinho do Porto na Vindima de 2010 para, em 2011, se manter o mesmo volume de vendas dos anos anteriores
L) De acordo com as estatísticas do IVDP, a quantidade do mosto beneficiado no Douro vem sendo reduzida anualmente, tendo passado de 152.524 pipas em 2000 para 110.856 em 2009
M) Também de acordo com as estatísticas do IVDP, os preços médios pagos ao Produtor do mosto beneficiado caíram, passando de 1.050 €/pipa em 2000 para 934 €/pipa em 2009
N) Por este duplo efeito, também as receitas da RDD baixaram, no período considerado, 57 milhões de euros (sem correcção monetária)
2ª parte do comentário
O) O subsídio da PAC à destilação de vinhos para o fabrico de aguardente vínica termina, em Portugal, na próxima campanha, tendo já terminado em outros países europeus, facto que determinará o agravamento substancial do preço das aguardentes no mercado livre, que não dos vinhos que lhe dão origem
P) Pela morfologia do seu solo e das condições climáticas, a que acrescem agora todas as exigências conducentes à defesa do Património Mundial, os vinhos da RDD nunca poderão ser concorrenciais, a nível de preço, com os das outras regiões
Q) A RDD produz anualmente excedentes de vinhos não beneficiados (vinhos de mesa) os quais, comercializados a preços internacionais, jamais permitirão cobrir os respectivos custos de fabrico
R) Segundo as previsões oficiais, a Vindima de 2010 produzirá entre 303.000 e 366.000 pipas de mosto; tendo sido fixado, para esta campanha, a beneficiação de 110.000 pipas de mosto e considerando uma comercialização, idêntica à de 2009, para os DOC´s, Moscatel, Espumante e Terras Durienses, irá haver um excedente de vinhos na RDD desta vindima por comercializar entre 138.000 e 201.000 pipas
S) A RDD, com uma área de cultivo de vinha de 45.726 ha, poderá produzir 457.000 pipas de mosto (limite máximo legal autorizado para os vinhos tintos)
Foi publicado, no jornal regional Notícias do Douro, um projecto que, em síntese, propõe as seguintes medidas:
- Toda a aguardente, a utilizar no fabrico do Vinho do Porto, será elaborada, exclusivamente, a partir de vinhos da própria região, escoando toda a sua produção vínica e garantindo a integral genuinidade do produto
- No Comunicado de Vindima anual será fixado o preço mínimo para compra, aos Produtores, dos vinhos a destino do fabrico da aguardente, tendo em linha de conta os efectivos custos de produção
- O IVDP, que integra a Organização Interprofissional da região, aplicará o valor das taxas cobradas na necessária e permanente promoção do Vinho do Porto, dos DOC’s, do Moscatel, do Espumante e da Região Demarcada do Douro junto dos consumidores finais, podendo mesmo, caso se venha a revelar necessário, aumentar o respectivo valor
Com esta alteração legislativa, os autores deste projecto prevêem um acréscimo de receitas anual para a região do Douro na ordem dos 80 milhões de euros (cerca de 78%) e, mantendo-se a actual margem percentual de comercialização, um aumento do valor das exportações anuais na ordem dos 120 milhões de euros (cerca de 34%).
Perante estes dados, pergunta-se:
Pergunta 1: O Vinho do Porto e a região que o produz tem algum significado especial e/ou particular para si? (declaração de interesses)
Pergunta 2: Conhecia a situação de facto acima referida? E esses dados causam-lhe alguma preocupação? Considera urgente assumir alguma atitude?
Pergunta 3: Qual a sua opinião sobre a estratégia de se produzir o Vinho do Porto com matéria-prima exclusiva da região do Douro?
Pergunta 4: Quais são, na sua opinião, os riscos inerentes àquela estratégia?
Pergunta 5: Vislumbra, dentro dos considerandos apontados e do conhecimento pessoal que eventualmente possui desta matéria, uma qualquer outra solução, ou ideia complementar, para aumentar as receitas da RDD de forma a dar cobertura aos respectivos custos?
"Ás vezes penso se o vinho tem género...Suscita tanto interesse de degustação e tantas discussões híbridas e profícuas de sexo dos anjos "
O do Porto por exemplo é tão... Bom.
Isabel Seixas
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