O "Expresso online" trouxe ontem uma nota do seu correspondente em Paris, sob o título "Emigrantes em França criticam TV portuguesa". O texto dá conta do desagrado detetado junto de cidadãos portugueses aqui residentes pelo facto de nem a RTPi nem a SICi transmitirem os principais jogos do campeonato português. Posso adivinhar que terá sido o recente "derby" da 2ª circular a razão próxima desta reação.
Como ilustração desta posição, o jornal cita um compatriota nosso como tendo dito: "A mim só me interessa o futebol e a continuar assim acabo com a assinatura dos canais portugueses". Com esta frase ficam muito claras as motivações que, de facto, assolam muitos portugueses aqui residentes.
Porém, o texto também adianta esta frase: "A RTP e a SIC têm sido acusadas, até por diplomatas nacionais, de difundirem programas inadaptados aos interesses dos portugueses residentes no estrangeiro".
Ora convém não confundir as coisas: alguns "diplomatas nacionais" (a começar pelo embaixador português em França, que não costuma esconder o que pensa, como aqui bem se sabe) têm uma opinião muito pouco lisonjeira da programação que hoje é oferecida pela RTPi e pela SICi. Isso, porém, nada tem a ver com o futebol, ou melhor, talvez tenha! Devo dizer que, reconhecendo que pudesse, de facto, ser interessante ter alguns jogos portugueses mais relevante nesses canais, do que essencialmente me queixo como utente é de que há, precisamente, "futebol" a mais nas televisões portuguesas - longos debates microscópicos sobre "foras-de-jogo" e penaltis, feitos por personalidades com uma óbvia "balcanização" clubística, inenarráveis entrevistas (para passar publicidade em fundo) com treinadores, jogadores, bem como com outros figurantes e alguns figurões do ramo, incríveis imagens quotidianas de treinos dos "três grandes" durante os telejornais do almoço, relatos de sessões de psicanálise federativa, detalhes da comédia da seleção e, por vezes, (sempre muito graves) declarações das instâncias "judiciais" (tenho pudor em utilizar a palavra neste contexto) da modalidade.
Em matéria de tratamento mediático do futebol, não tenho a menor dúvida em afirmar que Portugal é hoje um país subdesenvolvido e, para tal, muito tem contribuído a medíocre programação das nossas televisões, as quais, na minha opinião pessoal, prestam hoje um mau serviço ao país. Mas, convém ser justo, a televisão não esgota este triste estado de coisas: não imaginam a cara dos estrangeiros quando lhes refiro que há, na nossa terra, três jornais desportivos diários... A França tem um!
Imagino que os responsáveis televisivos, se acaso lhe chegasse à vista esta nota, pudessem argumentar que, como se vê, "não é possível agradar a gregos e a troianos". Claro que não é. Mas, quando não se pode agradar a todos, fazem-se opções. Uma das opções possíveis é seguir acriticamente as tendências do potencial auditório maioritário. Outra seria tentar trabalhá-lo culturalmente, respeitando-o sem o violentar, mas procurando fazê-lo evoluir. As televisões fizeram a sua opção.
11 comentários:
Senhor Embaixador: Permita-me subscrever esta sua opiniao. Afigura-se-me que os reponsáveis da nossa RTPi (única, das portuguesas a que tenho acesso) poderiam melhorar a programacao se se dessem ao trabalho de "ver com os olhos bem abertos" as emissoes das diferentes estacoes internacionais. Nao pretendo que plagiem uma mas que investiguem em todas.
Francisco F. Teixeira
Sinto uma vontade enorme de extrapolar este post também à televisão espanhola...
Na Mouche.
Isabel Seixas
Imagine aqui do outro lado do Atlântico como não é. Eu devo dizer que sou torcedor (até um pouco fanático e por ai se diria que sou um adepto). Mas, ainda assim concordo com o texto. Há muito futebol nos telejornais. E "mesas redondas" demais.
PS: O campeonato português aqui passa em canal por assinatura do sistema globo.
Senhor Embaixador,
Mais um interessante tema que traz à luz.
Devo ser um dos primeiros, na Ásia, que começou a receber o sinal, via satélite, da RTPi, no ano de 1995.
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Porém os programas no principio eram bem melhores do que agora. Depois de montado o prato satélite na varanda de minha casa as primeiras imagens que me chegaram era o Prof. Hermano José Saraiva a transmitir uma das suas lições sobre a história de Portugal. Foi um regalo.
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Chegou-me depois umas das melhores reportagens, históricas, que eu haja visto que fora o Dr. Miguel Portas que efectuou na Costa do Índico às Terras do Preste João.
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Houveram depois programas com alguma imaginação e agrado. Depois a degradação total, que me leva a mudar de canal para a TVE e TVI (espanhola e italiana)
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Na Tailândia raramente chegam os desafios de futebol, pela RTPi da Selecção Nacional. Retransmitidos depois de aqui se verem, em directo, por canal de televisão de Banguecoque, para todo o Reino.
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A televisão pública portuguesa está a proceder um mau serviço aos portugueses residentes em várias partes do mundo.
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Uma autêntica chachada e palhaçada, têm sido os programas de verão, onde se incluem a volta a Portugal; o Verão Total, as 7 Maravilhas de Portugal e, presentemente as Vindimas.
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Uma “pimbalhada” sem imaginação alguma com comunicadores/as que estão no lugar errado. Ora as deslocações através do país custam uma “nota” ao contribuinte português e me parece que na RTP o dinheiro corre como o abrir a agua da torneira.
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Que se fizessem as vindimas que se divulgassem as belezas (tantas!) de Portugal, mas bem planeadas e estas em língua inglesa e francesa e que os programas fossem (porque não?) oferecidos,de “borla” aos canais de televisão estrangeiros (através das nossas missões diplomáticas acreditadas nesses países), que seria um bom serviço prestado ao país.
Fico por aqui.
Haveria muito a contar em cima das desgraças que pela RTP seguem.
Saudações de Banguecoque
José Martins
P.S. – Não pago licença nenhuma e os pratos satélites (milhões deles) não são onerados de impostos na Tailândia. Valha-me ao menos isso...!!!
E também extrapolá-lo aos canais generalistas que se vêem em Portugal.... Se não fosse a TV Cabo o que seria de nós.
António Mascarenhas
…no entanto, infelizmente, não é só a RTPi que transmite programas para mentecaptos. Quando vivi no Brasil, a SICi, propriedade da "culta" Impresa, transmitia em horário nobre uma novela latino-americana (não me recorda se mexicana ou venezuelana)…
Joaquim do Carmo
Senhor Embaixador
Não poderia estar mais de acordo!
Em Angola sucede precisamente o mesmo; a RTPi trata os emigrantes portugueses como mentecaptos.É um péssimo serviço - se é que de tão mau se lhe pode chamar serviço - tanto pela fraquíssima qualidade da programação como pelo desrespeito pelos horários pre-estabelecidos.
Cumprimentos
Isabel Sofia
E o tema de abertura dos telejornais como notícia princípal, o futebol.
E os comentários nos vários blogs; muito poucos quando o tema é cultura ou outros de interesse altruísta e social, muitos quando o tema é futebol na sua essência, não é o caso deste.
A culpa não é das televisões, é da cultura; não é a académica, é a outra...
Subscrevo o que Isabel Sofia e Isabel Seixas disseram: “não podia estar mais de acordo” e “na mouche!”.
Quanto à qualidade das nossas televisões e as horas futebolísticas que ali passam, é de Terceiro Mundo!
P.Rufino
Eu já desisti. A imagem de Portugal, nomeadamente no Brasil onde vivo,mantém-se a de um país atrasado, a terra das mulheres de bigode, do roberto leal, do rancho foclórico. Por muito que os jovens portugueses se esforcem por transmitir a imagem de um Portugal moderno aparecem pelo caminho enormes obstáculos como a rtp interncaional, a péssima promoção turística de Portugal que é conduzida por gente que não conhece Portugal ou o acomodar de gente que teria responsabilidade na promoção da nossa imagem. (...).
(Lamento ter de eliminar, na fase final deste comentário, referências que são feitas a algumas pessoas. Julgo que o seu subscritor compreenderá)
Senhor Embaixador
Ou é futebol ou política. Quando não os dois em simultâneo...
Cultura, informação, debate de ideias? Serviço público? Onde? E o economicismo das audiências como ficava?
Nas privadas já nem me choca. Mas na pública, que recebe dinheiro de todos nós e ainda tem publicidade?!
Não é pessimismo. É a triste realidade.
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