Já não recordava a história, passada há mais de 20 anos. Um amigo, ontem chegado a Paris, que dela foi testemunha presencial, trouxe-ma à memória.
Estávamos num hotel de uma capital africana, integrados na comitiva de um membro do governo português. Nessa manhã, íamos partir para o palácio presidencial, onde o chefe de Estado receberia o nosso dignitário. Toda a delegação estava já no hall, pronta para embarcar nos carros. Toda, não! Faltava o nosso embaixador acreditado nesse país, que, aparentemente, estava ainda no seu quarto. Com o tempo a escassear, via-se que o nervosismo começava a apoderar-se no nosso governante, pessoa que os anos futuros mostrariam ser pouco dada a absorver com bonomia as contrariedades que a vida nos traz.
Tomei a iniciativa de telefonar para o quarto do embaixador. Expliquei-lhe que estava tudo "em pulgas", já com algum atraso, pelo que era urgente que descesse. Como se tivesse à sua frente todo o tempo do mundo, e ignorando olimpicamente a minha observação de que o nosso político estava a ficar furioso, disse-me com a sua proverbial displicência: "Tenham calma! Aqui ninguém chega a horas..."
Cinco minutos depois, desembarcou do elevador, sorridente, aproximando-se da nossa nervosa comitiva. O governante não resistiu e, entre o ácido e o irónico, lançou-lhe:
- Então, embaixador?! Não acordou? Não tinha despertador?
O diplomata, homem há muito conhecido por olhar para as minudências do tempo com a serenidade de quem tem outras prioridades na vida, respondeu-lhe, sem perder o sorriso, quase sarcástico:
- Sabe, até acordei muito cedo. Foi esse, aliás, o problema! Tão cedo era que voltei a deitar-me e, olhe!, adormeci...
E já caminhando para a porta, comentou, comandando a mudança da conversa:
- Belo dia, não acha?
Entre as nossas gargalhadas abafadas e a fúria oficial do chefe da delegação, lá fomos para o palácio. Ainda esperámos.
6 comentários:
Caro Embaixador, prometo que amanha leio este seu post. Mas a esta hora e depois de ter preparado os quadros com as informaçoes dos 270 alunos da APE que presido, juro-lhe que estou morta de SONO !
Até amanha, ou melhor até logo.
Boa noite, que ja é quase bom dia.
A melhor forma de levar a vida!
Sem pressas.
Isabel
sono desde que reparador e com sonhos...
sem ser induzido por alguém fastidioso...
Sono Bom
isabel Seixas
Senhor Embaixador
Terá sido em Angola?
Aqui nada começa a horas. Então casamentos! Se tivermos mesmo de ir, mais vale irmos já jantados, caso contrário arriscamo-nos a ter de abandonar o casamento para ir jantar a casa.
Cumprimentos,
Isabel Sofia
Cara Lebasiaifos: Em Angola o embaixador não teria dormido no hotel, teria dormido na sua casa...
"mais vale embaixador a dormir
mas que sabe o que a casa gasta
que um ministro acordado"
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