Segundo a imprensa, num colóquio há dias realizado em Lisboa ficou patente a diferença de perspetivas entre o ministro da Defesa do Brasil e alguns dos seus parceiros de debate, oriundos da Europa. Em causa estaria o papel da NATO e a sua proclamada vocação à escala global, neste tempo que antecede a definição do novo "conceito estratégico" da organização, a fixar na cimeira de Lisboa, em Novembro.
Não me surpreende este contraste de posições, conhecendo bem o modo como o Brasil olha estrategicamente o mundo, as desconfianças que sempre alimentou face a um "norte" que, quase sempre, lhe aparece como pretendendo hegemonizar a segurança global. Embora me pareça que o Brasil leva, frequentemente, este seu argumento demasiado longe, quero deixar claro que reconheço que o tal "norte" lhe dá, por vezes, razões para alimentar algumas dúvidas.
Não me surpreende este contraste de posições, conhecendo bem o modo como o Brasil olha estrategicamente o mundo, as desconfianças que sempre alimentou face a um "norte" que, quase sempre, lhe aparece como pretendendo hegemonizar a segurança global. Embora me pareça que o Brasil leva, frequentemente, este seu argumento demasiado longe, quero deixar claro que reconheço que o tal "norte" lhe dá, por vezes, razões para alimentar algumas dúvidas.
No Brasil, prevalece, de há muito, uma espécie de "contra-cultura" estratégica que funciona numa relação bipolar com os Estados Unidos - tidos como fonte de sedução civilizacional e, simultaneamente, como eixo de perigosas ambições. E como o Brasil tende (bem?) a não separar a NATO (e a Europa nela) dos EUA, o nosso continente é tomado, nessas "contas", como um mero "fellow traveller" de Washington.
Com esta sua atitude, o Brasil procura compatibilizar a afirmação de uma posição combativa em nome do "sul" com uma, menos afirmada mas facilmente pressentida, ambição de presença liderante nesse mesmo "sul". A emergência cíclica desta tentativa de autonomia estratégica, que o Brasil frequentemente enfatiza de uma forma que, erradamente, é percebida "a norte" como podendo ter um cariz conflitual, não deixa de criar algumas dúvidas nesta nossa parte do hemisfério. O que se passou recentemente com o Irão não ajudou também a afastar estas núvens. E, vale a pena dizê-lo, isso também não deixará de fazer parte da equação sobre uma possível reforma futura do Conselho de Segurança.
Em todo este contexto, e sem nos "pormos em bicos de pés", é mais do que óbvio que um país como Portugal deverá, desejavelmente, ter um papel positivo nesta clarificação de posições.
Por um lado, no quadro da Aliança Atlântica, tendo o cuidado de contribuir para uma postura conjunta que seja respeitadora de outras culturas estratégicas, as quais partem de pressupostos diferentes. Nesse esforço, deveremos procurar destacar a contribuição que destas podem resultar para quadros geradores de confiança de dimensão reegional, que potenciem valores comuns em prol da paz e segurança. Para isso, é importante que fique bem claro que o papel da NATO não se assume como podendo arrogar-se uma qualquer preeminência face às instituições de natureza multilateral, das quais decorre sempre toda e qualquer legitimidade de intervenção à escala internacional. Para isso, importa discutir, com clareza, a excecionalidade da intervenção no Kosovo e destacar as divisões ocorridas no caso da última invasão do Iraque.
Mas, por outro lado, também nos compete trabalhar intimamente com o Brasil, bem como com os restantes países africanos de língua portuguesa, em especial no âmbito da CPLP, por forma a conseguir fazer destacar, no trabalho conjunto à volta dos grandes desafios de segurança global, alguns princípios comuns que cada um possa projetar, sem conflitualidade, nos diferentes quadros estratégicos em que nos inserimos. Pode ser que eu esteja enganado, mas o agravamento de algumas ameaças acabará por tornar mais evidentes, para países que partilham a mesma matriz democrática, que estamos todos muito mais próximos do que pode parecer. Isso será ainda mais claro se nos conseguirmos afastar das "vuvuzelas" de alguma retórica com que alguns se entretêm.
6 comentários:
Pois acho que o que os "grandes" países(personalizados nos Seus governantes não só os efetivos) admiram no cariz de grande potência é a possibilidade de se sentir próximo do alcance...
Qual é mesmo a essência da Segurança global?!
Isabel Seixas
Com a queda do Muro e o colapso do Pacto de Varsóvia, a NATO “universalizou” o âmbito geográfico do seu teatro de operações, alargando-o a Leste, primeiro, e, de seguida, ao Sul, alastrando, por assim dizer, para fora da região consagrada ná própria designação da aliança.
Algumas intervenções fora da “sua” zona, não poderiam deixar de alimentar medos e agitar o espectro do imperialismo.
Como o senhor Embaixador assinala no post, o Brasil sempre teve pretensões a desempenhar um papel de liderança no Atlântico Sul, que considerava uma espécie de “mare nostrum” dos países ribeirinhos (sob a sua direcção, claro) e sempre manifestou uma grande desconfiança face à hegemonia do Norte naquela zona. Basta lembrar a iniciativa “Atlântico Sul, zona livre de armas nucleares”. Legítima e fundamentada ou não, a visão brasileira, comungada, aliás, por outros países da zona, existe, é bem real e não se deve afastar a hipótese de vir a introduzir fricções desnecessária a nível global.
Gostaria de exprimir a minha concordância com o papel que o post preconiza para Portugal e de sublinhar o papel muito positivo que a CPLP pode desempenhar, caso Portugal consiga, nesse contexto, consensualizar uma posição comum e construtiva.
O brasil é hoje uma potência mundial e regional reconhecida, ao nível da india ou china. Não admira que queira afirmar a sua individualidade e autonomia por oposição/diferenciação em relação a outras potências (EUA) ou blocos internacionais. Condena pex as bases americanas na colômbia.
Também não esconde que pretende um lugar no CSNU se este for reformulado.
Por ideologia, lula da silva tem assumido atitudes polémicas
em politica externa: é ver a sua cobertura do regime de hugo chavez, as suas relações com o irão (como dito na entrada)e a fantochada de ter levado e abrigado zelaya (das honduras) na sua embaixada.
O Brasil, como potência mundial, é peça fundamental para dar voz aos países pobres e pequenos como Portugal.
Se dar abrigo a Zelaya é uma fantochada, isso é um sinal de que o apego aos valores mais básicos da democracia já não é mais o mesmo no western world.
A questão cultural por tras da questão política é que húbris da grandeza chegou primeiro que a grandeza no Brasil.
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