domingo, outubro 16, 2011

Dar música

Nestes tempos de crise, a Embaixada persiste em "dar música", no quadro da série de concertos "Entre Pautas / Entre Partitions". Desta vez, será um concerto de piano e flauta.

Utilizando os belos salões da rue de Noisiel, em Paris, podem ouvir-se, no próximo dia 28 de outubro, pelas 18.30 horas, obras de Fernando Lopes Graça e de Luis Costa, em "diálogo" com alguns autores românticos europeus. Ao piano estará Bruno Belthoise e, na flauta, Yves Charpentier.

Como assistir? Veja aqui

As 24 horas de Vila Real

No aeroporto: relato a um amigo espanhol as palavras certeiras do presidente Cavaco Silva, num discurso em Florença, onde denunciou as derivas institucionais da União Europeia e a "mainmise" intergovernamental. Resposta dele: "Pena é que o teu compatriota Barroso, em lugar de fazer um comício tardio no Parlamento europeu, a tentar absolver-se da clandestinidade da Comissão, não tivesse dito isso mesmo há muito mais tempo". Por mais que tente, não me recordo da expressão exata, em castelhano, com que ele acabou a frase. Mas soou a "É o dizes!".

No jornal: o doentio catastrofismo nacional de António Barreto é objeto de um comentário irónico de Vasco Pulido Valente, a quem, como é sabido, nunca ninguém apanhou uma palavra de dúvida sobre o futuro de Portugal.

Nas ruas: nascem como cogumelos os locais de compra de ouro. E que grande época aguarda as lojas chinesas!

Na universidade: ou foi impressão minha ou o efeito da crise soltou-nos o discurso a todos. Falo por mim. Nunca dirigi um reunião de forma tão caótica. Mas pode ter valido a pena. Toda a gente começa a perceber que já não há tempo para perder tempo.

No quiosque: "Leva quatro jornais e duas revistas?! Caramba! Muito obrigado!"

No restaurante: "O senhor vem lá dos frios de Paris e acha que está calor?! Olhe que por cá tudo sobe: a temperatura, os preços, os impostos... Ah! e também a raiva..."

Um familiar: fez ontem 99 anos! Fui dar-lhe um abraço. Disse-me: "acho que vou chegar aos 100!". Vai, claro! E Portugal está quase a chegar aos 900! Estamos aqui para durar!

Por todo o lado: é impressionante a unanimidade angustiada nas expetativas das pessoas com quem nos cruzamos. Quanto mais não seja por espírito de contradição, vou apostar em como isto ainda vai dar a volta. Não é impunemente que se faz uma vida como sportinguista. 

No avião de regresso: conversa longa e proveitosa, entre o Porto e Paris, com Artur Santos Silva. É bom escutar os que ganharam uma sabedoria serena e tolerante.

Um amigo, triste, a comentar, ao telefone, as manifestações: "Começo a estar menos preocupado com a taxa de desemprego e muito mais com a taxa de desespero".

sábado, outubro 15, 2011

Pedro Rosa Mendes

Pedro Rosa Mendes é um dos grandes escritores da nova geração da literatura portuguesa. Esta semana, foi-lhe atribuído o prémio narrativa do Pen Club, pelo seu livro "Peregrinação de Enmanuel Jhesus".

Pedro Rosa Mendes era também o correspondente da agência noticiosa Lusa em Paris. Porque acompanho, de há muito, a atividade dos jornalistas que a Lusa tem (cada vez menos) pelo mundo, posso testemunhar que, do trabalho de Pedro Rosa Mendes em França, resultaram algumas das melhores e mais equilibradas "peças" que alguma vez vi escritas em trabalho de agência.

A Lusa, com certeza, não quis ficar atrás do Pen Club e decidiu também "premiar" Pedro Rosa Mendes, cancelando o seu contrato. Não terá sido a "troika" a sugerir, mas já agora...

quinta-feira, outubro 13, 2011

A mão visível

Tem imensa graça ouvir o canto dos reconvertidos próceres do novo federalismo. Depois de nos terem bombardeado, por décadas, com o paraíso da “mão invisível”, de terem entoado loas embevecidas às maravilhas do mercado, ei-los que chegam, novos e já velhos, a uma cada vez mais alargada comunhão na ideia de que se torna imperativo um salto federal europeu para a sustentação do euro. 

Que grande ironia! Quem havia de dizer que seria a Europa financeira a "puxar" pela Europa política! Ora sejam muito bem-vindos ao Estado!

Três dias

Dia 1. É preciso aproveitar melhor as oportunidades na área da construção civil que se abrem às empresas portuguesas neste país. Por isso, a embaixada acolheu, no dia 11, as largas dezenas de convidados que a Câmara de Comércio Franco-Portuguesa juntou, para um exercício de várias horas, entre promotores imobiliários franceses do setor da habitação social e um conjunto muito importante de industriais nacionais da nossa construção civil.

Dia 2. As portas da embaixada voltaram a encher-se, do dia 12, com quase uma centena de pessoas para aplaudir as dezenas de alunos portugueses premiados com bolsas de estudo para a frequência do ensino superior francês no corrente ano letivo. Trata-se de uma iniciativa lançada pela embaixada de Portugal que merece o apoio do Banque BCP, do banco BES, da Caixa Geral de Depósitos, da companhia de seguros Fidelidade, da empresa INAPA e da secretaria de Estado das Comunidades portuguesas.

Dia 3. O conselheiro das Comunidades portuguesas, Carlos Reis, foi o responsável pelo simpático convite que me foi dirigido pela Faculté de Droit, Économie e Gestion, de Orléans, para aí proferir hoje uma conferência subordinada ao tema "Le Portugal en Europe - les nouveaux défis". Seguiu-se um animado e informado debate, dentre a centena e meia de presentes, onde se contavam muitos estudantes e alguns "maires" da região. Portugal continua a ser um tema que interessa muitos franceses. Agora que as coisas não estão fáceis para nós, acho que vale ainda mais a pena praticar uma ativa "diplomacia pública" para explicar, com clareza e com todas as "cartas sobre a mesa", como estamos a trabalhar para vir a sair da crise e, de caminho, o modo como olhamos as estruturas em discussão nesta Europa. Uma jornada que valeu bem a pena.

quarta-feira, outubro 12, 2011

Tranquilidade

Ontem, gostei de ouvir Paulo Bento dizer, com "toda a tranquilidade", que a Dinamarca mereceu ganhar a Portugal. Porque era verdade. É bom que não sejamos cegos e que tenhamos a coragem de assumir quando falhamos, embora devamos dar provas de que estamos a trabalhar, com rigor, para garantir o nosso lugar no "Euro".

Terá isto alguma coisa a ver com outras realidades europeias, nomeadamente com as notícias, também menos boas, que nos chegam da Eslováquia, no tocante à aprovação do FEEF? Talvez. 

(Como muitas pessoas da minha geração continuo a ter muito boas recordações da capital eslovaca, Bratislava. Foi por lá, num 25 de abril (também) de muito boa memória, mas em 1965, que Portugal, com um golo magnífico de Eusébio, garantiu o seu apuramento para a sua primeira e inesquecível presença numa fase final do campeonato do mundo. Como ponto negativo, foi também por lá, nessa mesma tarde, que o sportinguista Fernando Mendes lesionou definitivamente o seu joelho. E eu, cá por coisas, tenho uma apurada memória seletiva para esse tipo de lesões.)

"Com toda a tranquilidade", quer na seleção, quer no restante país que não foi selecionado, devemos continuar a trabalhar. Se possível, melhor. Citando um clássico cada vez mais representativo do que hoje somos, lembraria que "os portugueses já provaram muitas vezes saber ser uns bons fregueses das grandes ocasiões"*.

*in José, Herman, "Bámos lá cambada!", Lisboa, 1986

terça-feira, outubro 11, 2011

Postos

Viviam-se os tempos do PREC, naquela grande embaixada portuguesa na Europa. O ministro-conselheiro, o nº 2 da casa, alimentava uma legítima expectativa de poder vir a obter uma chefia de missão, na onda de novas representações diplomáticas que Portugal estava a criar pelo mundo. Essa ânsia não passou desapercebida aos colegas. Assim, um certo dia, estes resolveram elaborar um falso "telegrama", como se se tratasse de uma comunicação chegada de Lisboa, através do qual era perguntado se o ministro-conselheiro estaria disponível para assumir funções como chefe da missão em Budapeste.

O método de consulta era um tanto bizarro. Por regra, este tipo de sondagens não se faz por escrito para... que nada fique escrito. Para os postos mais importantes e apetecíveis, é vulgar ser o ministro a convidar os embaixadores, por haver a quase certeza de que eles não recusarão. Para os restantes postos, encarrega-se dessa tarefa, por via telefónica, o secretário-geral do Ministério, muitas vezes condenado a frustrar expectativas e a receber reações menos simpáticas. Mas nesses tempos, de governos mais do que provisórios, tudo era plausível, mesmo um "telegrama" a formalizar uma sondagem.

Ao ler o "telegrama", que tomou por verdadeiro, o ministro-conselheiro ficou muito hesitante. E desapontado. Embora conhecedor do lema clássico de que "uma embaixada é sempre uma embaixada", que seria, no seu caso, a primeira, a Hungria não era o seu mais desejado destino de vida para os próximos três ou quatro anos. Algumas capitais à época bem mais simpáticas e mais a ocidente, na geografia e na qualidade de vida, estariam em vias de ser preenchidas e ele ambicionava poder obter uma dentre elas. Durante algumas horas, cheio de dúvidas, partilhou o seu desencanto com os colegas, que, com alguma perfídia, alimentaram a graça até aos limites da crueldade. Ao fim do dia, porém, revelaram-lhe, para seu grande sossego, que tudo não tinha passado de uma grande "partida".

Decorreram uns dias e um novo "telegrama", muito similar ao anterior, emergiu nos corredores da embaixada e foi, de novo, pousar na secretário do ministro-conselheiro. Agora, em vez de Budapeste, o destino era Bissau. O ministro-conselheiro entendeu que a coisa começava já a não ter graça e, com alguma secura, disse-o aos colegas que já tinham criado a "invenção" de Budapeste. Mas estes juraram, a pés juntos, que nada tinham a ver com a segunda comunicação. Foi então que o nosso homem irrompeu pelo gabinete do embaixador, para tentar perceber o que é que aquilo realmente significava. O embaixador, com serenidade, disse-lhe a verdade: o Ministério queria saber se ele aceitava ser o primeiro embaixador português em Bissau.

O diplomata estava aturdido. Bissau? Era uma cidade que se sabia difícil para viver, as relações de Portugal com uma antiga colónia com a qual tinha disputado uma década de guerra eram ainda tensas, estávamos muito longe do ambiente de fraterno entendimento que hoje se vive entre os países que falam português pelo mundo. Claro que abrir a primeira embaixada portuguesa na Guiné-Bissau era um forte desafio profissional, em especial para um primeiro posto como embaixador, mas o ministro-conselheiro mantinha-se ainda um pouco hesitante.

Saiu do gabinete do embaixador e foi falar com os seus colegas, partilhando com eles a proposta, sublinhando as dúvidas que o assaltavam e, de certo modo, lamentando não ter hipóteses de escolha. Foi então que um deles, irónico, lhe lançou:

- Que queres? A culpa é tua. Não quiseste ir para Budapeste...

O embaixador João de Sá Coutinho, uma das grandes figuras da carreira diplomática portuguesa, foi o primeiro embaixador na Guiné-Bissau, onde veio a fazer um excelente posto. A história foi-me contada por um dos "conspiradores de Budapeste".

África

Pedro Pires, que até há pouco foi presidente de Cabo Verde, acaba de ganhar o prémio Bo Ibrahim para a Boa Governação em África. No passado, também Joaquim Chissano, que foi chefe de Estado de Moçambique, recebeu o mesmo galardão.

Não sei se os franceses, os britânicos ou os belgas sentem um orgulho especial quando é feita uma distinção destas a um dirigente de alguma das suas ex-colónias. Eu, como português, sinto.

segunda-feira, outubro 10, 2011

Quadros

Devo confessar que senti ontem à noite alguma tristeza ao estar presente no lançamento da venda da coleção de pintura (e outros objetos) de Jorge de Brito, aqui em Paris. Fantásticos quadros de Vieira da Silva, de Júlio Pomar e de Amadeu Souza Cardoso foram postos à venda e dispersar-se-ão, a partir de agora, por coleções particulares e públicas, seguramente fora de Portugal. Será inevitável? Talvez seja.

Tentei perceber (mas não lhe perguntei) o que pensava Júlio Pomar ao olhar para alguns dos seus grandes trabalhos, a maioria saídos das suas mãos para as do seu amigo Jorge de Brito, há já algumas dezenas de anos, agora quase a caminho de anónimos destinos. Apenas lhe disse que, por uma vez na vida, lamentava não ter dinheiro suficiente para adquirir o seu "Mai 68 (CRS-SS) II" (na imagem), de onde transpira parte da história da geração em que, com muito orgulho e sem qualquer remorso, me revejo. Depois, pensei melhor: se tivesse dinheiro suficiente para me poder dar ao luxo de comprar aquele quadro (que custa centenas de milhares de euros), seria talvez um mau sinal... 

Espetáculo

Com uma excitante irregularidade, todos (mas todos) os funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros recebem, de tempos a tempos, num "block-mail" (que não discrimina quem está em Sidney de quem trabalha em Lisboa), notas sobre as mais variadas temáticas, desde o anúncio da (temporária, claro!) falta de água nas Necessidades (utilíssima informação, como se imagina, para funcionários em Harare ou em Tóquio), até à abertura de cursos de francês em Lisboa (bem úteis, especialmente para quem está colocado em Paris, apenas com a dificuldade dos horários dos aviões, para ir e vir no mesmo dia). Aparentemente, alguém cedeu, sem critério, o acesso indiscriminado à lista de e-mail oficiais dos funcionários e, agora, é "um fartar vilanagem". Se pensarmos que cada funcionário que recebe estes mails tem de "abrir" a respetiva pasta, ler o texto e, só depois, constatar a eventual irrelevância da informação, pode imaginar-se a quantidade de minutos tirada ao trabalho do Ministério. Mas, como já constatei há muito, não há nada a fazer! É assim, pronto!

Algumas destas mensagens são verdadeiros ícones recorrentes. E a sua falta ou atraso induz angústias, porque faz presumir que alguma coisa de grave se está a passar. Foi, por isso, que respirei de alívio ao receber há dias a que respeita à disponibilização de bilhetes para o circo de Natal 2011. 

Uhf! Pensava que nunca mais chegava! 

Eça, o Brasil e nós

No âmbito dos chamados "jantares queirosianos", dedicados a aspetos da vida e obra de Eça de Queiroz, a Fundação Eça de Queirós, o Círculo Eça de Queirós e o Grémio Literário promovem, no próximo dia 25 de outubro, em Lisboa, um debate, seguido de jantar, sobre o tema "O Brasil e os brasileiros".

Moderados por Miguel Sousa Tavares, o embaixador brasileiro Mário Vilalva, o advogado Pedro Rebelo de Sousa e eu próprio, juntar-nos-emos no Grémio Literário, numa charla que pretendemos bem animada.

domingo, outubro 09, 2011

De ouvido

Aqui fica uma historieta bem antiga da "casa".

Era a segunda ou terceira vez que o secretário-geral do MNE levava, ao despacho com o ministro, a proposta de atribuir a um determinado funcionário a chefia de uma embaixada. Por uma qualquer razão, que nunca ficava evidente, o político fazia-se deliberadamente desentendido, considerando o assunto não prioritário, pelo que transitava para a agenda da reunião seguinte. 

O secretário-geral, cuja qualidade de chefe da carreira o obrigava a ter de respeitar equilíbrios mínimos de justiça entre os funcionários, em função da sua antiguidade, experiência passada e avaliação de qualidade profissional, começava já a mostrar-se um pouco desagradado com a relutância do ministro, tanto mais que ela não era apoiada em qualquer argumento, mas apenas naquela misteriosa e persistente determinação em não tomar qualquer decisão.

Um dia, numa nova ocasião de despacho, o secretário-geral decidiu ser um pouco mais insistente:

- O senhor ministro vai-me desculpar, mas já não sei o que hei-de dizer ao homem. Ele aceita um posto modesto, está já muito atrasado em relação a colegas do seu tempo e, com toda a franqueza, parece-me que conseguiria gerir uma missão com a necessária dignidade. O senhor ministro conhece-o bem?

O político olhou o chefe da carreira e respondeu:

- Tenho uma ideia dele. Não é um que é surdo de um ouvido? 

O secretário-geral anuiu, animado com o reconhecimento feito pelo ministro: era esse mesmo.

- Pois é, só é pena que não entenda nada do outro.

E o homem acabou por nunca ser embaixador.

sábado, outubro 08, 2011

Sermão de domingo

As pessoas acreditam naquilo que querem acreditar. Em particular, acreditam no que lhes prolonga as ideias feitas, no que entendem como sendo "lógico" e no que lhes aparece como podendo desenhar-se como "óbvio". E se o que lhes é servido como verdade tem o condão de adubar sentimentos pré-existentes, então o processo de convicção pode dar-se como adquirido. Essa é a glória do criador da crença, para quem o supremo objetivo era construí-la, dá-la como evidência e vê-la partilhada, difundida e aceite como "a verdade". 

Ingenuamente, pode argumentar-se que, para além da crença, há que ter em conta esse pormenor, quiçá marginal, que são os factos. E que, às vezes, os factos apontam, de forma cristalina, no sentido de infirmar, em absoluto, a crença entretanto estabelecida. Neste caso, "tant pis" para os factos. Se acaso eles não acompanham o rumo da crença, esta dispensa-os, por irrelevantes e incómodos. É dos livros. Pirandello dizia que "a cada um a sua verdade". É verdade, cada um fica na sua. Apesar da verdade, na verdade, ser só uma. E, às vezes, a crença nada ter a ver com ela. Mas que importa? As pessoas acreditam naquilo que querem acreditar.    

Sábado comunitário

1. Começámos de manhã cedo. A reunião da CCPF (Coordenação das Comunidades Portuguesas em França) abriu com um interessante debate sobre problemas que interessam à nossa comunidade. O secretário de Estado das Comunidades portuguesas, José Cesário, os deputados Carlos Gonçalves e Paulo Pisco, bem como o autor deste blogue discutiram, durante quase duas horas, com um interessado auditório, temáticas tão variadas como o ensino português no estrangeiro, o trabalho associativo e a forma de o apoiar e promover, a imagem das comunidades migrantes em Portugal e no estrangeiro, as dificuldades dos residentes no estrangeiro com a nossa burocracia, os novos fluxos migratórios portugueses para França, a necessidade da preservação e valorização da memória da emigração, os contributos da "diplomacia autárquica", o papel do empresariado da diáspora, a promoção cultural no exterior, a mobilização cívica e política das nossas comunidades, a situação dos presos de nacionalidade portuguesa em França, o perfil dos mais jovens setores das comunidades.

2. À tarde, a associação de portugueses e luso-descendentes Cap Magellan, dinamizada pelo autarca parisiense Hermano Sanches Ruivo, instituição que agora faz 20 anos, organizou uma gala no "Hotel de Ville" de Paris, antecedida por palavras do "maire" Bertrand Delanoe e do SECP, José Cesário. Nela foram distribuídos prémios e apresentado um espetáculo com figuras como Kátia Guerreiro, Miguel Ângelo, Pedro Abrunhosa, Rui Reininho, lado a lado com artistas oriundos da nossa comunidade. Com pena, deixei a sessão a meio, por que tive de partir para...

3. ...uma noite limiana em Saint-Cyr, perto de Versailles, onde, com a presença de milhares de pessoas, teve lugar uma espécie de reedição das "Feiras Novas" de Ponte de Lima, com muita música e a gastronomia da "Encanada", o excelente restaurante da vila (porque Ponte de Lima é e quer permanecer vila!). Claro que acabámos com uma pratada de rojões e sarrabulho, regado a "vinhão" (sabem o que é?). Já prometi a mim mesmo entrar de dieta. Talvez comece 2ª feira...

sexta-feira, outubro 07, 2011

João Crisóstomo

Conheci-o há cerca de uma década, em Nova Iorque.

João Crisóstomo é uma personalidade que tem dedicado grande parte da sua vida a dar a conhecer a figura de Aristides Sousa Mendes, o cônsul em Bordéus que, durante a segunda guerra mundial, emitiu, contra a vontade do governo salazarista, vistos de entrada em Portugal que permitiram salvar a vida a milhares de judeus e pessoas que fugiam à invasão nazi da França.

Sousa Mendes, por esse ato de desobediência cívica, foi perseguido pelo regime ditatorial, demitido da função pública, tendo acabado a sua vida em muito precárias condições financeiras. Ironicamente, em certos documentos internacionais, o regime salazarista chegou a ser elogiado por ter "permitido" esse acolhimento de refugiados, pelo qual puniu um seu servidor. E, para cúmulo, por esse mesmo motivo, Salazar chegou mesmo a ser proposto para a dignidade de "justo entre os justos"...

Há dias, tive o gosto de receber João Crisóstomo em Paris. Com o entusiasmo de sempre, falou-me dos seus projetos. Perguntei-lhe por que razão a casa de Aristides Sousa Mendes em Cabanas de Viriato, que Jaime Gama tanto se empenhou em colocar à disposição da respetiva Fundação, permanece em ruínas. Muitos estrangeiros que aí rumam, numa peregrinação de homenagem a essa figura ética, vão-me dando conta da sua desagradável surpresa em verem o edifício cada vez mais degradado, fruto de um incompreensível desleixo. E não deixam, de forma muitas vezes inquisitiva, de apontar o dedo às autoridades portuguesas - que não têm, na metéria, a menor responsabilidade.

O modo discreto como João Crisóstomo se referiu ao assunto, procurando não acicatar feridas mas sem resposta concreta para a questão colocada, suscitou-me alguma inquietação. Neste tempo em que as fundações são sujeitas a um escrutínio mais apertado, talvez não viesse mal ao mundo, bem pelo contrário!, se se pudesse "pôr em pratos" limpos o que se passa com a Fundação Aristides Sousa Mendes.

Casa da Música

Convidei hoje 20 jornalistas franceses da área musical para almoçar na Embaixada com responsáveis da Casa da Música, do Porto, com vista a conhecerem melhor aquela instituição e, em particular, o projeto de celebração da música francesa que, durante o ano de 2012, aí vai ser desenvolvido.

Num excelente francês, que pode ter surpreendido os convidados e que testemunha a saudável permanência da relação cultural intensa que Portugal mantém com a França, Nuno Azevedo e António Jorge Pacheco deram conta, a um grupo muito interessado de interlocutores, das iniciativas que vão ser levadas a cabo naquela que o "Le Figaro" qualifica como "a fascinante Casa da Música, (...) uma das salas mais ativas da Europa".

Graças à produção da Casa da Música, vamos, hoje à noite, na Cité de la Musique, aqui em Paris, ter oportunidade, de apreciar uma versão sintética do "Ring" de Wagner.

Meio milhão

Alguns por erro, outros por casualidade, muitos por acaso do "Google", mas a maioria "porque sim" - foram até hoje já mais de 500 mil, segundo o "sitemeter" ao lado, aqueles que, desde o início de fevereiro de 2009 (esse ano longínquo em que Fevereiro se escrevia com maiúscula), apareceram por este blogue. Todos continuam a ser muito bem vindos.

quinta-feira, outubro 06, 2011

Nobel

Confesso que nunca tinha ouvido falar do novo prémio Nobel da Literatura, hoje anunciado, o poeta sueco Tomas Transtromer. O que, aliás, já me sucedeu, no passado, com outros nomes galardoados com idêntico prémio.

Fiquei a pensar se isso não seria uma imperdoável lacuna cultural da minha parte. E, pelo sim pelo não, durante um almoço de trabalho de que acabo de sair, perguntei ao colega sueco se os nomes de António Ramos Rosa ou de Herberto Hélder lhe diziam alguma coisa. Disse-me que não e sosseguei. Também ele não conhecia dois génios da poesia portuguesa. O meu sossego durou pouco, ao ouvi-lo dizer, logo de seguida, que, como poetas de Portugal, apenas conhecia Fernando Pessoa e Camões. Ora eu não conhecia nenhum poeta sueco (lembrei-me, depois, mas só lá cheguei com ajuda do Google, do nome, mas não da poesia, de Par Lagerkvist)! Mas logo aquietei o espírito com a reconfortante ideia de que, se isso acontece, é seguramente porque a nossa poesia é bem melhor do que a sueca. Deve ser isso! Pena é que ela não conte para o nosso PIB...

Logo à noite, quando for ouvir uma palestra do meu colega português na Unesco, o embaixador Luís Castro Mendes, que "acumula" com o facto de ser um dos grandes poetas contemporâneos de língua portuguesa, vou tirar tudo isto mais a limpo. 

Steve Jobs (1955-2011)

Por pouco que alguns tenham a ver com a "escola" Apple, há que reconhecer que o mundo da informática fica muito a dever a Steve Jobs, o génio que hoje desaparece.

quarta-feira, outubro 05, 2011

Não enche!

Figura muito conhecida do mundo da banca e da finança do Brasil, desaparecida há uma década, Walter Moreira Salles, que também foi embaixador em Washington, era uma personalidade convivial e conhecida como simpática e de acesso fácil. Por isso, não terá estranhado quando, numa casa de banho de um restaurante, alguém se aproximou e lhe fez um pedido algo bizarro:

- O senhor podia fazer-me um grande favor! Sou empresário e estou ali numa mesa com clientes. Nem imagina quanto me ajudaria se, à passagem, pudesse dar um sinal de que me conhece. Se eles percebessem que sou conhecido de Walter Moreira Salles isso aumentaria, de imediato, o meu prestígio.

Salles terá achado a ideia, se bem que estranha, bastante inóqua. Pelo que anuiu, perguntando o nome do homem. Minutos depois, ao passar pela mesa onde o seu "conhecido" já tinha entretanto regressado, lançou: 

- Olá, João. Como vai você, meu amigo?

A reação é que não foi a esperada. O João olhou para Salles "do alto", como se ele estivesse a importunar a conversa profissional, e respondeu:

- Waltinho, não enche, tá?!

Dois amigos brasileiros, cada um a seu modo, contaram-me esta historieta, há dias. Acho-a um belo exemplar da caridade não reconhecida.

terça-feira, outubro 04, 2011

O 5 de Outubro

Em Portugal, no tempo da ditadura, o 5 de Outubro, dia de implantação da nossa República, era uma data regularmente aproveitada pelos oposicionistas para celebrar a memória da democracia.

O curioso é que, ao tempo, alguém dizer-se "republicano", num regime que não tinha coragem de se afastar terminologicamente do conceito, era quase um ato de coragem, porque afirmava uma explícita rejeição do regime instaurado em 28 de maio de 1926. Ou, muito simplesmente, significava uma implícita colocação no campo da "oposição" ao Estado Novo, cujos defensores eram então designados, até pelos próprios, como a gente da "situação".

Nesses tempos, antes da Revolução de abril, recordo-me de ter participado em algumas iniciativas oposicionistas por ocasião do 5 de outubro. Eram, vulgarmente, romagens a cemitérios lisboetas onde estavam sepultadas figuras republicanas. Um dos momentos altos, nessa data, quase sempre alvo da repressão policial, consistia numa (muitas vezes apenas tentativa de) concentração junto ao monumento a António José de Almeida, ao Arco do Cego. Nunca esquecerei a figura magra, alta e esquálida de um homem que sempre aparecia nessas manifestações em Lisboa, com uma grande bandeira portuguesa, que a polícia, mesmo nos momentos de perseguição aos ajuntamentos, se via obrigada a respeitar. Não sei se a esse homem chegou a ser atribuída a Ordem da Liberdade. Bem a mereceria.

No ano de 1969, passei a data de 5 de outubro em Vila Real. Ao tempo, preparávamos no distrito o movimento da Oposição democrática (a Comissão Democrática Eleitoral, CDE) que haveria de defrontar a lista local da União Nacional. Contrariamente às listas CDE que haviam sido criadas em Lisboa, Porto e Braga, numa base um pouco mais radical, as CDE de província eram movimentos unitários onde se encontrava um pouco de tudo - republicanos "reviralhistas", monárquicos em aberta rutura com o regime, católicos em curso de dissidência com a hierarquia, socialistas de vários matizes, os comunistas "oficiais" do PCP e tantos outros, menos ou mais esquerdistas (como era o meu caso), sem filiação mas com uma imensa vontade de ver o Estado Novo pelas costas.

Organizado por um grupo liderado por essa grande figura de democrata que era o médico Otílio de Figueiredo, teve lugar, na noite de 4 de outubro de 1969, no restaurante Espadeiro, um jantar "oposicionista", que comemorava o "5 de outubro". Nele tomavam parte as figuras mais proeminentes da Oposição do distrito, tendo à frente, além do próprio Otílio de Figueiredo, José Alberto Rodrigues, Júlio Montalvão Machado e Camilo de Sousa Botelho. Eu e um grupo de jovens que fazíamos parte das estruturas organizativas da CDE de Vila Real decidimos dissociar-nos desse ato, por termo-lo considerado uma manifestação "burguesa" e saudosista. Só aparecemos para o café... No meu caso, fui mais longe: publiquei, na véspera, um artigo algo provocatório, no jornal local "A Voz de Trás-os-Montes", onde afirmava (e cito de cor) que "a nós não nos interessa nada o 5 de outubro de 1910, mas apenas o 5 de outubro de 1969". Os respeitáveis democratas vilarealenses devem ter olhado com displicente magnanimidade para essa nossa descabida ousadia. Só assim se compreende que tenham continuado a aceitar a nossa colaboração, nessa bela aventura que foi a campanha para as "eleições" para a Assembleia Nacional de que já falei aqui, aqui e aqui

segunda-feira, outubro 03, 2011

Por outro lado...


Ontem, já nem sei porquê, veio à conversa o famoso (e hoje politicamente incorreto) comentário de Margareth Thatcher de que gostaria que todos os seus assessores fossem manetas. Explicava a antiga primeira-ministra britânica: "quando me dão um parecer, acrescentam logo outro, de sentido contrário, antecedido de "on the other hand"...".

Lembrei-me então dos tempos em que as "informações de serviço" no MNE assumiam um estilo formalmente subserviente, marcado por um tom modestamente auto-dubitativo. Normalmente, o autor do texto sugeria várias opções possíveis e, no final, qual Pilatos, "lavava as mãos", com a frase clássica: "V. Exª, no seu alto critério, melhor decidirá".

Como devem imaginar, a apresentação de várias opções, sem coragem para as hierarquizar valorativamente, dava um jeitão, a quem tinha de decidir...

Guimarães

Convidado pelo Dr. Jorge Sampaio, acedi a integrar, a partir da passada semana, a título gracioso, o Conselho Geral da Fundação Cidade de Guimarães, que tem a seu cargo acompanhar a organização de Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura.

Este é um projeto de interesse nacional em cujo êxito todos temos obrigação de nos empenhar e ao qual procurarei dar a melhor colaboração possível.

domingo, outubro 02, 2011

Ainda o défice

Passo, às vezes, pelos blogues da política portuguesa, um espaço que se assemelha a uma guerra de trincheiras, onde os índios e os cow-boys se revezaram há pouco. Com louváveis exceções, trata-se de um terreno virtual de guerrilha, às vezes muito pouco urbana, feita de uma imensidão de ressentimentos e de vontade de "explorar o sucesso", de muito mau-perder e de muito mau ganhar. Velam-se espetros e incensam-se aparições, num mundo maniqueu de "bons" e de "maus", com os erros de uns a transformarem-se, patética e patetamente, no gozo dos outros. Esses uns agora esquecendo, como já antes essoutros esqueciam, que, no final da linha, há por aí um país e que, quando as coisas correm mal, correm mal para todos! Também isto faz parte do nosso défice.

Lisboa em 48 horas

1. A Madeira continua nas notícias. E nós com ela.

2. Ainda bem que está calor, dizia-me ontem uma amiga, sempre se evita testar a próxima fatura de aquecimento.

3. Um autarca é preso. O autarca é solto. Foi um erro. O processo pode prescrever. As televisões mostram a nossa Justiça em direto.

4. Colóquio na Gulbenkian. Bela discussão. Disse o que pensava, sem "langue de bois". Houve quem não gostasse, claro.

5. A coleção Berardo e os seus dinheiros suscitam novos problemas. Desde o início, sempre suspeitei que isso ia acontecer e lembro-me de o ter dito ao António Mega Ferreira. Cabe agora ao Francisco José Viegas a nova "batata quente". "Bon courage"!

6. Nesta passagem por Lisboa, fiz uma rara "greve" ao Procópio. Com o Nuno Brederode "de molho", a "mesa dois" perde toda a graça. Um forte abraço para ele e para a Céu. 

7. Muita gente na rua, na manifestação sindical. Jornada com ordem. É muito importante que assim continue a ser. 

8. Com o Porto a descer e o Benfica a subir, veremos onde chega este ano o Sporting. Embora a rua da Esperança só seja famosa por andar ao passo dos seus caracóis.

9. Deu-me para ouvir "Lisboa que amanhece".

10. ... e, sei lá porquê, para ver, em vídeo, uma obra prima com Peter Sellers, o "Goodbye, Mr. Chance".

sábado, outubro 01, 2011

Rosário

Estou certo que a Rosário teria gostado do momento que os seus familiares e amigos criaram na quinta-feira, no Père Lachaise, na muito triste e emocionada despedida que muitos lhe fomos prestar.

Com o Álvaro Vasconcelos, seu marido, a Rosário de Moraes Vaz foi a espinha dorsal dessa grande aventura de modernidade no pensamento geopolítico português que constituiu o Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais, cuja revista "Estratégia" ela propria dirigiu.

Lembro-me bem dos debates que tivemos no âmbito do EuroMesco, essa rede a que ela tanto se dedicou, na busca de soluções para o espaço do Mediterrâneo, o tema que sempre a fascinou. E as discussões sobre a Europa, onde estivemos bastante distantes para, mais tarde, coincidirmos muito nas nossas perspetivas.

A Rosário era uma personalidade forte, frontal, com muitas ideias e com vastas razões para as afirmar. Muito culta, atenta às questões do mundo, iluminava as discussões e revelava a sua inteligência brilhante, num "tandem" sempre criativo com a serenidade profunda do Álvaro. 

Recordo, agora com saudade, a nossa última conversa, na sua casa, aqui em Paris, ela com o seu inseparável cigarro e o seu entusiasmo transbordante. E, depois, o último dia em que brevemente falámos, no ano passado: ambos de muletas, fruto de acidentes, saídos de uma conferência sobre a Europa, na Gulbenkian de Paris. Ironizámos que estávamos ambos como o próprio projeto europeu...

sexta-feira, setembro 30, 2011

FT

Já por aqui confessei, por mais de uma ocasião, que aprecio bastante o "Financial Times", o diário financeiro britânico, um dos jornais mais bem escritos e construídos do mundo.

Um tarde de sábado, nos anos 90, em Londres, fui ao mítico e já desaparecido estádio de Wembley ver um jogo de futebol. De jeans e camisola, apanhei o metro, metido na fauna dos apoiantes das duas equipas, que, por essa hora, ainda viviam o tempo de relativo sossego que antecede as partidas. O ambiente era galhofeiro, sem agressividade, embora com muitas "bocas", a maioria num intraduzível "cockney". 

Alguns escassos viajantes liam tablóides, tipo "The Sun", "Today" ou "Daily Mail". Eu, distraído, recostei-me num banco e deliciava-me com o FT do dia. Não me tinha dado conta que, naquele ambiente, ler aquele imenso jornal cor-de-rosa era quase tão natural como ler "O Diabo" num "centro de trabalho" do PCP.

A certo ponto da viagem, dou-me conta que muitos olhares convergiam sobre mim. E algumas "bocas" também. Até que um grandalhão, vestido a rigor de apoiante de clube, me espetou o dedo no jornal e inquiriu: "Hey, pal! What the hell are those pink sheets you're reading?" A situação não era fácil. Dar explicações era descabido, recolher o jornal seria cobardia. Já havia um público para a cena. Com um sorriso amarelo, saiu-me: "Wanna see the weather forecast?". Não estava seguro de ter sido a melhor deixa, mas foi o melhor que me surgiu. Para meu imenso alívio, o grandalhão sorriu. E lá seguimos para mais uma "Cup Final". No regresso do jogo, com metade do metro zangado com o mundo, viajei prudentemente com o FT debaixo do braço.

Os sábados do FT trazem, nos dias de hoje, um imenso suplemento, para cujo título alguém, há dias, chamou a minha atenção: "How to spend it". Para sintetizar: trata-se de uma revista para quem tem dinheiro e gosto. Esse amigo dizia-me: "Não achas obsceno e provocatório um título como este, num tempo como o que atravessamos?". Tive de concordar. Mas se esse amigo lesse alguns textos do "The Spectator", como se sentiria?  

Economia e imagem

A convite dos organizadores do colóquio "Economia portuguesa: uma economia com futuro", apresentei hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, uma comunicação sobre "Portugal: a sua economia e a sua imagem".

O tema foi por mim escolhido pelo facto de considerar necessário que se encare, de frente, o modo como Portugal é hoje visto no exterior, em especial tendo em atenção a fragilidade, recentemente mais evidenciada, da sua situação económico-financeira. E sobre o modo de intervir nesse contexto.

Ao longo do dia, o colóquio deu origem a debates muito interessantes e animados sobre o estado de Portugal neste tempo de crise, mas também sobre o euro e a sobre as políticas da Europa. No painel em que intervim, dedicado a "Portugal no mundo", e como bem notou a moderadora Diana Andringa, o auditório foi mais crítico e pessimista que os membros do painel, cujas opiniões foram saudavelmente contraditadas. 

A minha intervenção, para quem possa estar interessado, pode ser lida aqui.  

quinta-feira, setembro 29, 2011

Grafitti

Está no "l'air du temps" de certa intelectualidade modernaça aceitar a livre prática do "grafitti", dando-lhe dignidade de expressão artística e afirmando o dever de tolerância perante esses selváticos atentados de poluição visual. Como absolvição de todos esses atos, mostram-se escassos exemplos em que esse tipo de pintura anima, por uns meses, a fachada de alguns prédios abandonados.

O presidente da Câmara do Porto, num ato de meridiano bom senso, decidiu dar ordens à polícia municipal para tentar punir os responsáveis por estes atos. Como não podia deixar de ser, logo surgiram vozes libertárias a reclamar o direito dessa gandulagem à livre "expressão" nas paredes dos outros. Será que esses paladinos da liberdade seriam tão afirmativos se as portas das suas casas tivessem o mesmo destino das que a fotografia mostra?

quarta-feira, setembro 28, 2011

Conversa de jantar

O embaixador havia distribuído os convidados por cinco mesas. Havia de tudo: diplomatas, políticos, funcionários superiores franceses e gente do chamado "social set".

O jantar fora divertido, com conversa solta. No final, o anfitrião pediu que cada mesa indicasse, aproximadamente, em que minuto da refeição a conversa derivara para o tema Dominique Strauss-Khan. Na minha mesa, perdemos: só havíamos falado no assunto aí à chegada do primeiro quarto de hora. Outros tinham abordado o assunto cinco minutos depois de se sentarem.

O caso DSK, desde há meses, é um "prato" incontornável de qualquer jantar parisiense. 

Uma dúvida sempre se me coloca: como serão as coisas nos jantares em Roma?

BB e David

O franceses habituaram-se a interpretar BB como as iniciais de Brigitte Bardot*. Bertolt Brecht, o genial escritor e teatrólogo alemão, usou as mesmas iniciais no seu magnífico poema "Do pobre BB", que Jorge Palma cantou num álbum de 2005. E, no mesmo registo, há que lembrar BB King, esse génio do jazz que tive o privilégio de ouvir ao vivo, por mais de uma vez.

Portugal tem também o seu BB - as iniciais pelas quais fica identificado Baptista Bastos. Conheci-o pessoalmente há quase 40 anos, quando, pelas tardes, nos encontrávamos num café e bar no topo da então livraria Opinião, na rua da Trindade - eu saído do meu emprego na Caixa, ao Calhariz, ele acabado o seu trabalho no "Diário Popular", também por ali perto. Esse era então um espaço aberto de conversa onde eu me imiscuíra, por via de amigos comuns. Por lá paravam jornalistas, escritores e outros que, como eu, eram meros espetadores atentos da vida intelectual de Lisboa. Com a sua voz bem caraterística, não abandonando a marca pessoal que é o seu laço, Baptista Bastos confirmava, em pessoa, a frontalidade opinativa a que sempre nos viria a habituar no futuro. Passei a lê-lo com regularidade e, depois sempre à distância, a apreciar o seu sentido crítico e a sua postura ética, muito em especial a independência com que sempre preserva a amizade por cima das ideologias. E, também, a sua rara maestria no domínio do português, uma "arma" que utiliza como poucos poucos e cuja "bala" mordaz tem criado engulhos em muitos.

A que propósito lembro BB agora? Porque acabo de ler a magnífica crónica que ele hoje publica no "Diário de Notícias", sobre esse outro grande senhor da literatura portuguesa, que se chamou David Mourão-Ferreira.

Nestes dias de uma "Lisboa contada pelos dedos", em que há cada vez mais "Gaivotas em terra", haveria grande proveito em que se lesse e relesse esses dois grandes escritores.

* que hoje faz 77 anos

terça-feira, setembro 27, 2011

Lula

A (minha má) foto é de Luíz Inácio Lula da Silva, doutor "honoris causa" pelo Institut d'Études Politiques - SciencesPo, em Paris, ontem, ao final da tarde.

Posso estar enganado, mas creio que na história de SciencesPo nunca terá havido um doutoramento mais animado, com um público jovem tão entusiasta, a assistir a uma "lição" tão extraordinária como a que foi dada pelo antigo presidente brasileiro.

Lula foi igual a si próprio. Leu um discurso mas, além disso, fez um brilhante improviso. Já ouvi muitas vezes Lula falar em público. Nunca encontrei um líder político que, com tanta genuinidade e inteligência, soubesse adaptar tão bem as suas palavras aos diferentes auditórios, sempre com sucesso.

A certo passo, Lula falou do tempo em que os economistas do "Norte" davam conselhos "paternais" ao Brasil e a outros países do "Sul", sobre a melhor forma de conduzirem as suas economias. E Lula perguntou: que diabo aconteceu a esses "sábios"? Onde é que eles se esconderam, agora que o "Norte" tanto precisaria das suas soluções?

Lula da Silva, no termo da sua intervenção, fez um forte elogio da política. Chamou a juventude a interessar-se pela vida cívica, a não desistir, a superar os maus momentos e as derrotas: "Quando aqui, em SciencesPo, necessitarem de alguém para dar uma aula sobre derrotas políticas, chamem-me! Andei 20 anos a perder eleições. Em política, aprende-se muito com as derrotas, podem crer."

Lisbonne

Edith Bricogne é a autora das fotografias e Fernando Pessoa escreveu dois belos textos que as Editions Chandeigne acabam de editar, num belíssimo livro - um presente que todos poderemos dar aos nossos amigos franceses, criando uma garantida angústia àqueles que eventualmente ainda não conheçam Lisboa.

segunda-feira, setembro 26, 2011

Incertezas

A conversa, à minha frente, entre dois amigos, ia animada, numa esplanada parisiense. Nesse final de tarde do passado sábado, tinha-lhes dado para a política.

Eu estava a ser um espetador algo distante do diálogo. Para imenso espanto deles (e, vá lá!, até de mim próprio), havia decidido não me imiscuir na conversa, enquanto falassem desses temas. Expliquei, simplesmente, que, como era fim de semana, tentava não me incomodar. 

Sem sucesso, tinha puxado a conversa para o magnífico resultado, na véspera, do Porto-Benfica, para a subida do PSG no campeonato francês e para o "hat-trick" do Ronaldo, acabado de ocorrer. Mas ninguém ia em futebóis. Procurei suscitar a questão da Cesária Évora, do novo CD de Sérgio Godinho e chamei a atenção para que, se não se apressassem, já não haveria bilhetes para verem o Aznavour, no "Olympia". Também não consegui dar música à conversa. Em desespero, apelando já a sentimentos de outra natureza, puxei, pela enésima vez, o tema Strauss-Kahn. E, no mesmo registo, até cheguei a atirar para a mesa conversas privadas transalpinas. Nada, não descolavam do tema.

Um dos amigos, que anda mais cético, dizia já não acreditar em nada. O outro, afirmativo, tinha certas coisas por adquiridas, de "fonte limpa". A certo passo, já nem sei bem a propósito de quê, disse:

- Tenho a certeza absoluta!

Resposta pronta do outro:

- Certezas absolutas?! Tu estás é doido! Hoje só há incertezas absolutas!

De facto.

Fausto

Mais uma boa notícia para a música portuguesa: Fausto concluiu a gravação do duplo álbum que completará a trilogia que inclui "Por este rio acima" e "Crónicas da terra ardente", o qual acompanha as viagens terrestres dos portugueses por África.

Como é que soube, quando esta notícia não foi ainda publicada? Disse-me ontem um velho amigo chamado Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias ou, simplesmente, Fausto.

domingo, setembro 25, 2011

Ouf!

Já por aqui confessei, mais de uma vez, que, embora use computadores desde há quase um quarto de século, continuo a ser um completo "nabo" em informática. E, mais do que isso, não tenho a menor intenção de aprofundar os meus conhecimentos neste domínio. Tenho muito mais que fazer, acreditem!

Por essa razão, fico completamente sem soluções em face de incidentes como os que aconteceram nas últimas 24 horas, quando um inesperado "hóspede" criou alertas negativos sobre este blogue na comunidade informática. Lá me esforcei por deitar ao "lixo" tudo quanto me passou pela cabeça que pudesse estar a causar o problema, quando, na realidade, um pouco mais de atenção poderia ter-me conduzido, com grande facilidade, para a origem da questão.

Com tudo resolvido em algumas (longas) horas, com a "Google" a portar-se bem (terá sido porque aqui a elogiei, há dias?), devo dizer que esta experiência me fez refletir um pouco sobre o mundo informático, sobre os nossos interlocutores apenas virtuais nesse mundo e, em especial, sobre a nossa dependência dessa "nuvem" que sobre nós paira e à qual entregamos os nossos arquivos, as nossas relações, as nossas fotografias e os nossos textos. 

Confesso que, nas últimas 24 horas, aprendi uma lição: converti-me às vantagens do "back-up".

Uma nota final para voltar a agradecer a ajuda de quantos - e foram muitos! - se interessaram pelo problema que afetou o blogue. Confirmaram que pode haver uma rede de solidariedade entre quem se conhece menos bem mas é "consócio" nessa tal "nuvem". Bem hajam!

Bancas

Leio no "Público" este título alarmante: "Banca nacional já perdeu 46% do seu valor em bolsa este ano".

Leio no "Journal de Dimanche": "La dégringolade des trois principaux établissements français" - desde 1 de julho, BNP Parisbas perdeu 53% do seu valor em bolsa, Société Générale 61% e Crédit Agricole 58%.

Os amigos e as ocasiões

Há duas atitudes comuns, entre outras possíveis, quando dois amigos nossos se incompatibilizam.

Uma delas é optar abertamente pelas razões de um deles, fazendo-as totalmente nossas e daí retirando as necessárias e radicais consequências no tocante à relação com o outro. Quase sempre, é isso que cada um, expressa ou implicitamente, nos pede.

Outra é procurar preservar ambos os vínculos de amizade, não obstante se poder reconhecer que um desses amigos até pode ter mais razão do que o outro. Nesse caso, emerge o risco simétrico desse amigo, o tal que tem mais razão, poder não entender que continuemos a nossa relação com quem a tem menos. 

Alguns acharão que esta segunda atitude é uma contemporização frágil, quiçá reveladora de pusilanimidade. Não vejo as coisas assim. As amizades criadas na vida são valores "bilaterais" (para usar um termo diplomático), que devem situar-se, tanto quanto possível, acima dos circunstancialismos exteriores. Bem basta aturarmos as razões da nossa consciência, quanto mais "importarmos" as razões dos outros. A menos que estejamos perante a ultrapassagem de fronteiras éticas - onde a nossa própria consideração pessoal por um dos amigos poderia ter tendência a esbater-se.

Mas a que proposito vem isto? De nada, deve ser do belo sol deste domingo de outono em Paris.

Explicação

Alguns leitores estranharão o facto de terem desaparecido, de alguns posts recentes, links que lá existiam, dando acesso a temas musicais. A verdade é que algum desses links comportaria um "conteúdo malicioso", o que fez com que este blogue tivesse estado sob "suspeita" informática durante algumas horas.

Para matar o mal pela raíz, eliminei todos esses links e o blogue parece, para alguns leitores, ter voltado à sua normalidade. Do mesmo modo, eliminei vários "contadores", o mecanismo que nota os blogues que citam o "Duas ou três coisas" e mais algumas coisas mais. Já reportei o assunto à gestão dos blogues e espero que, dentro de algum tempo, tudo fique clarificado.

O meu obrigado a todos os amigos que se têm preocupado com esta situação. 

sábado, setembro 24, 2011

Filipe Pinto-Ribeiro

Para encerrar da melhor forma a onda musical, bem diversificada, que "se abateu" sobre este blogue nos últimos dias, regista-se agora o magnífico espetáculo que ontem teve lugar na Embaixada de Portugal em Paris. 

Filipe Pinto-Ribeiro, um dos grandes pianistas portugueses contemporâneos, apresentou, a uma sala a abarrotar, um conjunto de peças de música europeia, naquela que representou a nossa contribuição para o ciclo anual de eventos organizados pelos centros culturais europeus em Paris.

Foi uma das mais belas jornadas da série de espetáculos musicais "Entre pautas/entre partitions" que, sob a égide do Instituto Camões, temos vindo a organizar na residência portuguesa em Paris. Para quem queira a eles assistir no futuro, sugiro que esteja atento ao que se publica aqui. Uma quota de convites estará disponível para quem se increva pela internet.

E, quem cá não esteve ontem, pode saber algo mais sobre Filipe Pinto-Ribeiro aqui.

Sodade

Cesária Évora sofreu um AVC e está internada aqui em Paris. O "Le Monde" dedica-lhe, na sua edição de hoje, uma merecida página.

A certo ponto do texto, a jornalista autora do texto destaca o papel de José da Silva, o empresário da cantora, que, pela primeira vez, "no final dos anos 80, em viagem a Lisboa, encontrou Cesária num bar", lançando a partir daí a sua carreira internacional. Mas a jornalista não se fica por aqui: ao notar o modo chocado como José da Silva se viu agora obrigado a relatar à imprensa que as condições de saúde de Cesária lhe não permitem continuar a cantar em público, assinala que foi este empresário "quem a fez sair fora das suas fronteiras lusitanas e colonialistas". 

Caramba! "Colonialistas"? No final dos anos 80, quando Cabo Verde é independente desde 1975? Para além da iliteracia político-cultural - outros diriam, simplesmente, estupidez - que esta referência traduz, o lapso é bem revelador da persistência, num certo imaginário cultural europeu, de restos de uma lusofobia que a duração temporal do nosso colonialismo, para além da de outros congéneres europeus, acabou por enraizar. Há um preço que, acreditem!, continuamos ainda a pagar por isso, no "retrato" externo do nosso país. Para a semana, vou também referir esse facto, num seminário em Lisboa onde abordarei o tema bem atual da imagem de Portugal e da sua economia.

Cesária Évora, na sua genialidade, abordou em canção a questão dos caboverdeanos que foram trabalhar para S. Tomé e Príncipe e que por lá ficaram. Esta era uma realidade até então muito pouco conhecida em Portugal.

Eu havia-me defrontado com ela em inícios de 1976. Estava de visita a S. Tomé, enviado por Lisboa, para tentar resolver uma greve dos professores cooperantes que Portugal para aí tinha destacado. Um dia, em conversa com uma empregada da residência do nosso embaixador, a senhora revelou-me que era caboverdeana e que estava há muito tempo em S. Tomé, para onde o marido, já falecido, tinha vindo trabalhar nas roças do cacau. Perguntei-lhe se, entretanto, já tinha voltado à sua terra ou se tinha intenção de fazê-lo definitivamente, agora que o seu país era independente. Nunca esqueci o olhar intensamente triste com que me disse: "Ó doutor? Como? Nunca tive dinheiro nem nunca vou ter para voltar a ver Cabo Verde!". Foi nesse instante que acordei para o drama imenso dessa gente, expatriada dentro do Portugal da ditadura, para quem - para essas pessoas, sim! - o sistema colonial não morreu com o 25 de abril.

Cesária Évora cantou, para sempre, como ninguém, em morna num melódico crioulo, a tragédia dessa sua gente que foi para S. Tomé, no inesquecível "Sodade". 

José Niza (1938-2011)

Que venha o sol o vinho e as flores
Marés, canções de todas as cores
Guerras esquecidas por amores;

Que venham já trazendo abraços

Vistam sorrisos de palhaços
Esqueçam tristezas e cansaços;

Que tragam todos os festejos

E ninguém se esqueça de beijos
Que tragam pendas de alegria
E a festa dure até ser dia;

Que não se privem nas despesas

Afastem todas as tristezas
Pão vinho e rosas sobre as mesas;
Que tragam cobertores ou mantas
E o vinho escorra p'las gargantas
E a festa dure até às tantas;

Que venham todos de vontade

Sem se lembrarem de saudade
Venham os novos e os velhos
Mas que nenhum me dê conselhos!

Que venham todos de vontade

Sem se lembrarem de saudade
Venham os novos e os velhos
Mas que nenhum me dê conselhos! 

Na morte de José Niza, um homem solidário e sonhador, aqui fica, em homenagem, a sua "Festa da vida", a letra que construiu para a canção, com música de José Calvário, com que Carlos Mendes ganhou o Festival RTP da Canção, em 1972.

sexta-feira, setembro 23, 2011

Madeira

Não deve haver português com internet que, nestes últimos dias, não tenha recebido uma anedota, um poster ou outra graça alusiva à Madeira e à respetiva gestão financeira.

Às vezes pergunto-me como é que os estrangeiros olham para esta nossa propensão para aliviar as dores pelo humor. Uma coisa me parece bem clara: não convirá que a "troika" se convença de que, lá porque afivelamos um sorriso amarelo, andamos felizes...

Protocolo

Estive ontem numa palestra proferida pelo antigo chefe do governo espanhol, José Maria Aznar. 

O "presidente del Gobierno" foi uma figura marcante da vida política espanhola, titulando oito anos consecutivos de liderança. A Espanha vivia então os tempos de uma economia de sucesso, com uma forte influência na vida europeia. A isso correspondeu um momento de uma nova afirmação internacional de Madrid, com algumas cambiantes no próprio perfil externo do país, de que a mais notória terá sido o forte alinhamento político com os EUA, a anteceder a respetiva intervenção no Iraque, em 2003.

Uma momentânea hesitação ocorrida na definição do lugar de Aznar, na mesa onde ontem se sentavam os participantes no debate, trouxe-me à memória uma imagem que revela bem como o protocolo pode ter uma importância decisiva na vida política.

Se olharem para a fotografia acima, todos identificarão os quatro chefes de governo que, em 17 de março de 2003, estiveram na chamada "cimeira dos Açores". Não obstante serem quatro, fica claro que a centralidade da imagem está focada em George W. Bush, que tem à sua direita Tony Blair e, à esquerda, José Maria Aznar, sobre cujo ombro Bush colocava uma amigável mão. O chefe do executivo português, embora anfitrião da cimeira, surge num extremo, claramente secundarizado na imagem de grupo.

Curiosamente, as coisas não eram assim... segundos antes desta fotografia. No início da cena, Aznar estava colocado à direita de Durão Barroso, o que conferia ao chefe do executivo português um lugar central, e natural, num ato que decorria em solo português. Porém, quem tiver observado o filme da época terá verificado que o chefe do executivo espanhol, com o instinto de quem percebe que as fotos têm uma relevância histórica forte, abandonou a companhia do seu colega português e foi colocar-se ao lado do titular da Casa Branca. E, na sua perspetiva, teve toda a razão para o fazer. A prova é que grande parte das fotografias que surgiram posteriormente na imprensa internacional excluíram o então chefe do executivo português (basta ir ao "Google images" para testar isso).

As coreografias protocolares são, por vezes, da maior importância política.

quinta-feira, setembro 22, 2011

Carreiras

Há pouco mais de dois anos, publiquei por aqui, num post, uma história verdadeira. Hoje, apetece-me repeti-la:

Um dia, na segunda década* dos anos 70, a Embaixada de Portugal em Londres recebeu a visita de um militar de Abril, membro do Conselho da Revolução, homem muito estimável, que deixou uma rara imagem de educação, elegância e bom-senso na sociedade política de então.

Como se impunha, o embaixador ofereceu-lhe uma refeição. O repasto correu de forma simpática, na magnífica sala de jantar ornada de pinturas, daquela que é, sem sombra de dúvidas, uma das mais belas residências que Portugal tem pelo mundo.

Num determinado momento da conversa, o nosso militar deixou cair uma confissão: "Vou contar-lhe um segredo, senhor embaixador: um dos meus maiores sonhos foi sempre poder vir a ser, um dia, embaixador de Portugal em Londres". Os tempos políticos, à época, não eram já muito propícios a poder garantir, de mão beijada, sinecuras a quem não possuía experiência e qualificações profissionais adequadas à função. Mas nunca fiando...

E, por essa razão, e perante o silêncio protocolar do embaixador, o militar não ficou sem resposta. Um jovem diplomata presente, homem do mundo, cuja inteligência e arte voltariam, no futuro, a colocar Londres no seu destino, não resistiu e retorquiu: "Tem graça, senhor major. No meu caso, é precisamente o contrário: sempre tive como ambição de vida ser comandante da Região Militar Norte"...

O major, inteligente e perspicaz, entendeu o recado. E mudou de conversa. 

* Ver os comentários

RLG

Embora, com toda a certeza, Sérgio Godinho não tenho disso conhecimento, existe, bem no norte do Brasil, um seu clube de fãs, sob a enigmática sigla RLG, que vim a descobrir significar "Rosário loves Godinho".

Durante todo tempo em que vivi naquele país, recebi dessa agremiação, com elevada frequência, insistentes manifestações de apreço pelo trabalho daquele nosso cantor. Isso voltou a acontecer agora, nas últimas horas, com uma comunicação informática de onde ressoa a estranheza pelo facto de não ter aqui sido dada nota da saída de um novo álbum do cantor, com o nome de "Mútuo consentimento".

Aqui fica a minha mea culpa.

PS - E hoje mesmo, PMP, chegou-me o CD

Bandas

Dado o inusitado espanto que provocou na nossa comunidade de comentadores o facto de eu gostar bastante dos REM, e para que não restem dúvidas sobre o ecletismo dos meus gostos musicais, deixo um exemplo de uma outra banda, igualmente clássica para a nossa geração, que também recolhe a minha elevada preferência: conjunto António Mafra!

Palma

Para compensar o post anterior, anuncia-se, para nossa alegria, um novo Jorge Palma, o seu novo álbum "Com todo respeito".

quarta-feira, setembro 21, 2011

Não nos desiludam!

Já há abaixo-assinados contra a decisão sobre o novo aeroporto? E providências cautelares? Então e as objeções ambientais, de invejas locais...