Devo confessar que senti ontem à noite alguma tristeza ao estar presente no lançamento da venda da coleção de pintura (e outros objetos) de Jorge de Brito, aqui em Paris. Fantásticos quadros de Vieira da Silva, de Júlio Pomar e de Amadeu Souza Cardoso foram postos à venda e dispersar-se-ão, a partir de agora, por coleções particulares e públicas, seguramente fora de Portugal. Será inevitável? Talvez seja.
Tentei perceber (mas não lhe perguntei) o que pensava Júlio Pomar ao olhar para alguns dos seus grandes trabalhos, a maioria saídos das suas mãos para as do seu amigo Jorge de Brito, há já algumas dezenas de anos, agora quase a caminho de anónimos destinos. Apenas lhe disse que, por uma vez na vida, lamentava não ter dinheiro suficiente para adquirir o seu "Mai 68 (CRS-SS) II" (na imagem), de onde transpira parte da história da geração em que, com muito orgulho e sem qualquer remorso, me revejo. Depois, pensei melhor: se tivesse dinheiro suficiente para me poder dar ao luxo de comprar aquele quadro (que custa centenas de milhares de euros), seria talvez um mau sinal...
6 comentários:
Pode crer, Senhor Embaixador! É preferível não ter o dito quadro do Júlio Pomar, mas ter um sono descansado.
Isabel BP
"se tivesse dinheiro suficiente para me poder dar ao luxo de comprar aquele quadro (que custa centenas de milhares de euros), seria talvez um mau sinal..."
Que não lhe pese a consciência na comparação com os seus pares de 68. Foram tantos os que viraram as costas aos ideais da época...
Pois veja: se continua "young at heart" no sentido soixante-huitard, lê-lo-ei com simpatia redobrada.
(Já agora, talvez pudesse explicar que circunstâncias levaram à venda da colecção?)
Caro/a DL: não faço a menor ideia sobre as razões da venda da coleção. É um assunto privado. Limito-me a constatar o facto e a lamentar que ela não fique em Portugal.
sou também, com orgulho e sem remorsos - mas que ideia! -, dessa frustrada e gloriosa geração. mas eu que importo?
quanto a esta 'minha' velha senhora, que também por aí andou, ela agora 'ne pense qu'à ça'. patética, quanto mais velha, mais ts:
ai se eu pudesse
era co'o júlio já
que eu me queria
em companhia
se ele o quisesse
com ou sem quadros cá
bem me fo… - eh digamos: ai bem me via
ai que folia.
Inegável a nossa/minha Velha amiga toda p´ra frentex até no gosto pela pintura , qual 11ª revelação, sei de antemão que não tem nada a ver com o valor material.
Agora, os quadros que não podemos ter, fazem eterno o efémero Prazer.
Se fosse rica, muito rica, os quadros da Helena Vieira da Silva, do Pomar, da Sónia Delaunay, do Amadeo de Souza Cardoso e o do Modigliani (espero não ter esquecido nenhum) desta colecção ficavam todos em Portugal e continuava a dormir descansada apesar do preço escandaloso de alguns deles...
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