As pessoas acreditam naquilo que querem acreditar. Em particular, acreditam no que lhes prolonga as ideias feitas, no que entendem como sendo "lógico" e no que lhes aparece como podendo desenhar-se como "óbvio". E se o que lhes é servido como verdade tem o condão de adubar sentimentos pré-existentes, então o processo de convicção pode dar-se como adquirido. Essa é a glória do criador da crença, para quem o supremo objetivo era construí-la, dá-la como evidência e vê-la partilhada, difundida e aceite como "a verdade".
Ingenuamente, pode argumentar-se que, para além da crença, há que ter em conta esse pormenor, quiçá marginal, que são os factos. E que, às vezes, os factos apontam, de forma cristalina, no sentido de infirmar, em absoluto, a crença entretanto estabelecida. Neste caso, "tant pis" para os factos. Se acaso eles não acompanham o rumo da crença, esta dispensa-os, por irrelevantes e incómodos. É dos livros. Pirandello dizia que "a cada um a sua verdade". É verdade, cada um fica na sua. Apesar da verdade, na verdade, ser só uma. E, às vezes, a crença nada ter a ver com ela. Mas que importa? As pessoas acreditam naquilo que querem acreditar.
15 comentários:
Ando-me a repetir: Passámos directamente da Idade Média em que o que interessava era a fé das pessoas e a obediência à hierarquia para o relativismo em que é tudo uma questão de opinião pessoal. Aquela parte do iluminismo e da eventual existência de uma realidade objectiva externa à nossa vontade passou-nos completamente despercebida.
Não sei se sou capaz de ser tão linear assim!...
Não sei se as pessoas acreditam, de facto, naquilo em que querem acreditar. As pessoas, se calhar - a esmagadora maioria delas - talvez não saibam por que acreditam no que supostamente vai alimentando as suas crenças.
Os sentimentos, como se fossem uma herança natural, são transmitidos e recolhidos como um testemunho vital. Não se cuida de lhes questionar os fundamentos e, depois, quem verdadeiramente se preocupa com essa coisa da "verdade"?!...
Aceleraram tanto a história nos anos 70 que agora, os progressistas de ontem podem ser os conservadores de hoje e as relíquias de amanhã. Quando for preciso decidir vai ser bonito,
Também se pode dizer: veritas filia temporis.
"Bem aventurados os pobres de espírito porque deles será o reino dos céus". Este sermão vai direitinho ao encontro desta "verdade".
Belo texto.
A verdade deste texto é que ele é a expressão da VERDADE do seu Autor.
Sim, as pessoas pulverizam a verdade através de "verdades".
Eu cá vou desvendado as minhas. Porém, nunca estou satisfeito.
A verdade é que eu nunca acredito nas verdades dos outros sem as neuro-inspeccionar por mim próprio.
Senhor Embaixador
Portugal é um país que se alimenta de rumores e estes alimentam-se de voyeurismos. No qual, aliás, uma parte de nós se tornou especialista.
Os instrumentos de trabalho desta parcela de nós são certos jornais, algumas revistas e a televisão.
Só se contraria este fado "usando bem" os mesmos instrumentos. Mas para isso é precisa outra revolução. Em especial na educação.
Obrigado pela excelente sugestão Helena Sacadura Cabral.
A EDUCAçÂO , eis o pior do nosso país.
Caro Seixas da Costa
Presumo saber o que o levou a escrever este texto, aliás magnífico. As canalhices e insinuações devem merecer de nós todo o desprezo em especial quando querem atingir pessoas dignas, como sei que você é.
Receba um abraço forte
Carlos SC
Senhor Embaixador
Dê um pulinho à minha casa.
Hoje falo do boato, com a mesma intenção do seu sermão dominical!
Enigma...
Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: Muito obrigado. Já tinha passado pelo Fio de Prumo e lido o seu oportuno post.
Cá por mim prefiro acreditar em factos. E esperar decisões em função desses factos. É a lógica do Direito. Tudo o resto é fantasia que não compro. Ser terra a terra. Determinação, coragem e objectividade também ajudam a conseguir decisões.
O problema é que na maioria dos casos se sonha, não se tem coragem (quando se tem razão) e falta determinação. Não será, seguramente, o meu caso.
E assim se enfrentam as dificuldades da vida com sereninadade e capacidade de lhes dar a volta.
Z (o autor deste excelente Blogue conhece-me bem, quanto mais não seja pelo...Z).
Abraço!
Ao Anónimo das 20.58: quem, por um segundo, se possa ter sentido tentado a acreditar numa inventona de A a Z, mesmo sob o pobre efeito do ódio, deve ter-se enganado ao escolher ler este blogue. Passe bem!
Resposta ao comentário do autor do Blogue, que não é para ser publicada, apenas para esclarecer: Ao que vejo houve aí algum equívoco. Ninguém, em momento nenhum, acreditou numa inventona, ninguém, em momento algum, imaginou que o Post lhe dizia respeito, fez-se apenas um comentário, sem qualquer intenção particular, nem atingir quem quer que seja. Muito menos se estava imbuído de ódio – como foi possível extrapolar a esse ponto! – sentimento condenável e que perturba o bom discernimento. E jamais se escolheria este Blogue para destilar ódios e discorrer sobre inventonas.
Houve aqui uma precipitação de análise do que se escreveu no comentário. Talvez até por minha culpa ao não ter percebido que o comentário no contexto do Post poderia ser mal interpretado. Mas, quem me conhece, deveria ter percebido que não sou capaz de inconveniências, de atitudes irreflectidas e inoportunas e muito menos de abusar de quem estimava.
Passemos pois ambos bem. Por mim, não tenho razões para fazer o contrário.
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