Os recentes atos eleitorais na Moldova e na Geórgia, independentemente de terem tido resultados oficiais que apontam em sentidos contrários, mostram que os eleitorados daquelas antigas repúblicas da União Soviética permanecem bastante divididos, isto é, que, independentemente da eventual vitória de uma linha, subsiste um forte movimento de opinião em favor da linha que se lhe opõe.
Em ambos os casos, o desfecho dos sufrágios permanece objeto de forte contestação. Em ambos os casos, há acusações de ingerência russa, em favor dos grupos políticos mais favoráveis a Moscovo. Em ambos os casos, o mundo ocidental é acusado de favorecer os partidos que combatem a influência da Rússia. Em ambos os casos, no exterior do país, cada um acredita apenas na palavra de quem está próximo dos projetos e das orientações políticas que são as suas. Em ambos os casos, porque se trata de democracias sobre cujo modo de funcionamento subsistem muito sérias dúvidas, a verdade é um bem difícil de apurar. Exceto para os que não têm dúvidas e são donos dessa mesma verdade, a qual, curiosamente, coincide exatamente com aquilo que pensam.
8 comentários:
há acusações de ingerência russa, em favor dos grupos políticos mais favoráveis a Moscovo
Mas também há certamente ingerência europeia em favor dos grupos políticos mais favoráveis a Bruxelas.
"cada um acredita em quem está próximo dos projetos e orientações políticas que são as suas."
Isso acontece (quase) sempre, incluindo em Portugal.
Há muito quem acredite no que lhe está ideologicamente mais próximo, não necessitando de provas nem de inquéritos nem de julgamentos.
Há muitos exemplos, alguns ridículos como o reconhecimento de Guaidó.
Zeca
No caso moldavo, vale a pena notar que os moldavos emigrados têm um direito de voto perfeitamente igual ao dos residentes no país. Há moldavos emigrados tanto na União Europeia como na Rússia, mas os primeiros são em maior número. Eles distorcem o voto dos moldavos residentes no país em favor da adesão à União Europeia.
Vale também a pena notar que é muito pouco próprio realizar-se simultâneamente, como se fez na Moldávia, uma eleição presidencial e um referendo sobre uma alteração à Constituição. E que também é muito pouco próprio que essa alteração à Constituição verse sobre a adesão à União Europeia.
Enfim, peculiaridades da democracia moldava sobre as quais valeria também a pena falar um pouco.
Tem razao, Senhor Embaixador ! Mas é preciso observar o jogo dos mixordeiros do costume.
Num exercício caracteristicamente descarado, Bruxelas denunciou "interferência e intimidação sem precedentes" por parte da Rússia durante o referendo para a incorporação da Moldávia na União Europeia
Na verdade, o referendo de domingo foi fraudado, mas do outro lado: promover a adesão à União. Europeia como um passo preliminar.
O governo fechou todos os canais de televisão da oposição, proibiu vários partidos e até pressionou Durov, dono do Telegram, para censurar os canais de parte da oposição. A votação foi muito renhida: 50,4% a favor da entrada contra 49,6% contra. Em termos absolutos, a diferença ronda os doze mil votos.
Nenhum dos lados assumiu a liderança até ao último minuto, quando se somaram os 180 mil votos dos moldavos que viviam na União Europeia. 90% deles votaram afirmativamente.
Mas vivem muito mais moldavos na Rússia do que na União Europeia, quase 40%, dos quais apenas 5% puderam votar.
A maioria não o conseguiu fazer porque o governo moldavo abriu apenas 2 assembleias de voto em Moscovo para 400.000 cidadãos moldavos que vivem na Rússia, em vez dos 17 anteriores.
Por outro lado, foram abertas 60 assembleias de voto em Itália, 26 na Alemanha, 20 em França, 17 no Reino Unido, 16 na Roménia, 16 nos Estados Unidos, 11 em Espanha, 10 na Irlanda e 6 em Portugal.
Isto faz-me pensar na "democràtica" América. Os negros representam 12% do eleitorado e inclinam-se para o campo democrata. As tentativas de desencorajar ou impedir o seu voto nunca cessaram desde a abolição da escravatura.
Secções de voto fechadas em bairros predominantemente negros no Kentucky, sistemas de votação electrónica deficientes na Geórgia, ex-prisioneiros impedidos de votar na Florida, cidadãos retirados dos cadernos eleitorais por não terem votado durante vários anos no Ohio… Complicar ou impedir o voto de milhões de eleitores faz parte da tradição eleitoral americana. Na Moldàvia jà copiaram o sistema...
A Moldávia é lenta e pacientemente absorvida pela Roménia. A maioria dos altos funcionários moldavos tem nacionalidade romena, o que seria inaceitável em qualquer país do mundo.
O Chefe de Estado, o Presidente do Parlamento, o Primeiro-Ministro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, a grande maioria dos ministros e deputados do partido no poder, a maior parte dos cargos de chefes de Estado, os ministros de Estado, os membros do Tribunal Constitucional, o chefe dos serviços secretos são romenos.
Para que a Roménia absorva a Moldávia, deve primeiro aderir à União Europeia, que é o passo anterior que deram no domingo com a fraude eleitoral.
Espertezas dum Ocidente onde os valores fundamentais têm grande flexibilidade...
Tudo gira em torno do controlo do mar Negro. O resto é propaganda.
No caso moldavo parece que há 300.000 emigrados na Rússia. Tiveram direito a duas mesas de voto. Mesas de voto que nesse dia, na Moldova, até tinham cortinas da cor da bandeira da UE.
É incrível como é que há gente que ainda concede à Rússia a presunção de inocência.
Boa explicação do Joaquim de Freitas. Já é habitual que os partidos pró-europeus não ganham dizem que as eleições são fraudulentas. Na Moldava antes de se conhecerem os resultados do estrangeiro já havia essa acusação porque a oposição estava à frente. Com a contagem mais tarde destes votos e a inversão dos vencedores logo a acusação foi esquecida. É na Venezuela, Moldava, Geórgia… Sempre a mesma lengalenga. Veremos nos EUA.
O comentário do seu leitor Joaquim de Freitas, muito bem estruturado e esclarecedor (como habitualmente) merece reflexão. Da minha parte, subscrevendo-o, evitarei alongar-me noutro. Está ali tudo dito, preto no branco (se é que hoje em dia se pode usar esta terminologia!). Entretanto, é curioso ler-se as reacções das “virgens ofendidas” deste Ocidente hipócrita, já a lançar dúvidas sobre os resultados (coadjuvados pela actual PR da Geórgia, ao que li hoje). Como não foram os resultados que gostariam que tivessem sido, ou seja uma votação pró-UE (e EUA/Nato), aqui d'el Rei que os Russos manipularam ou viciaram o resultado eleitoral. Uma tese ocidental que já fede! Assim sucede na Moldava e sucedeu na Venezuela (aqui ainda me recordo de um tosco MNE português, do anterior governo vir muito pimpão e irresponsavelmente apoiar o fantoche financiado pela CIA do Juan Guaidó!).
Entretanto, as mesmas “virgens ofendidas”, no seu já habitual cinismo ocidental, não se indignam com as atrocidades, crimes e genocídio praticado pelas bestas fascistas de Israel. Ainda hoje li que morreram umas 17 crianças (e outros tantos civis) em Gaza após um ataque a um edifício. A indiferença, perante isto e anteriores actos criminosos praticado por Israel, por parte da UE/EUA e restantes estados vassalos de Washington, deixa-me uma sensação de nojo e abjecção indescritíveis.
Voltando à Geórgia/Moldavia não me admiraria que a UE/EUA/RU, etc, viessem ainda a decidir-se por umas quaisquer medidas de retaliação se vingarem os resultados eleitorais mais próximos de Moscovo.
Termino fazendo uso de um comentário anterior, só alterando a palavra Rússia, por Sacrossanto Ocidente: “É incrível como é há gente que ainda concede ao Sacrossanto (cínico e hipócrita) Ocidente a presunção de inocência (em processos eleitorais e outros actos políticos)”.
a) P. Rufino
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