segunda-feira, outubro 21, 2024

Pensem!

Há várias maneiras de fazer alianças com a extrema-direita, tentando captar o seu eleitorado (perdido). Uma delas é copiar as suas ideias.

16 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

A questão é que muitas das ideias sempre por lá andaram, basta ver que o maior partido do de extrema direita se formou por desanexação do PSD.

Luís Lavoura disse...

Exatamente. Isso tem sido feito por essa Europa fora não somente por alguns partidos da direita moderada, como também por alguns partidos da esquerda moderada.

manuel campos disse...

Bastante na linha do que diz o Luís Lavoura já aqui falei há dias sobre a inevitabilidade dos partidos, tanto de direita moderada como de esquerda moderada (repito: "de esquerda") terem que
caminhar nesse sentido, de modo a abarcar eleitorados que já não se revêem de todo naquela dualidade política e muito menos no tipo de problemas que viveram e ainda ocupam as cabeças das gerações mais velhas (a minha à frente, claro).
Portanto eu não me precipitaria, não vou ser eu a atirar o que tem todo o aspecto de ser um boomerang a médio prazo.

Unknown disse...

A propósito vale a pena ver um programa emitido ontem, 21/10 na RTP3 intitulado Cidade Nazi sobre os anos 30 nos USA.

Joaquim de Freitas disse...

Luis Lavoura disse: "Isso tem sido feito por essa Europa for a não somente por alguns partidos da direita moderada, como também por alguns partidos da esquerda moderada". Exacto.
E porquê?

A ética da cupidez e da concorrência não assegura a harmonia social. Esta é garantida pela compra da opinião pública. O que significa a construção duma superstrutura de controlo ideológico. Significa condicionar o publico a adoptar os valores e os interesses da elite dirigente.
Quando existe a democracia sem justiça económica, tem-se a forma sem o conteúdo. No fundo é uma vigarice.
Existe a democracia política mas a democracia económica é rara. Existem as estruturas políticas da democracia mas elas vacilam sobre os fundamentos feitos de cláusulas de excepção, ditadas de Bruxelas.
Estas excepções limitam os progressos da democracia “de baixo”. Existe a democracia para alguns e a exclusão para todos os outros.
No capitalismo, a noção de propriedade apoia-se na exploração. Ela não é a garantia do bem-estar público, da harmonia e da segurança.

Temos eleitores sonâmbulos que noutros tempos se alinhavam atrás dos candidatos dos seus partidos. Um ex.: Nos EUA, republicanos na falsa direita e democratas na falsa esquerda.
A outra candidata, Harris, ela, compreendeu que o neo liberalismo é a ultima batalha para a hegemonia mundial do capitalismo internacional. Por isso ela é a candidata dos neo conservadores.

Nos EUA, um socialista ainda alinhou 12 milhões de simpatizantes, mas o multimilionário imobiliário, sem fé nem lei, alinhou 13,3 milhões, mas nenhum dos dois compreendeu a amplitude do problema do capitalismo mundial em crise que é a causa do regresso ao capitalismo rapace que apregoa o liberalismo. Veremos em Novembro, mas uma surpresa é possível.

(Em França, a mesma coisa. Estes eleitores sonâmbulos, subitamente acordam numa apatia, numa desordem, numa deboche e uma indisciplina incrível.
Constato simplesmente que , neste momento, a falsa direita e a falsa esquerda, preparam um exercício que pode ser fatal. A guilhotina do 49/3 já está preparada para cair sobre a democracia...)

Posso dizer que aqui também, a pobreza explode, e não é nada bom para os dirigentes futuros que os Franceses tenham vergonha do que pode advir: o fascismo espreita à porta das urnas!
Mas cuidado, porque em França não é os USA: A vergonha aqui pode ser uma emoção onde a consciência revolucionária acorda.


Receio que muitos cidadãos, em França como algures, votem sem ilusão, pelo “mal o menos”. Mais um empurrão e a extrema-direita chega ao Eliseu. Depois será a rua.

aguerreiro disse...

Quem primeiro usou esse truque foi a esquerda geringonça e, nada de novo aconteceu pois pelo que dizem está tudo muito mal a despeito das estradas estarem atulhadas de veículos, os festivais esgotados e os restaurantes sem mesa pois estão todas reservadas. Na política as queixas não passam de desabafos de barriga cheia. O "aero-om" diminui as flatulências aos da esquerda, centro e direita. É verdadeiramente democrático!

Anónimo disse...

Sinceramente, não vejo em que é que a AD copiou as ideias da extrema- esquerda. Desde quando é que afastar-se da cultura woke e das ideias delirantes da extrema-esquerda significa copiar as ideias da extrema-direita? E qual é o mal se a extrema-direita tiver razão num ou noutro ponto? Cheira-me, aliás, que o "copianço" vai continuar, sobretudo na justiça penal. E não vejo a hora.

Lúcio Ferro disse...

Parece-me que há um problema grave nas sociedadades Ocidentais que só o comentador Joaquim de Freitas atinge. É o enorme divórcio que há entre as elites bem pensantes (a comunicação social é disso exemplo perfeito) e os cidadãos comuns, que veem as suas vidas cada vez mais difíceis de gerir. Na sua maioria, os políticos lembram o Conde de Abranhos, de início entram cheios de boas intenções mas rapidamente percebem que têm de servir os seus mestres da alta finança. Por seu turno, esses detentores do poder vivem na sua larga maioria em casulos de uma riqueza tão extrema que não conseguem sentir qualquer empatia por todos os outros. Dou um exemplo: há uns anos passei um fim de semana numa das mais refinadas unidades hoteleiras do país. Alguns dos "hóspedes" chegavam de helicóptero. Na suite onde fiquei o quarto de banho tinha metade da área da minha casa. Isto diz tudo sobre este divórcio entre os que tudo têm e os que se levantam todos os dias às sete da manhã sempre com o garrote da terrível armadilha do capitalismo que é o crédito. Enquanto isso, vai-se vendendo que está tudo bem, nessa comunicação social asquerosa de precários semi analfabetos que tudo branqueia. Ora, as coisas não estão a correr bem. Veja-se o exemplo da imigração; vendem-nos que precisamos muito de hindostânicos e de brasileiros nordestinos, porque eles vêm fazer o trabalho que "os portugueses não querem fazer". Isso é falso, é uma mão de obra sem qualificações que faz trabalhos praticamente de borla. Qual é o português de gema que vai andar aí de bicicleta a correr imensos riscos para ganhar em média 3 euros à hora? Na verdade, isto aproveita aos que mandam, porque este influxo de estrangeiros nivela muito por baixo o salário de todos os outros. Ao invés de se perguntar porque é que andam aí uns malucos a clamar pelo nacionalismo e atacar os imigrantes dever-se-ia perguntar porque é que esses malucos têm tanto voto popular. Porque é muito bonito ir-se a restaurantes da moda, vestir fatos elegantes, passar fins de semana de luxo em hóteis da moda e depois dizer, ah, os fascismos, ah, os pobrezinhos dos imigrantes. As coisas não são assim. Estas pessoas que nos chegam e que aparentemente já são quase um milhão colocam problemas diários, sobretudo nas cidades de Lisboa e Porto, aos cidadãos portugueses comuns. E não vale a pena andar para aí a dizer que o Chega é isto ou é aquilo: o Chega, A Le Pen e os outros são um sintoma, não são o problema e quanto mais os problemas forem sistematicamente ignorados (vide a catástrofe do apoio à Ucrânia), pior. Depois, não se queixem, é a elite bem pensante que nos conduz a este estado de coisas, os fascismos não nascem de geração expontânea e a bem dizer o ultra-capitalismo nem sequer se dá muito mal com isso. Democracia? Democracia o tanas. Liberdade? Sem Igualdade, ou pelo menos sem um arremedo de Igualdade, não há, ponto.

manuel campos disse...

Tenho hoje um dia invulgarmente calmo (espero eu!) e aqui estou.
Li “aguerreiro” e está lá tudo, um dia da semana passada fui com minha mulher à CUFTejo e demorei 80 minutos para fazer 8 kms, o que dá uma magnífica média de 6 kms/hora, só possível porque andei melhor a partir de certa altura, demorei 40 minutos para fazer os primeiros 2 kms (dado que ando muito bem, se fosse sozinho teria deixado o carro algures, ido a pé e demorado pouco mais…).
Claro que chegámos atrasados, foram outros passando à frente.
Os restaurantes que estão sempre marcados são os caros, pois costumo almoçar ali na zona da Avenida da Liberdade e o “meu” de tipo familiar está dolorosamente cada vez mais vazio, foi de repente nos últimos meses.

Em vez de anunciar que vou fazer grandiloquentes discursos sobre o mundo que não pretendo salvar, já fico feliz por ajudar aqueles a quem posso chegar, sempre preferi contar histórias simples para introduzir os temas.
É um estilo tão parvo como qualquer outro, mas eu reconheço isso.

Trabalhei numa empresa no princípio da minha vida profissional que tinha uma ou outra fábrica espalhada pelo país.
Ao princípio de lá estar corria por lá uma história edificante que me chegou via um veterano da casa, só por aqui se vê há quantos anos foi, pois eu já era veterano de todas as casas por onde passei há uns 30 anos atrás pelo menos.
A certa altura na sede da empresa em Lisboa foi recebido um telegrama urgente do director local de uma dessas empresas, foi há tantos anos que ainda o fax não existia (o fax só começou a ser utilizado em larga escala no início dos anos 70).
A fábrica tinha uma chaminé e as chaminés fabris à época eram de tijolo, pormenor que não me parece despiciendo aqui trazer, estas coisas esquecem muito.
Pois a estrutura da chaminé tinha começado a dar problemas e começaram por uns telefonemas para a sede, ninguém ligou muito.
Depois enviaram umas cartas, ninguém ligou muito.
Finalmente um primeiro telegrama e aí ligaram, responderam em solene carta que não havia verba disponível para a reparação pelo que a chaminé teria que se aguentar como estava (muitas vezes punham-se umas “cintas” metálicas, mas só atamancava por uns tempitos).
Passados dois meses a empresa-mãe recebeu um telegrama nestes termos “Li V. carta à chaminé. Stop. Chaminé não ligou nada. Stop. Caiu ontem. Stop. Cumprimentos”.
É esta a sensação com que fico sempre ao ler teorias que na prática são outras.

Anónimo disse...

Gostei do comentário de Lúcio Ferro.

Luís Lavoura disse...

Lúcio Ferro

é uma mão de obra sem qualificações que faz trabalhos praticamente de borla

Você não tem razão. Atualmente praticamente não há desemprego entre os portugueses. Os imigrantes fazem trabalhos que ainda há a mais e que os portugueses não estão dispostos a fazer.
Se houvesse desemprego entre os portugueses, o Lúcio Ferro poderia ter razão. Mas, como não há, não tem.
É claro que, se muitos portugueses não desempenham os trabalhos que os imigrantes desempenham, isso é porque não estão dispostos a viver nas mesmas condições deles - separados das famílias, apinhados em camaratas, etc. Não é propriamente por o salário ser baixo, mas por as condições de habitação serem muito más.
Mesmo na terra do meu pai, longe de Lisboa, atualmente grande parte dos operários industriais são imigrantes. Já nem para isso (a ganhar o salário mínimo) se arranja portugueses.

Lúcio Ferro disse...

Luís, em agosto de 2024 a taxa de desemprego, números oficiais, estava em 6,4%. Embora tal seja realmente positivo é importante ter em linha de conta o trabalho sazonal e os números de desempregados não declarados. Também será necessário ver as remunerações médias. De qualquer modo, não vejo em que é que mão de obra sem quaisquer habilitações, muitas vezes sem falar a nossa língua e com hábitos culturais muito distintos acrescenta à qualidade de vida de todos.

Luís Lavoura disse...

Lucio Ferro

não vejo em que é que mão de obra sem quaisquer habilitações, muitas vezes sem falar a nossa língua e com hábitos culturais muito distintos acrescenta à qualidade de vida de todos

Os trabalhadores industriais nem sempre precisam de ter muitas qualificações. Eu tenho primos que são trabalhadores industriais e sei bem que as qualificações com que começaram a sê-lo eram bem poucas (entretanto, pelo menos já ganharam experiência).
Os distribuidores de comida, os trabalhadores nos restaurantes, etc também não precisam de muitas qualificações, mas sem dúvida que acrescentam ao bem-estar de quem consome essa comida.
Quando ao desemprego oficial ser 6%, é como eu digo: devido à dificuldade em se movimentar e em arranjar habitação condigna dentro do território, há muita gente que prefere estar desempregada, digamos, em Viseu do que trabalhar em Odemira, ou estar desempregada em Beja do que trabalhar em Lisboa. Os imigrantes, que aceitam dormir em camaratas, servem em boa parte para colmatar essas indisponibilidades.

Anónimo disse...

Como se responde às insatisfações e aos insatisfeitos em democracia?
Fazendo de conta que não existem?
Amanhar tudo num embrulho e colocar rótulo depreciativo?
Segregar ou ostracizá-los?

Nas ditaduras sabemos bem como é; repressão, centros de reeducação, quedas de varandas, prisão, tortura, etc.!

Carneiro

Anónimo disse...

Acho que vários dos leitores / comentadores já mencionaram vários dos pontos que me parecem relevantes na discussão suscitada pelo postal do Sr. Embaixador. A transformação de Portugal em país de imigração é uma mudança que exige reflexão, aprendendo com o que se passou noutros países. O afluxo importante e num curto período de tempo de comunidades provenientes de países com diferenças socio-culturais muito marcadas coloca desafios ao país de acolhimento que não podem ser ignorados. A marginalização destas comunidades, remetendo-as a um gueto tem consequências políticas a médio e longo prazo que eu qualificaria de catastróficas como a instituição duma espécie de apartheid. Comunidades fechadas sobre si próprias que quase nada partilham no quotidiano. Vi (e de certa forma vivi) isto em vários países onde morei e o resultado não é bonito.

Na realidade o modelo económico que tem vindo a ser promovido e que esvaziou as empresas duma real noção de responsabilidade social (essa coisa do ESG é conversa para boi dormir) tem promovido o lucro imediato e o enriquecimento rápido acima de tudo. É isto que explica os salários absurdos dos gestores de topo e por contraste os baixos salários e as deploráveis condições de trabalho da base da pirâmide (que muitas vezes nem sequer são funcionários da empresa). Para viabilizar este modelo é necessário criar um "exército de desempregados" que esteja à mercê da discricionariedade e arbitrariedade. É aqui que entra a imigração quase indiscriminada a que temos assistido nos últimos anos. Pessoas que muitas vezes são abandonadas sem apoio das autoridades do país de acolhimento (veja-se o que se passa com a AIMA e anteriormente com o SEF), ficam à mercê dos engajadores e a perspectiva de uma real integração e assimilação na cultura do país é seriamente comprometida (às vezes de forma definitiva).

Há um problema de base com a estratégia da esquerda nas ultimas décadas. Abandonou em grande medida a centralidade da discussão sobre as questões económicas e sociais e dispersou-se na defesa de causas fracturantes que nalguns casos estão longe de reunir um apoio alargado. Eu não contesto as questões da não discriminação de ninguém em função da sua orientação sexual mas fico perplexo com o proselitismo adoptado por alguns grupos e associações que parecem confundir a luta pela não discriminação com uma promoção das suas escolhas. O sucesso do RN (o partido da Sra Le Pen) nos antigos bastiões da esquerda comunista deveria fazer reflectir as pessoas de esquerda. Não basta repetir os slogans sobre a ameaça da extrema direita e ignorar os desafios dum modelo social que tem vindo a promover a ideia de que somos todos "empreendedores" e podemos nos transformar em casos de sucesso com as bitcoins, ume empresa de entregas ao domicílio, ou alugando ALs aos turistas de ocasião.

São só algumas ideias - o assunto é demasiado sério e complexo para ter respostas simplistas e redutoras. É preciso estudar, falar com as pessoas e evitar as reações tipo reflexo condicionado ...

Carlos disse...

O "anónimo" do comentário acima sobre os desafios da imigração sou eu

25 de novembro