O "Le Monde" com data de amanhã traz um impressionante retrato do desastre ecológico resultante da destruição da barragem de Kakhovka. A ser verdade o que ali se escreve, estamos perante ums catástrofe da maior gravidade.
Na análise da imprensa europeia e norte-americana mais responsável e menos vocacionada para o "jornalismo afetivo", denota-se algum cuidado na atribuição definitiva sobre a responsabilidade do desastre, com base na ideia de que, aparentemente, ninguém ganhará com ele e, pelo contrário, ambos os lados parece irem ser prejudicados.
Não obstante, uma tendência maioritária aponta o dedo a Moscovo, tanto mais que, desde o início desta guerra, se viu surgir, de quando em quando, desse lado, alguma retórica, embora não oficial, em torno da possível utilização da destruição da barragem como elemento dificultador da manobra ucraniana de recuperação dos territórios situados a sul do Dniepre.
Além disso, não parece plausível que Kiev, apenas com o objetivo de poder vir a acusar a Rússia, se arriscasse a desencadear uma operação de "falsa bandeira" com um custo nacional tão elevado. Se acaso a imagem de Moscovo não estivesse tão degradada, isso teria algum sentido, para contra ela mobilizar alguma opinião pública internacional. No atual "estado da arte", não será a responsabilização russa por mais esta ação de destruição que vai mudar o equilíbrio mundial de simpatias nesta guerra.
4 comentários:
"Destruição da barragem de Kakhovka: a agricultura no sul da Ucrânia está novamente ameaçada". Preocupante.
Nos tempos em que estudei Ecologia, considerava-se "desastre ecológico" a construção de uma barragem, não a ocorrência de uma cheia. Ribeiro Teles costumava dar o exemplo doméstico das barragens do Tejo, por privarem a lezíria dos sedimentos trazidos pelas cheias periódicas, que asseguravam a reposição do fundo de fertilidade das terras de cultivo, entre outros benefícios. Afinal o homem estava errado, sabe-se agora. "Desastre Ecológico" é a inundação de urbanizações e parques industriais construídos em leito de cheia. Errados estavam também os antigos egípcios, que em lugar de construir Assuam erguiam pirâmides, aproveitando os benefícios das cheias do Nilo para alimentar a maralha. Enfim, sinais dos tempos e das novas erudições.
MRocha
denota-se algum cuidado na atribuição definitiva sobre a responsabilidade do desastre, com base na ideia de que, aparentemente, ninguém ganhará com ele e, pelo contrário, ambos os lados parece irem ser prejudicados
Exatamente com base nesta ideia, a mim parece-me que o autor da destruição foi um terceiro, provavelmente os serviços secretos de algum país como os EUA ou o RU. Tal e qual como a destruição do Nord Stream.
Se os ucranianos poderiam ter operado a destruição, então com toda a probabilidade uns serviços secretos ocidentais, operando a partir da Ucrânia, também poderiam.
Pé ante pé, a guerra vai entrando pela Rússia. As armas cedidas à Ucrânia são cada vez mais destruidoras.
Escondemos, atrás das costas, o Nord Stream, o gasoduto de amoníaco, a central nuclear, agora a barragem.
Proíbem-se, dificultam-se ou ridicularizam-se outras vozes que não as do consenso que permita, politicamente, gerar o desastre.
Já aconteceu anteriormente, demasiadas vezes para nos deixarmos enganar.
Provocámos o disparate e o disparate aconteceu. Agora, com base nisso, validamos a tragédia.
Claro que temos razão e, no entanto, ...
Entretanto, a Europa vai esmaecendo e, à semelhança do que aconteceu com a Jugoslávia e com o Norte de África, mantemo-nos, voluntariamente, impotentes para parar este inevitável caminho para o desastre.
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