segunda-feira, fevereiro 15, 2021

A Ajuda, Trotsky e o “Expresso”


Parece que já muito pouca gente se lembra da “pouca vergonha” que era a entrada traseira do Palácio da Ajuda, aquela chaga sinistra num edifício com alguma dignidade, mas que, à moda de Santa Engrácia, ficou incompleto mais de dois séculos. Mas, para que isso se atenue, vou deixar aqui uma retrato desses tempos.

Recordo-me de discussões, nos anos 80 e 90, sobre a necessidade de pôr cobro àquela indignidade, como tenho ideia de outros projetos surgidos, e nunca levados à prática, que foram engrossar a imensa torre do tombo onde foram têm sido arquivadas ideias arquitetónicas que nunca disso passaram.

Nos anos em que Luís Castro Mendes foi ministro da Cultura de António Costa, a ideia de “fechar” aquele espaço, com uma obra de novo estilo, foi retomada.

Saudei-a, com sincero entusiasmo, por aqui. Brinquei então com o facto de que o ministro poderia ficar “na História” se conseguisse lançar as bases da conclusão do palácio. E ele conseguiu.

Um dia, com a pompa republicana e os capacetes de segurança da praxe, lá vi Castro Mendes e Fernando Medina arrancarem com a obra - a qual, para surpresa de muitos, avançou mesmo e, ao que parece, vai agora concluir-se.

Castro Mendes, entretanto, deixou o governo, mas a obra que lançou, e cuja iniciativa promoveu, ali está e vai ficar, à vista de todos.

O “Expresso” publicou, entretanto, um longo texto sobre a obra. Mas aí consegue, voluntária ou involuntariamente, com a capacidade de ilusão de um Luís de Matos, retirar Castro Mendes da "fotografia". Terá sido deliberado? Nem quero crer!

Quem há muito conhece Luís Castro Mendes, como é o meu caso, sabe que ele andou, em tempos, nas bordas do “trotskismo”, essa doutrina persistente que sempre me surge, bem vincada na cabeça, quando dou por mim a partir gelo com um martelo.

Ora sabe-se que Trotsky foi, militantemente, "apagado" das fotografias históricas por Stalin, seguramente por tricas bolchevistas de alcova, que não vêm aqui para o caso. Houve mesmo um tal Mercader que se meteu ao barulho.

Não se suspeitava, no entanto, é que o “Expresso” pudesse sofrer, nos dias de hoje, de uma qualquer deriva estalinista, anti-trotskista, disso resultando o "apagamento" de Castro Mendes da fotografia das obras do Palácio da Ajuda.

Não excluo, repito, que possa ter-se tratado apenas de um erro pontual. Mas, a sê-lo, e sendo os factos o que são, não ficaria mal ao “Expresso” reconhecê-lo.



12 comentários:

Luís Lavoura disse...

Ainda bem que concluíram o palácio. Mas pergunto: e agora, para que irá aquele edifício tão grande - e, por isso, dispendioso de manter - servir?

Portugalredecouvertes disse...

Todos devemos ficar felizes com essa obra que dá dignidade ao monumento e ao país

Francisco Seixas da Costa disse...

Luís Lavoura deveria saber que, no Palácio da Ajuda, funcionam várias estruturas e que o espaço está hoje completamente cheio. Não se entende, assim, a sua observação.

Luís Lavoura disse...

Francisco

Luís Lavoura deveria saber

Eu deveria saber? Por que raio deveria eu saber? Tenho alguma obrigação de saber tudo o que funciona em cada sítio? Não sei o que funciona no Palácio da Ajuda.

Francisco Seixas da Costa disse...

Luis Lavoura. Sabe ir ao Google? Se anda por aqui, presume- se que sim. Uma coisa é não saber o que há no Palácio da Ajuda - um importante museu, o Ministério da Cultura, o Património Cultural, etc - outra é, desculpe lá, ter a lata de escrever “ para que irá aquele edifício tão grande - e, por isso, dispendioso de manter - servir?”

caramelo disse...

Se eu fosse o Luís Lavoura responderia: "Mas eu tenho lá obrigação de saber o que é o google? Porque raio deveria eu saber o que é o google?"

Eu confesso que venho aqui frequentemente para ler os comentários do Luís Lavoura ;)

JPGarcia disse...

Caro Francisco,

Se não fosse o Luís Castro Mendes não se tinha feito a obra. Merece todos os elogios, e uma condecoração quando for inaugurada por quem lhe sucedeu. Até hoje, acho que a sua saída do MC foi injusta, mesmo sem ter em conta a incompetência relativa e absoluta de quem lhe sucedeu.

Um abraço

JPGarcia

Raizes disse...

Basta para conhecer o Palácio da Ajuda ver este texto da wikipedia https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_Nacional_da_A Mais um importante museu, que visitei muitas vezes, além das exposições temporárias E ali funciona o Ministério da Cultura. Um abraço Maria Silva

hmj disse...

É pena que não se tenham lembrado também da excelente Biblioteca da Ajuda, tanto pelo seu acervo como pelo próprio espaço.

José Figueiredo disse...

Embaixador Seixas da Costa,
Quando for oportuno desenvolva lá isso do "seguramente por tricas bolchevistas de alcova".
Ok?!...
José Figueiredo

Obelix disse...

Mas no Expresso alguma coisa acontece por acaso ?

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Já diz a tia Margaridinha Rebelo Pinto: "Não há coincidências!"
A obra está supimpa.
Um grande louvor a Luís Castro Mendes.

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