segunda-feira, janeiro 06, 2020

Vaticanologia


Nunca tive grande interesse pelas cenas da vida do Vaticano, pelas suas intrigas e, muito particularmente, pelas confabulações sobre o processo de seleção dos papas. Como ateu, não acreditando, naturalmente, na ideia da intervenção divina a influenciar o sentido do voto cardinalício, olho sempre a escolha de cada chefe de Estado da Santa Sé como uma cuidadosa e ponderada decisão, feita pelo serralho dessa instituição espiritual multinacional, com vista a encontrar o homem mais adequado para ir prolongando, com eficácia, o respetivo sistema. Umas vezes, a escolha vai num sentido, outras vezes noutro, de acordo com “l’air du temps”. Às vezes resulta, outras vezes não.

Escrevo isto com o maior respeito, não apenas pelo papel histórico da instituição, mas igualmente pelos seus fiéis, que se lhe entregam com toda a confiança e fidelidade. Os muitos erros que em nome da Igreja Católica têm sido praticados ao longo dos séculos não devem fazer esquecer - em especial, aos ateus, como eu sempre fui - o património de valores morais e sociais positivos que ela encerra e que formatam as consciências dos povos, muito para além dos seus crentes.

É neste contexto de assumida distância para com aquela realidade que não posso deixar de recomendar o filme “Os dois papas”, que ontem vi na Netflix, com imenso agrado. É uma obra que, sendo claramente apologética e que se pretende simpática para a instituição papal, nos traz uma curiosa versão (porque é de ficção que estamos a falar) da relação entre os dois últimos papas, ao mesmo tempo divertida, bem construída e magistralmente interpretada.

2 comentários:

jj.amarante disse...

Fiquei na dúvida sobre o significado da palavra "serralho" usada para referir o conclave (reunião literalmente fechada à chave) cardinalício. Normalmente "serralho" aplica-se a conjuntos de mulheres que ocorrem em diversas instituições. Será que "serralho" aqui é usado no sentido de cerrado, fechado à chave como os haréns dos sultões? Seria melhor usar a palavra conclave que é mais adequada pois não tem sentido parecido a harém que é aqui um factor de distracção

Anónimo disse...

Bom dia de Reis

Gostei muito do filme. Alem de 1 bom realizador que e Fernando Meirelles tem dois magnificos actores Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, por coincidencia ou nao ambos nascidos no pais de Gales.
Saudades
F. Crabtree

Vou ler isto outra vez...