sexta-feira, janeiro 31, 2020

As cidades sob a chuva


Se não me engano, aqui por Lisboa, ao longo de todo o dia que agora acabou, não parou praticamente de chover, numas horas mais, noutras menos, às vezes uma chuva miudinha, outras apenas “de molhar tolos”. Como foi o meu caso...

Em geral, não gosto de Lisboa com chuva. Lisboa é uma cidade que rima mais com o sol. Já o Porto, pelo contrário, tem uma beleza muito rara quando chove. Por isso, nunca concordei com a “tese” geral daquele poema de Manuel Alegre de que “são tristes as cidades sob a chuva”. Há de tudo, há cidades bem alegres sob a chuva.

Tudo isto para chegar a Londres, a cidade que amanhã se despede da União Europeia, embora os cidadãos dessa cidade - aliás, como os de Manchester, de Liverpool, de Brighton, de Leeds, de York, de Edimburgo, de Glasgow, de Cardiff, de Bristol ou de Belfast - tenham votado maioritariamente para continuar no clube europeu. 

Não sei se amanhã vai chover em Londres, mas, mesmo que assim aconteça, é bom que se note que a capital britânica é das mais belas cidades do mundo precisamente quando chove. E nunca é uma cidade triste. Ou talvez o seja, amanhã.

9 comentários:

Anónimo disse...

"Il pleuvait sur Brest Barbara"...

Saudades

F. Crabtree

Luís Lavoura disse...

Em Lisboa não choveu nada ontem, Francisco. Morrinhou, que é uma coisa diferente.
Não é chuva, é morrinha. Ou morriña, como se escreve na Galiza.

Anónimo disse...

Eu acho que Londres é deprimente, enfadonha, faça sol ou chuva. Londres é uma cidade de interiores. As pessoas vão a Londres para se meterem nos teatros, no museu britânico, parlamento, bibliotecas, etc. Nisso é insuperável. Paris, sim, é a gloria e o esplendor dos espaços públicos e da arquitetura, com sol ou chuva. O Porto tem aquela aura romântica, nos edifícios e praças, muito camiliana, que é realçada pela chuva. É o caráter que Lisboa não tem. Não desfazendo do tão cantado céu de Lisboa, claro.

Luís Lavoura disse...

Anónimo das 10:54

Excelente comentário. Tendo a concordar com tudo.

Anónimo disse...

Obrigado, amigo Lavoura. Eu vivi três anos em Londres. Ao fim do dia, estava mortinho para chegar ao quarto. Ao fim de um mês, estava mortinho para voltar para a terrinha. Eu estou convencido que os próprios londrinos se metem todos nos parques, ao fim de semana, para não ver Londres. Não é uma cidade para passear. Muito menos com chuva, minha nossa senhora. Aquilo parece que está cheio de prédios de tijolo vermelho, todos iguais. Não deve haver cidade do mundo com arquitetura mais aborrecida. Um dia, um inglês famoso, de que não lembro o nome, mas que devia ser um daqueles que vivia no sul de França, disse que qualquer inglês daria a vida por Inglaterra, mas não o obriguem a viver em Inglaterra ;)

Anónimo disse...

Sem querer abusar da paciência do nosso anfitrião, diga mais uma coisinha. Quando fui a Paris entretive-me a fazer o roteiro dos policiais do Simenon, os do Maigret, começando pelo Quai des Orfévres, claro, o quartel general da Judiciária do sítio e passando pelo Boulevard Richard-Lenoir, onde o comissário vivia com a esposa fiel e um longo etc. Isto para além dos cafés, aqueles onde parava tout le monde que interessava. Parece-me que Paris, em geral, as suas ruas e praças, eram um cenário natural de literatura. Suponho que em Londres também se pode fazer roteiros geográficos literários. Mas não conheço muita literatura que tenha como cenário as ruas de Londres. Mas isto deve ser defeito meu. A impressão que me dá é que se passava tudo dentro de portas, por causa do frio e da chuva. Passei por Whitechapel, mas aquilo já não tem nada a ver com o cenário do Jack o Estripador, quando ele por lá andava a fazer das suas ;)

Paulo Guerra disse...

O que se está a passar em Inglaterra não é muito diferente do que se passa em muitos países europeus. Ou por outras palavras, a fúria de muitos europeus tem ao fim e ao cabo a mesma explicação. Ainda consequências da grande crise económica que nunca mais param de se fazer sentir, por sua vez, filha da sempre crescente liberalização dos mercados. E nem sequer são originais na tentativa de consertarem o mal com mais mal. Passa-se exactamente o mesmo com o actual ideário de todas as forças políticas de direita em Portugal.

Joaquim de Freitas disse...

Oh, esqueceram as « Vespasianas » de Paris, as mais recentes, que em Londres não têm “droit de cité”!

Onde existe uma cidade onde os cavalheiros “apressados”, já a “desabotoar “ o fecho ainda no passeio, encontram aquelas “pissotières” de Anne Hidalgo, vermelhinhas, (ela é de esquerda, que diabo!) colocadas em sítios estratégicos, que permitem de varrer do olhar o panorama florido do Sena e a Catedral de Notre Dame, (antes do incêndio!), esvaziando a bexiga em toda legalidade…em vez de se apoiar a uma árvore como vi em Hyde Park…

Instalados em “jardineiras”, estes WC de exterior são garantidos sem refluxo e transformam a urina em composta. E evitam aqueles odores que nos perseguiam nos outros urinóis “clássicos” nas ruas de Paris. E como são individuais, evitam também os indiscretos ….que têm a mania de comparar tudo …

Claro, mais uma vez, as senhoras foram esquecidas…é só para cavalheiros !

“It’s better to be pissed off rather than to be pissed on…”
Imagino o que diria Vespasiano, se os visse, os urinóis panorâmicos de Paris…

dor em baixa disse...

Fui a Londres uma vez e nunca mais. Não vi ponta de urbanismo e que possibilidades teve depois do grande incêndio de 1666. Dizem-me que não era possível, que o industrialismo fazia a cidade crescer e alterar-se mais depressa do que qualquer plano permitia. Christopher Wren ainda tentou mas não conseguiu.

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