Fernando Teixeira dos Santos recebeu hoje, no dia de Portugal, a grã-cruz da Ordem militar de Cristo.
À direita, alguns sobrolhos cerrarram-se por ver atribuída ao antigo ministro das Finanças dos governos de José Sócrates a mais alta distinção que o Estado tem para os que melhor serviram o país. À esquerda, soaram vozes contrárias a que Teixeira dos Santos tivesse aceitado esta condecoração pelas mãos do presidente que mais combateu o governo a que pertenceu.
Sou amigo e colega de Fernando Teixeira dos Santos, pelo que não sou independente nesta minha análise. Com ele partilhei, durante cinco anos e meio, a participação em dois outros governos. Porque esse foi um importante tempo europeu, que determinou a entrada de Portugal no euro, colaborámos então muito de perto, pelo que tive o ensejo de o conhecer bem. Em todo esse tempo, para além de uma sólida amizade, criei por ele um fortíssimo respeito, político e técnico, que me leva a considerar justíssima - e apenas tardia - a dintinção que lhe foi atribuída.
Sabe-se hoje bem que, na fase final do anterior governo, as posições de José Sócrates e de Teixeira dos Santos não coincidiram. Essa divergência assumiu particular expressão aquando da decisão que acabou por conduzir à entrada da "troika" em Portugal. Porém, no essencial, e como hoje Teixeira dos Santos uma vez mais confirmou, ambos coincidiram sempre na avaliação de que, se acaso o plano financeiro já acordado com os parceiros europeus não tivesse sido derrotado na Assembleia da República, talvez o "resgate" pudesse ter sido evitado, tal como acabou por suceder com a Espanha. As coisas não se passaram assim, pelo que especular agora sobre elas é, como se diz na minha terra, "chover no molhado".