quarta-feira, maio 20, 2015

"Observador"


Faz agora um ano que um grupo de investidores criou o "Observador". Trata-se do primeiro jornal informático em Portugal de acesso aberto, que reproduz, sem o copiar, o espanhol "El Confidencial". O projeto, dirigido por David Dinis e José Manuel Fernandes, tem real qualidade e, na minha opinião, tem vindo a melhorar como produto jornalístico.

A coluna de opinião do "Observador" foi, desde o primeiro momento, a sua marca de identidade. Um sintomático artigo ontem nela publicado por Maria João Avillez revela isso de uma forma quase incauta: trata-se de um projeto destinado a dar direito de cidade às várias direitas que aí andam pela praça pública, parte delas sempre um pouco "mal à l'aise" com o estigma da velha ditadura a que alguma esquerda teima em colá-las. Nele se acolhem alguns notórios "arrependidos" (a começar por José Manuel Fernandes e Manuel Vilaverde Cabral) até ao conservadorismo bloguista (os blogues estão hoje a ficar fora de moda), onde as escolas ideológicas da Universidade Católica, do Compromisso Portugal e da velha revista Atlântico estão também fortemente presentes. Na economia como nas coisas da vida, o "Observador" hesita entre correntes liberais (da escola de Chicago a uma linha mais tocada pela democracia cristã) até perspetivas da direita mais radical, tendo dele praticamente desaparecido qualquer matriz social-democrata.

Para mim, leitor atento e regular, não tenho a menor dúvida, identificando bem os financiadores do projeto: a criação do "Observador" teve como objetivo, a montante do que previam ser o risco do fim deste ciclo de tomada do poder pela direita (governo e Presidência), apoiado na oportuna ideologia da "troika", tentar captar politicamente um "novo" Portugal, da casa dos 30 e 40 anos, que aí anda com maior frequência das redes sociais e dos meios informáticos. No fundo: tentar evitar que a esquerda possa vir a ganhar as ocasiões eleitorais de 2015 e 2016. Nada que seja ilegítimo em democracia, diga-se, desde já.

Devo dizer que considero saudável que a direita, em democracia, explicite de cara aberta (ia dizer "de cara ao sol", mas os meus amigos de direita chamar-me-iam provocador) as suas ambições e os seus reais desígnios. Isso é preferível a uma ínvia cultura ideológica que só se qualifica por contraponto, uma espécie de envergonhada "não esquerda", temerosa de assumir o rótulo. Porque acho isso? Porque, nas batalhas, facilita o combate ver os adversários bem de frente.

17 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo,

"Trata-se do primeiro jornal informático em Portugal de acesso aberto".

Então e o Diário Digital do Luís Delgado?
E o Jornal de Negócios, que se iniciou como Canal de Negócios ainda antes da sua versão em papel?

O observador é um projecto extremamente interessante, mas longe de ser o primeiro.

Abraços,
- Miguel Albano

Anónimo disse...

Não deixa de ser um blog. Parece mas não é um jornal. Se fosse um jornal pedia pagamento para continuar. Pouco lá vou mas a ideia que tenho é que é entrar e comer.

De resto parece uma pensão que tem como target a direita que se identifica com o actual PSD. É um projecto de combate, não de jornalismo; este é apenas o pretexto e a máscara.

Anónimo disse...

Pode dizer "de cara ao sol" à vontade, caro Embaixador. Adiante, senhor, adiante.

Olhe, cante comigo.

Caaara al sol con la camisa nueeevaaa!
Que túú bordaste de rojo ayer.
Me hallará la muerte si me lleva
Y no te vuelvo a ver

Adiante, senhor Embaixador, não se acanhe. Mostre-nos os seus dotes cançonetistas. Não lhe caem os parentes na lama por cantar o "Cara al Sol" ou o "Oriamendi".

Anónimo disse...

Que aborrecimento, o "Observador" !

É impossível "rosá-lo".

Deixe lá , ainda tem o "Expresso" do Zé Dolaço e do Costinha....., muito "espartilhados"-ao-tempo-do uso-dos espartilhos-das-madames-do-séc XIX, onde muito dos fieis-amigos-rosas, vagueiam.....

Uva Passa disse...

Aquela pretensão abusadora de tentativa de criação da 'Nova Constituição' é absolutamente assustadora. Fui lá ver e nunca mais lá entrei. Cruzes canhoto.

Unknown disse...

Há quarenta anos que eu acho que dividir os cidadãos em esquerda e direita é errado e retrogado.
Cada vez me convenço mais que até atinge as raias do ridiculo e até negado pelos factos reais.
Quando vejo articulistas associarem a violencia dos holigans para culparem o Cavaco ou o Passos percebo que tenho razão em afirmar que é ridicula essa velha pratica das trincheiras..

ignatz disse...

um projecto da direita branca com colaboracionismo de um amarelo de esquerda.

Anónimo disse...

Que conversa da treta! Tipo politicamente correcto! Fogo, não há pachorra, meu! Observador? Mande-o ás urtigas! Chiça! Que enfado!

Francisco Seixas da Costa disse...

O Anónimo das 22.52 gosta de linguagem caceteira. Eu não.

Anónimo disse...

Desde da ridícula trapassa das escutas que o jornal cujo diretor JMF alimentou, deixei de o comprar. Fiquei vacinado de tal senhor. Nem de borla!!

Anónimo disse...

Gosto muito. O textos são bem escritos e os faits diversos são deliciosos. Nem LIGO à política.

Joaquim de Freitas disse...

Zuricher parece apreciar "cara al sol"! Nostalgia, nostalgie !


O hino sucessor das canções fascistas e nazis da falange, faz-me sempre pensar em Federico Garcia Llorca, assassinado , enquanto que os borregos cantavam "cara al sol"!

Assassinado, porque Garcia Llorca tinha escrito, entre outros :

On m’affirmait :
” Partout où les cités de vapeurs s’enveloppent,
Où l’homme dans l’effort s’exalte et se complaît,
Bat le coeur fraternel d’une plus haute Europe.
De la Sambre à la Ruhr, de la Ruhr à l’Oural,
Et d’Allemagne en France et de France en Espagne
L’ample entente disperse un grand souffle auroral
Qui va de ville en plaine et de plaine en montagne.


Eux qui l’avaient proscrite, accueillirent la guerre.
La vieille mort casquée, atroce, autoritaire,
Sortit de sa caserne avec son linceul blanc,
Pour en traîner l’horreur sur les pays sanglants.
Son ombre s’allongea sur les villes en flammes,
Le monde se fit honte et tua la grande âme

Anónimo disse...

O Sr. Embaixador, como antigo militar da acção psicológica, mantém fresco o que deve ter aprendido. Conseguiu tornar um texto sobre um jornal online "de direita", em mais uma oportunidade para colar quem de direita se afirma a fascistas e ditaduras.

Brilhante! Simples e previsível, mas eficaz. Como quem não quer a coisa, já etiquetou os mafarricos e lava daí as suas mãos porque quem faz o serviço são os outros...


Catinga (sem paciência para fazer login).

Anónimo disse...

E o Freitas que não se armasse...

Anónimo disse...

As "uvas" sixtieespop, no passaran.....

Francisco Seixas da Costa disse...

É muito interessante como um texto é lido, dependendo dos "óculos" ideológico de cada um. Neste blogue e no Facebook pode encontrar-se tudo: desde os que acham que, "vermelhusco", chamei "fascista" ao "Observador", aos que entendem que, "colaboracionista", lhe dei uma mão simpática. Não há nada a fazer, ou melhor, há: continuar a dizer aquilo que penso

Anónimo disse...

Eu não considero nada saudável que velhos cúmplices dos teas partys e do estado de morte e sangue a que o mundo chegou arranjem sempre quem os financie.

Tanto mais quando se os que avisaram para o que aí vinham, morrem acantonados sem que os pluralistas carrapatosos desta vida lhes financiem os projectos.

A esquerda, mesmo a central, como Seixas da Costa, Daniel Oliveira, Araújo Pereira, tem sempre uma palavrinha para os projectos de poder e hegemonia da direita, convivem-os, convidam-os.

Já a recíproca, quando muito dá assento a uma ou outra andorinha entre o ingénuo e o vaidoso.

Enquanto a direita legisla contra blogues mais duros de esquerda, os blogues de esquerda dão gás aos panfletos da direita.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...