sexta-feira, maio 29, 2015

Anarquismos

Ontem, à hora de almoço, passei em frente à morada onde esteve instalado o restaurante "Os Anarquistas", junto ao teatro da Trindade. O que por lá está hoje já não lembra o que foi. Era um dos mais antigos restaurantes de Lisboa, criado em 1906, por décadas pouso de artistas, intelectuais, jornalistas e outros frequentadores de animadas tertúlias. Diz-se que o nome viria mais dessa agitação verbal do que de qualquer vocação libertária. Recordo-me de, nos anos 70, quando trabalhei na zona do Chiado, ter lá comido algumas vezes, curiosamente sem grande memória apreciativa do que o restaurante servia, registando apenas que não era muito barato e que fazia parte da tradição de cozinha de galegos que muito marcou a restauração de Lisboa. 

Há anos, um amigo meu passou em frente ao restaurante e, num impulso, decidiu almoçar por lá. O nome tinha mudado e ele achou curioso experimentar o que propunha a nova gerência. Entrou, sentou-se, pediu a lista à empregada e começou a ler o seu jornal. Quando levantou os olhos, notou, com alguma perplexidade, que naquele espaço só havia mulheres, em todas as mesas à sua volta. Essa estranheza foi reforçada pelo facto de algumas delas deitarem olhares insistentes para a mesa onde ele estava, sozinho, a aguardar o que tinha encomendado. A persistência dessas miradas começou mesmo a incomodá-lo. 

De repente, teve um sopro de conforto: tinha acabado de entrar uma velha amiga! Finalmente, ia quebar o seu isolamento! A reação da amiga, contudo, surpreendeu-o: "O que é que tu estás aqui a fazer?!". De início não percebeu o espanto mas o sorriso malicioso da sua agora companheira de mesa acabou por fazê-lo compreender no que se metera! O espaço que sucedera a "Os Anarquistas" era agora um lugar gay feminino! A amiga, uma conhecida figura pública que ele sabia ter essa tendência, estava divertidíssima. Ele, logo que pôde, pôs-se a milhas... 

7 comentários:

Anónimo disse...

Eu teria ficado! Já me aconteceu uma coisa parecida, um dia, num país estrangeiro. Num bar, onde fora com um amigo. Só se viam mulheres e a maioria bonitas. Alguma beijavam-se. Foi quando percebemos que nos tinham enganado no tipo de bar. Mas ainda assim ficámos um pouco mais. Divertidíssimo!

Bartolomeu disse...

Ficamos sem conhecer o cardápio e o serviço de tão singular lugar de repasto.
Conheço quem, durante uma viagem de elétrico tenha sido seduzido por duas mulheres gay e afiance que a concretização da experiência o tenha surpreendido pela positiva.
Vai ver, caro embaixador que sair tão apressadamente, o seu amigo terá deixado para trás uma experiência... gastronómica, inolvidável.

Anónimo disse...

"No coments"!

Anónimo disse...

Mais "sparklings" de pólvora seca....

Anónimo disse...

Fez-me lembrar um filme que vi ontem -"The New Gifrlfriend" de Francois Ozon. Baseado num romance de Ruth Rendall toca muitos temas, masculino/feminino, cross dressing etc, etc. Magnificos actores, dialogo cheio de humor, que mesmo nos momentos mais comoventes nos faz sorrir ou mesmo rir... Nao sei se ja esta por ai.

Bom fim de semana

F Crabtree

alvaro disse...

E então o "home" não se sente capaz de comer uma sapatona? Olhe que elas iam gostar. É bem melhor pão com chouriça que sem ela.

patricio branco disse...

simpatica salinha de comer, as mesinhas, os bancos, os galegos, boa comidinha, mas isto era nos 60, entretanto decaiu e desapareceu

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...