As condecorações são a forma republicana de nobilitação. Representam o reconhecimento do destaque cívico obtido por um cidadão no seio da sua comunidade. Por essa razão, as condecorações devem ser conferidas com parcimónia, por forma a que a sua multiplicação não conduza à respetiva banalização, de modo a que quem as receba possa perceber que foi objeto de uma distinção particular.
Não desconheço que, se há tema eternamente polémico no seio das comunidades portuguesas no exterior - e, por maioria de razão, no seio da sua mais populosa comunidade, como é a francesa -, esse foi e será sempre a lista das personalidades que, por proposta do governo, o chefe do Estado distingue com condecorações, no Dia de Portugal.
Porquê este e não aquele? Que diabo justifica que fulano seja condecorado e não beltrano, quando este, ou mesmo sicrano, mereceriam muito mais? Porquê um dirigente associativo e não uma personalidade cultural? Porquê uma figura política e não um empresário de destaque? A discussão é eterna, atravessa conversas e, muitas vezes, extravaza para órgãos da comunicação social, às vezes em registos de inveja, outras de indignação pura.
Noto também que, a nível diplomático, esta costuma ser uma espécie de questão tabu, que se torna sempre muito delicado abordar, até pelo caráter reconhecidamente discricionário que tem. A verdade é que não se pode condecorar toda a gente que o mereceria. Também é evidente que, qualquer que seja o critério de escolha, ele será sempre discutível, que outros poderiam ser adotados e, muito provavelmente, com uma validade objetiva e de justiça perfeitamente idênticas. Sei disso, como também sei, de ciência certa que nunca seria possível nenhum consenso, estabelecido em torno de um único critério.
Por isso, pela parte que me toca, assumo com serenidade o "odioso" de ser (quando sou - e muitas vezes sou) responsável pelas propostas que se fazem, embora possa lamentar não poder fazer outras. Fique-se também a saber, porque nem sempre há disso plena consciência, que o número das propostas formuladas à consideração "de Lisboa" é sempre muito maior do que a necessária (e bem mais melindrosa) escolha final - que, no caso das comunidades, abrange também cidadãos residentes em muitos outros países.
Dito isto, quero felicitar vivamente José Baptista de Matos, a quem o presidente Cavaco Silva acaba de atribuir a Ordem de Mérito, nas comemorações deste ano do Dia de Portugal.
Há já bastante tempo, falei aqui de José Baptista de Matos. Antigo conselheiro das comunidades portuguesas e presidente da Associação Recreativa e Cultural de Fontenay-sous-Bois, de que foi fundador, Baptista de Matos desenvolveu, ao longo de mais de quarenta anos, um destacado trabalho cívico no seio da nossa comunidade. A ele se deve a iniciativa da construção de um monumento dedicado ao 25 de Abril, junto ao qual tem lugar a mais bela cerimónia que, nessa data e anualmente, tem lugar em França. Note-se ainda que Baptista de Matos figura, como exemplo, no museu da “Cité Nationale de l’Histoire de l’Immigation”, como um caso bem sucedido de integração em França. A meu ver, Baptista de Matos, com os seus "jovens" 77 anos, é uma das personalidades que bem merece passar a ter no peito uma condecoração portuguesa.
Parabéns, Baptista de Matos!
Parabéns, Baptista de Matos!