Lembrei-me muito do meu tio Óscar, neste fim de semana. Durante a minha infância, o Porto, para mim, identificava-se muito com ele.
Oficial do Exército na reserva, ia, aos domingos, almoçar à messe, na Batalha e, durante a semana, parava as tardes num grupo de amigos, no Rialto, onde aguardava a chegada do "Diário do Norte". Sendo ele portuense, não me recordo se era portista, sequer se se interessava pelo futebol. Coleccionava "O Tripeiro", que tinha encadernado na estante, e foi pela mão dele que conheci a "Vida Mundial", quando a publicação consistia apenas numa recolha de artigos traduzidos da imprensa estrangeira e ainda era editada no Montijo.
Vivia na Ramada Alta, num andar com um cheiro confortável e indefinível, que nunca esqueci, com uma varanda envidraçada, onde se tomava chá e se via a estátua da rotunda da Boavista. Em noites em que as luzes convertiam o Porto num distante sonho cosmopolita para o jovem que, como eu, visitava a cidade, com o deslumbramento dos que viviam para lá do Marão, daquela varanda via-se passar, ao fundo, um comboio. O tio Óscar, que, com carinho, me mostrou e fez para sempre gostar da sua cidade, nunca teve ocasião de cumprir a promessa que me havia feito de me levar um dia nessa linha, até à Póvoa.
Neste sábado, ao sair do aeroporto do Porto, comprei um "Andante"*, o nome irónico dado ao bilhete do Metro de superfície, que também comporta a tal linha férrea que eu via da casa do meu tio Óscar. É uma viagem calma, por vezes com a triste paisagem de traseiras suburbanas que os comboios proporcionam, outras com vista para aquelas moradias de portas altas com uma imensa numeração, bem típicas de certas ruas do Porto. A certo passo, o Metro emerge de um túnel e ouve-se a voz oficiosa: "Verdes". Aparece uma estação a justificar o nome, no meio de vegetação, de que eu nunca ouvira falar. Recordando o tio Óscar, lá fui, por aí adiante, até ao meu destino, a Trindade.
Nessa noite, ao dizer a um amigo, que encontrei num jantar na Alfândega, que estava instalado pelas bandas da Trindade, num novo hotel, ele retorquiu-me, lembrando quando por aí andávamos, há muitos anos: "Vais dormir perto da Alferes Malheiro? Ó diabo! Ainda acabas a noite na "Candeia"..." Esclareci que, a "Candeia", além de ter já fechado há uns tempos, há meio século que não fazia parte dos meus roteiros do Porto. "Então podes ir a um pomar, muito próximo do teu hotel". Porque conheço muito bem a zona, estranhei que por ali houvesse algum pomar. Ele precisou: "É na Gonçalo Cristóvão, tem excelente fruta". Não percebi nada, mas creio que a graça tem alguma coisa a ver com futebol...
Em tempo: correção feita. O "Andante" é o nome do bilhete e não do metro, como eu pensava. Desatenções...
Em tempo: correção feita. O "Andante" é o nome do bilhete e não do metro, como eu pensava. Desatenções...