domingo, maio 22, 2011

DSK e as siglas

O destino do antigo diretor-geral do FMI e putativo candidato socialista à presidência francesa, Dominique Strauss-Kahn, continua a dominar o mundo mediático local. As televisões despacharam correspondentes para Nova Iorque, que dizem mais ou menos aquilo que opinam os nossos esforçados enviados, mas, nem por isso, os telejornais têm um minuto que seja a mais, para além dos 30 habituais. Em Portugal, bem deveria aprender-se com este exemplo.

Strauss-Kahn é aqui vulgarmente referido na imprensa escrita pela sua sigla do seu nome - DSK. Ontem, dei comigo a tentar lembrar-me a quem esta simplificação nominal também se aplicou ou aplica aqui em França. Pode ser que haja outros, mas, de memória, só vejo os seguintes: o desaparecido jornalista e político Jean-Jacques Servan-Schreiber (JJSS), a atriz Brigitte Bardot (BB), o jornalista televisivo PPDA (Patrick Poivre d'Arvor), a antiga ministra Michèle-Alliot Marie (MAM), o filósofo Bernard-Henri Lévy (BHL) e a ministra do Ambiente, Nathalie Kosciusko-Morizet (NKM). 

Não é fácil uma justificação para a ocorrência destes diferentes casos e, em especial, para não haver muitos outros. A única destas siglas que representa um acrónimo (isto é, que se lê como uma palavra) é "MAM" e há quem diga que o estilo pessoal "régalien" da antiga ministra pode também ter ajudado a fixá-lo. No caso de JJSS, a sua frustrada tentativa de reproduzir na Europa um estereótipo americano, na senda de Kennedy (JFK), terá contribuído para a criação da sigla. Nas restantes siglas, a sonoridade fácil de BB e PPDA e a complexidade dos dois outros nomes (com as consoantes H e K a reforçarem a "estranheza" fonética) igualmente podem ser uma justificação. Mas não sei se estarei certo. Verdade seja que ser identificado mediaticamente por uma sigla acaba por ser um fator distintivo bastante prestigiante, porque traduz um duplo reconhecimento público (o nome e a sigla que o simplifica). Tenho a sensação que nenhum político desdenharia essa possibilidade. Diria mesmo mais: todos lutariam para a obter.

Não conheço bem a situação noutros países. Nos Estados Unidos, surgem-me à ideia Franklin Delano Roosevelt (FDR) e John Fitzgerald Kennedy (JFK), ajudados, no presente, pelo facto de, no primeiro caso, dar o nome a uma importante artéria de Nova Iorque (FDR Drive) e, no segundo, a um aeroporto da mesma cidade (JKF Airport). Com um grau diferente de popularidade, aparece LBJ (Lyndon Baines Johnson), vice-presidente e sucessor de Kennedy, que se presume tenha começado a ser designado por uma sigla na senda da daquele. No Brasil, julgo que há apenas três nomes que a imprensa consagrou como siglas: os antigos presidentes Juscelino Kubitchek (JK) e Fernando Henrique Cardoso (FHC), bem como desaparecido político baiano António Carlos de Magalhães (ACM).

Desconheço o que passa noutros países, mas noto que, por exemplo, no Reino Unido não há esse costume, muito embora a importância da sua imprensa tablóide, com títulos garrafais a incitar à simplificação, pudesse ajudar a isso.

E em Portugal? Não me recordo de algum político ou figura pública* objeto de designação simplificada por uma sigla. Salvo um velho jogador do Vitória de Setúbal, Jacinto João, que a imprensa sempre designava por JJ. Sigla idêntica à que, nos anos 60 e 70, utilizávamos informalmente para um professor universitário, que o destino viria a trazer para as páginas dos jornais. Também por razões de justiça.

* Em tempo: os comentários começam a corrigir este post 

Falhas detetadas no texto
Em França: VGE (Valéry Giscard d'Estaing)
Em Portugal: MEC (Miguel Esteves Cardoso), BB (Baptista Bastos), PQP (Pedro Queiroz Pereira), EPC (Eduardo Prado Coelho) e APV (António-Pedro de Vasconcelos)

18 comentários:

Vasco Campilho disse...

Eu conheço um caso: PPC.

Anónimo disse...

Outro caso em Portugal: MEC.

Anónimo disse...

Vasco Campilho tem razão. No MNE há o Pedro Pessoa e Costa

Anónimo disse...

Há o Baptista Bastos.

Helena Sacadura Cabral disse...

Já agora deixe-me defender a família. Havia os Arq NTP e NP, para Nuno Theotónuo Pereira e Nuno Portas...
:-))

Anónimo disse...

Caro Senhor Embaixador, há o FSC!

Cara Helena, foi só meia defesa da família... E o infante mais novo - PP? :)

Isabel BP

Anónimo disse...

PPC é quem?
Sigla parecida e bem conhecida era a dcvxzo saudoso Eduardo, EPC, filho de Jacinto Prado Coelho.

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Isabel BP: Que cabeça a minha! Claro: Francisco Sá Carneiro! Não se estaria a referir aos jornalistas Francisco Sarsfied Cabral ou Filipe Santos Costa?

Helena Sacadura Cabral disse...

Ai Senhor Embaixador sempre lhe digo que ambos temos- desculpe a ousadia da comparação - resposta sempre pronta.
A interpretação dada às siglas da Isabel BP é um achado!
Cara Isabel se falasse do PP era uma confusão terrível entre partido e lider. E, depois, onde deixava eu o meu MP e a minha CP - identificáveis com o Ministerio Público e a transportadora férrea -diga-me lá?! Assim, só com o progenitor mato logo três Coelhos de uma rajada. E esta amiga?! :-))

patricio branco disse...

Não conheço ou não recordo casos em portugal, onde nem sequer ou pouco se abreviam os nomes de pessoas conhecidas, de cargos,de paises, etc, como nos eua e reino unido: ex. bill clinton ou w j clinton (como dizer zé socrates), bill gates, j d sallinger, o citado l b johnson/lbj, t s elliot, o j simpson, mbe, dbe, mp, pm, uk, usa, urss, ge (general electric), ibm, etc.
Há p ex nrp (= hms), rtp, rcp. Mas de personalidades portuguesas não sei.
Interessante comentário e tema.

patricio branco disse...

os partidos em portugal são conhecidos pelas iniciais, mas os lideres não.
Cada pais com seus usos

António P. disse...

e MST para Miguel Sousa Tavares.
JJ para o saudoso Jacinto João do grande Vitória de Setúbal
Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro Senhor Embaixador, ainda bem que passei por aqui (antes do jantar) porque já dei umas boas gargalhadas - por acaso, lembrei-me apenas de Franscisco Seixas da Costa e Franscisco Sá Carneiro e... fiquei perplexa com essa quantidade de FSC!

Cara Helena, já li várias referências a "PP" (ao líder e não ao partido). Gostei imenso do "Ministério Público e a transportadora férrea".

Isabel BP

Luís Bonifácio disse...

António Carlos Magalhães conhecido por ACM? Só se fosse quem ele pagava para tal.~

António Carlos Magalhães foi sempre conhecido por "Toninho Malvadeza". Até respondia à alcunha.

Anónimo disse...

Sr. Embaixador, creia-me sem nenhuma vontade de debitar ordineirice ou graçola, mas é irresistível lembrar a quantidade de personagens,das mais diversas origens e actividades, que é conhecida, em todo o país, por FDP...

JCM

Fada do bosque disse...

Vale a pena ler a "NARRATIVA"... :)) mas os comentários, são um achado! :))
Isto deixa uma pessoa bem disposta! ahahahhah!!!

Anónimo disse...

aqui por França também se falou muito do VGE, quando foi presidente da república. CDG é mais aeroporto do que General e FM era o que o Presidente com estas iniciasis tinha na campaínha da porta do prédio onde morreu. NS não se usa, nem JS, nem FP, apenas para referir os Presidentes da 5ª República

Anónimo disse...

Nos bons e velhos tempos do meu DN, houve um chefe da Redacção (que me permito não identificar) que ditou uma regra intransponível:

Pelo menos nos títulos só é permitida uma sigla!...

Isto porque, nesse dia, tinha sido publicado:

MRPP e UDP batem-se contra o PCP e MDP-CDE. E em subtítulo: <PPD e PS não entram na guerra.

Palavra de honra que não fui eu...

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