Julgo que muitos portugueses não se terão ainda dado conta da fantástica mutação que Guimarães tem vindo a sofrer, ao longo dos últimos anos, através de uma inteligente recuperação do património e de melhoria da sua paisagem urbana.
quarta-feira, maio 13, 2009
Cultura
Julgo que muitos portugueses não se terão ainda dado conta da fantástica mutação que Guimarães tem vindo a sofrer, ao longo dos últimos anos, através de uma inteligente recuperação do património e de melhoria da sua paisagem urbana.
terça-feira, maio 12, 2009
Visita de Estado
Havia, porém, um ritual a cumprir: neste género de deslocações, as regras logísticas obrigam a que os membros das comitivas deixem as malas, do lado de fora dos quartos, aí pelas cinco da manhã, por forma a serem recolhidas pelos bagageiros, que as colocam no avião, bem antes da partida. É desta forma que os presidentes e as suas comitivas podem sair directamente dos hotéis para os aviões, já sem precupações com as bagagens.
Para isso, porém, há que fazer as malas bem cedo, deixando para trás apenas as coisas básicas de higiene e o vestuário para essa manhã. Foi essa regra que a mulher do ministro cumpriu, já com o marido a dormir. Concluída a função, colocou as malas à porta e foi-se deitar.
No dia seguinte, aí pela sete horas, o ministro toma o seu duche e - surpresa das surpresas! - dá-se conta de que a sua mulher, por lapso, tinha colocado nas malas o seu par de sapatos. A essa horas, as malas já deviam estar no avião!
Que fazer? Era um "país de Leste", as lojas da cidade estavam fechadas, o "concierge" do hotel revelou-se sem soluções. E, há que convir, era política e socialmente imprudente o ministro surgir em peúgas na fila de cumprimentos. Ou não surgir, o que seria protocolarmente muito grave e abriria lugar a infindáveis especulações.
É nessas horas que os embaixadores justificam a sua existência. Ou não. O meu colega em posto foi alertado para a crise ministerial quando já estava, no seu carro, prestes a chegar ao hotel. "Que número usa, senhor ministro?". A resposta "41" terrificou-o, olhando desolado para os seus pés "38" e para a impossibilidade de encontrar, na sua própria casa, uma alternativa. O carro continuava a rolar em direcção ao hotel, onde o presidente o esperava. Mas o embaixador tinha bem claro que o seu ministro também o esperava, embora ainda no quarto, e, claro, aguardando uma solução. Na falta dela, como seria de presumir, lá se iria a desejada promoção e o tal posto, uma sinecura simpática que prometera à sua mulher e que perseguia há muitos anos, como fim de carreira.
Que importava a qualidade dos dossiês técnicos, que a Embaixada tão bem tinha caprichado em trabalhar e apresentar, face ao drama do ministro? Que representavam anos de bons serviços, perante a presumível fúria ministerial, que o gáudio da comitiva iria potenciar?
Apesar da hora matutina, pouco propensa a rasgos, o nosso embaixador, olhando casualmente de viés entre os bancos da frente do seu Mercedes de serviço, a pedir uma substituição que o chefe da gabinete do ministro lhe assegurara na véspera, intui uma solução: nos pés do seu motorista. "Ó Arnaldo, que número é que você calça?". Surpreendido pelo intimismo do seu sempre reservado chefe, o Arnaldo responde: "40, senhor embaixador". E aí, pese embora o diferencial que a tragédia tornava irrelevante, o Arnaldo selou, em glória, o seu destino matinal: lá se ficou no carro, em peúgas, até ao regresso à Embaixada, depois da partida da comitiva presidencial.
Dizem-me que o ministro arvorou, nas despedidas, um ar grave e compungido, que alguns jornalistas - rapazes bem sagazes - levaram à conta da tensão entre o governo e o presidente, que os últimos meses tinham agravado. Ora a verdade, porém, era bem mais terra-a-terra.
segunda-feira, maio 11, 2009
Souvenirs, souvenirs
Apesar de alguns anos mais velho, Halliday é "um rapaz do meu tempo", um tempo em que tinha como namorada Sylvie Vartan e arrasava musicalmente a França e a concorrência, o que, em Portugal, acompanhavamos, com algum "voyeurisme" adolescente, através da leitura do "Salut les Copains". Nunca fui um incondicional: seguramente por defeito próprio, a sua canção de que sempre mais gostei era a versão francesa do "The House of the Raising Sun", aqui traduzida pelo "Le Pénitencier".
Halliday foi o émulo francês possível de Elvis Presley, mas, contrariamente ao cantor americano, a sua carreira teve escasso impacto fora do mundo francófono, onde, contudo, é um ídolo incontestado. Alimentou sempre um estilo de "bad boy", que vai bem com o seu tom de voz e a figura de roqueiro "blouson cuir", olhar castigador e moto à ilharga. Um dia, creio que em 1971, fiquei à porta de um concerto seu, em Bayonne ou Biarritz, à falta de bilhetes. Hoje, confesso, não tenho nostalgia suficiente para me bater por uma entrada num espectáculo para o ouvir.
Mérito
É o caso de Marta Santos Pais, que acaba de ser nomeada pelo Secretário-Geral da ONU como sua Representante Pessoal para a Violência contra as Crianças. Trata-se de uma reputada jurista portuguesa que, sem grandes alardes mediáticos mas com uma elevada competência, tem feito um magnífico percurso internacional, que muito honra o nome de Portugal.
Parabéns, Marta.
Diplojazz
À bateria do português Pedro Viana juntou-se, ao piano, a romena Ramona Horvath e o contrabaixo do franco-brasileiro Guillaume Duvignau para uma hora de jazz europeu e de outras partes do mundo, assistido por cerca de uma centena de convidados.
Ah! E os dourados não foram abalados, descansem...
Islândia
Será que a Noruega e a Suíça, no último caso reduzidas que foram as vantagens bancárias comparativas de que dispunha, acabarão por seguir por caminho idêntico?
Voto
domingo, maio 10, 2009
"Isto anda tudo ligado"
Portugal é um país que, nas últimas décadas, passou por um processo acelerado de integração dos seus imigrantes, que são hoje mais de 5% da sua população. A grande maioria desses imigrantes, oriundos de países muito diversos, tem como simples projecto a melhoria das suas condições de vida, pelo que não deve ser confundida com uma minoria que tende a envolver-se em acções criminosas, a qual deve ser reprimida, como quaisquer outros delinquentes, portugueses ou não.
Mas o nosso país, que tem um histórico de presença externa no mundo das migrações que o obriga a alimentar uma forte cultura de integração, tem a obrigação de estar bem vigilante face à emergência de pulsões populistas, de natureza xenófoba ou racista, que, como se tem visto em todo o mundo, sempre partindo de muito legítimas preocupações securitárias, rapidamente podem descambar em demagógicas campanhas de intolerância. E uma coisa tenho por certo: temos de ser radicalmente intolerantes perante a intolerância.
Da Costa
E, por uma qualquer razão que me escapa, confesso que me agrada ver este nome num podium francês...
sábado, maio 09, 2009
Amigo de Alex
Porque falo do meu amigo Alex? Porque a "Sábado" me recordou que tem um blogue em português, aliás criado bem antes do meu, com comentários muito interessantes em que, nomeadamente, reflecte um olhar britânico sobre algumas coisas portuguesas. E um dos posts mais recentes fala dos embaixadores do seu país que têm um blogue. Leia aqui.
No "Le Canard Enchaîné"
sexta-feira, maio 08, 2009
O Hino da Liberdade
Gendarmes
Apesar da seriedade da cerimónia - uma muito digna e bem organizada comemoração da vitória aliada na 2ª Guerra Mundial -, confesso que, no local, não consegui deixar de lembrar-me de Louis de Funès e dos seus garbosos ajudantes...
quinta-feira, maio 07, 2009
A senhora dona
A lista dos condecorados era longa e o respectivo leitor, de nacionalidade portuguesa, era, manifestamente, uma pessoa pouco sensível às letras moçambicanas. Assim, sem hesitação, anunciou a certa altura da solenidade: "E agora, vai receber a ordem X a Senhora Dona Mia Couto".
Um frémito de embaraço e riso sacudiu a audiência. Mia Couto, o excelente escritor de Moçambique, afivelou um sorriso por detrás dos óculos e da barba, encaminhando-se para o palco onde o presidente português o aguardava, claramente um pouco incomodado com a inesperada feminização do agraciado.
Um colega meu, de graça rápida, logo deixou cair, baixo: "Ainda bem que hoje não é condecorada a Senhora Dona Sara ... mago!".
quarta-feira, maio 06, 2009
Tratado de Lisboa
O Tratado de Lisboa, como todos os documentos de natureza multilateral, foi o resultado possível de um compromisso laborioso entre interesses de diversa natureza, por vezes mesmo algo divergentes. Talvez nenhum dos países signatários se reveja, em absoluto, no texto que foi assinado. Mas essa é, talvez, a prova de que o Tratado representa hoje o denominador comum possível, numa Europa mais heterogénea do que nunca.
Já bem depois do Tratado ter sido assinado, o mundo entrou numa séria convulsão, com uma crise económica de uma dimensão quase sem precedentes, que obriga a respostas rápidas e, essencialmente, a formas coordenadas de actuação, em especial nos fóruns internacionais onde se repercutem os efeitos dessa mesma crise. E tal como um país não deve demonstrar uma fragilidade das suas instituições quando é sacudido por instabilidades internas, também a União Europeia só pode estar à altura das responsabilidades que o seu potencial económico impõe quando conseguir apresentar um processo interinstitucional consensual, nomeadamente em tudo quanto se reflicta na definição das posições gerais que marcam os seus quadros interno e de relações externas. Essa é, aliás, a melhor forma de evitar a tentação de recurso a soluções de raiz nacional, porventura populares mas perigosas para os compromissos colectivos já assumidos, que podem colocar em causa o próprio tecido de relações contratuais construído ao longo de mais de meio século.
Acresce que a situação actual, para além da instabilidade económica que atravessa o mundo, apresenta outros graves riscos de natureza estratégica e de segurança, face aos quais a Europa tem obrigação de definir uma posição sólida e coerente. Isto é tanto mais importante quando o surgimento de uma nova administração americana, aparentemente aberta à reconsideração de certas políticas e à redefinição de importantes equilíbrios à escala global, parece oferecer-nos uma janela de oportunidade para a fixação de uma nova parceria transatlântica, susceptível de sustentar um tempo de paz e estabilidade.
O Tratado de Lisboa, para além das legítimas interrogações que algumas das soluções que prevê possam suscitar, parece ser hoje o lugar geométrico possível da esperança numa Europa mais sólida. E, para um país como Portugal, o futuro passa, cada vez mais, por essa mesma Europa.
terça-feira, maio 05, 2009
Vasco Granja (1925-2009)
Homem do cine-clubismo e apaixonado pela banda desenhada, Vasco Granja era uma figura serena, que trouxe à televisão portuguesa um "outro" cinema de animação, diferente do que então conhecíamos e, naturalmente, muito distante daquele que hoje se produz. Era um apaixonado por uma escola serena da animação cinematográfica, mais pedagógica e nada violenta, trazendo-nos nomes estranhos de autores desconhecidos do Centro e do Leste da Europa e, em especial, de um génio que descobrimos pela sua mão, o canadiano Norman McLaren.
Faleceu aos 84 anos. Como homenagem, deixo a imagem de um dos seus heróis de estimação, a figura criada por Hugo Pratt, Corto Maltese.
segunda-feira, maio 04, 2009
"Les Portugais"
Nesse outro tempo de 1971, Joe Dassin era uma voz que trazia o modo como a França via os portugueses. Ouçam o "Les Portugais" aqui.
"Arquipélago da Palestina"
domingo, maio 03, 2009
Rigoroso inquérito
Há uma conhecida e vetusta instituição que, em Portugal, assume o título ritual de “rigoroso inquérito”.
Depois de um acidente ou incidente grave, de uma vigarice com impacto ou de uma qualquer disfunção pública relevante, desde que com expressão mediática, aparece quase sempre a rassurante declaração de que as "entidades competentes" (privadas ou públicas) decidiram “instaurar”, sobre o assunto, um “rigoroso inquérito”. Mas não se pense que se trata de um inquérito de rotina: é sempre um estudo que tem de ser qualificado de “rigoroso”, com o objectivo de sossegar as consciências, no sentido de que nada ficará por investigar e de que ninguém ficará impune. Se se ler bem a comunicação social, verificarão que, quase todas as semanas, surge o anúncio de um “rigoroso inquérito” que foi instaurado, deduz-se que com gente a arregaçar de imediato as mangas na investigação, com limites temporais para apresentar os resultados, com a ameaça de uma espada de Dâmocles sobre os responsáveis a punir.
Passam dias, semanas, meses e que acontece? Na esmagadora maioria das vezes nada se sabe, muitos destes inquéritos devem ser arquivados, outros terão ido avante, mas a emoção já passou, a comunicação social já está noutra, ninguém pergunta por eles.
É pena que não haja alguém que tenha tempo para fazer o registo e o acompanhamento regular, aí de três em três meses, com alarde público, por exemplo num blogue ou num site, com os resultados práticos e as conclusões de tais inquirições, assinaladas as respectivas responsabilidades nominativas. Que se saudassem os resultados, quando os houver, até como exemplo positivo a apontar. E que denunciassem, bem alto, os casos em que nada se passa, em que a montanha nem um rato pariu. Teria imensa graça e, estou certo, certos “responsáveis” passariam a ter mais cuidado para que ninguém sorrisse quando anunciassem o próximo “rigoroso inquérito”.
O outro 25
Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...