quarta-feira, fevereiro 10, 2021

Fomento de polémica

É chicana politiqueira a polémica sobre a escolha do presidente do banco de Fomento. Haverá, no mundo financeiro, alguém que tenha capacidade técnica para presidir a um banco e que, simultaneamente, não tenha passado por instituições bancárias onde tenha havido problemas?

RTP

Não deve haver órgão de comunicação cujas “bad news” sejam tão “saudadas” pelos seus “camaradas” de “métier“ como a RTP. A bisbilhotice sobre a vida da empresa tem mesmo os seus “especialistas“ quase diários, acolitados por compacentes “correspondentes”, que lhes alimentam o fel da má língua.

CDS

Acabam de me garantir que não tem o menor fundamento a ideia, posta a correr, em alguns meios maldosos, de que a crise que abalou o CDS, nas últimas duas semanas, teria sido criada com o único objetivo de garantir ao partido alguns títulos e artigos de imprensa, bem como tempo de antena nas TVs.

Brasil

Olhando o debate político no Brasil, fica a sensação de que o PT, ao insistir na aposta no nome de Lula e, no caso de ela falhar, no seu “genérico” Haddad (o nome menos ”poluído” dentro das ”cartas” que o partido pode apresentar), não terá aprendido suficientemente as lições do passado.

Ao pretender continuar a hegemonizar a liderança da esquerda, sem fazer um compromisso de modéstia com forças e personalidades mais ao centro, o PT pode estar, irremediavalmente, a afastar-se da possibilidade de voltar a ser uma alternativa de poder.

Em baixa!



A Baixa está bastante em baixo! Melhores fotógrafos e mais turistas virão! 

Um poder solitário


Há dias, ao ver o ministro russo Sergei Lavrov assumir uma atitude de arrogância para com o chefe da “diplomacia europeia”, Josep Borrell, travei, num segundo, a vontade de rir que a cena me deu. Era a União Europeia que ali estava a ser humilhada - e isso não deve regozijar quem se sente solidário com esse projeto. Naquele instante, contudo, tive uma melhor perceção do drama que, nos dias de hoje, atravessa o poder europeu, na sua expressão internacional.

Não vale a pena entrar muito pelo detalhe do óbvio, que já foi dito e redito: a União Europeia é um gigante económico e um anão político. Já foi mais gigante e já foi mais anão. Sob o impulso de alguns Estados membros e desajudado por outros, a União tentou, nas últimas décadas, afirmar-se no cenário internacional das potências. Quer o Brexit quer os anos Trump funcionaram, contudo, a contra-ciclo desse objetivo, a que o Tratado de Lisboa tinha procurado dar algum músculo internacional.

Onde está hoje a Europa, como poder, pelo mundo?

Com a Rússia, depois de, há anos, ter alinhado na aventura ucraniana da administração Obama, soprada pelo ódio anti-Moscovo que prevalece no Leste da sua geografia, a União tem a relação que ficou patente na cena Lavrov-Borrell. Há quem deseje um divórcio total com Moscovo, há quem veja a Rússia como parceiro incontornável mas, por ora, algo incontrolável.

Com os EUA, ignorada no primeiro discurso sobre política externa de Joe Biden, Bruxelas pode estar já a pagar o preço de um apressado “acordo de princípio” de investimento com a China, o qual, sendo uma afirmação legítima da sua “autonomia estratégica”, arrisca consequências nefastas no relacionamento transatlântico. Se o pendor multilateralista da nova administração americana abre um mundo de esperanças, há muito quem, na Europa, não esteja disponível a comprar a boa vontade americana a custo de uma subalternização e tutela política.

Com a China, a Europa não se decidiu ainda sobre o que fazer: como compatibilizar o aproveitamento das fantásticas oportunidades económicas sem perder o ensejo de se mostrar firme perante as posturas autocráticas, e estrategicamente desafiadoras, de Beijing.

E poderíamos continuar, por aí adiante. A verdade é que a União Europeia dos novos tempos é um compósito com contradições internas longe de superadas, espelha interesses frequentemente contraditórios e, o que é mais preocupante, não parece a caminho de afirmar uma unidade de propósitos estratégicos. Ora isso é que carateriza uma potência.

terça-feira, fevereiro 09, 2021

Medidas de contingência

 


A mulher coragem


É uma mulher com algumas vidas, com muitos livros, com imensos amigos, com uma coragem acima do mundo. À minha amiga Leonor Xavier, a existência tem pregado partidas, sustos e, às vezes, jogado com ela às escondidas. A Leonor, com aquela voz rouca e doce que, à primeira vista, poderia transportar um discurso naïf, é alguém que descobriu que as dificuldades se agarram de caras, que os problemas se resolvem combatendo em terreno aberto. É uma cabeça arejada, positiva, que olha as pessoas de frente, guiada por uma ética à prova de bala, com valores que caldeou ao longo dos anos. Quando saímos do seu convívio, das conversas sempre interessantes que com ela temos, fica-nos uma admiração imensa pela sua força e determinação. Posso dizer uma coisa muito sincera, sem correr o risco de se julgar que estou a fazer um ’número’?: saio sempre melhor do que me sentia, depois de falar com a Leonor, nem que seja apenas pelo telefone. Mas, claro, tenho saudades dos almoços lentos no Ribatejo, das ocasiões em que ela sabe juntar a gente certa, para horas divertidas, coisa que a pandemia interrompeu. Lembrarei para sempre aquele seu aniversário louco, com baile, na Barraca! E a poesia na igreja do Rato. E o debate sobre o Brasil no El Corte Ingles. E as histórias com Sérgio Godinho e Nélida Piñon no CCB. E também me fazem falta as noites na Dois, no Procópio, com a Leonor a dar a deixa para as gargalhadas da Alice. Em outros tempos, também com o Raul por lá, depois os tempos passaram a ser com alegres saudades dele. A Leonor faz sempre da vida uma festa - e, para nossa sorte, convida-nos para ela!

A Leonor publicou agora, renovada, uma carta que acho que devia ser lida por muita gente. Quando há tanto défice de esperança, há por aí gente, como a Leonor, que tem um admirável superávite de coragem. Como podem ler aqui.

Os Estados Unidos e a China


 Pode ler aqui.

A União Europeia e a Rússia

 


Leia aqui.

Deve haver uma sa-brosa...

 


Os estaleiros


Desde que, em criança, passei a ir de férias, todos os anos, para a terra do meu pai, Viana do Castelo, os “estaleiros” faziam parte do meu cenário da cidade. Rara era a pessoa conhecida que não tinha familiares que ali trabalhavam. Quando se atravessava o campo da Senhora da Agonia, para as tardes na Praia Norte, vinham dos estaleiros barulhos metálicos imponentes, com sirenes que soavam estranhas ao miúdo que eu então era. Os estaleiros eram parte integrante da personalidade da cidade, como a ponte Eiffel ou Santa Luzia. Para mim, que vinha de uma Vila Real quase sem indústria, aquilo e a vizinha doca comercial eram um luxo que dava a Viana um ar de grande urbe.

Veio o 25 de abril e surgiram muitas notícias dos estaleiros, falava-se de navios vendidos à Rússia. Depois, com o correr do tempo, os jornais trouxeram relatos sobre os altos e baixos daquela fábrica de barcos. Há uma década, viu-se Viana na rua, mobilizada pela polémica que envolveu a privatização dos estaleiros, um assunto que se transformou num caso nacional. Agora, de quando em vez, os estaleiros ainda voltam à baila.

Há pouco tempo, vi que a Câmara Municipal de Viana publicou um livro intitulado “O Estaleiro da saudade - gerações, cultura e desfecho”. Como expectável, é uma memória nostálgica assente no outro tempo dos estaleiros. É uma peça editorial bonita e bem documentada, que acolhe memórias e imagens, para mim inéditas, de outros tempos da empresa, com notas humanas das alegrias e tristezas de quem nela trabalhou. Curiosamente, o livro não se fecha apenas no passado, soube abrir a porta àquilo que aquela empresa hoje é, embora não escondendo nunca para que lado o seu coração pende.

Li, com gosto, “O Estaleiro da saudade”. Aprendi bastante sobre uma realidade que, embora sempre ali estivesse, por décadas, à frente dos nossos olhos, arrastava, por detrás das suas paredes, muitas vidas e muitas emoções.

segunda-feira, fevereiro 08, 2021

Cassandra

Há por aí pessoas tão catastrofistas e com alma de Cassandra que passam a imagem de que estariam dispostas a sacrificar alguns anos da sua vida só para terem o “prazer” de poderem testemunhar, dando assim razão a si mesmas, na lógica do “eu bem dizia!”, o “fim do mundo” que, dia após dia, insistem em prever.

Conselho para reuniões

À volta de uma mesa de reuniões, é sempre bom lembrar a máxima de Pierre Desproges: "Il vaut mieux se taire et risquer de passer pour un con, plutôt que l'ouvrir et ne laisser aucun doute à ce sujet."

“Super Bowl”


Nunca me passou pela cabeça ver um “Super Bowl”. Mas há muitos milhões de doidos por aquilo! Há anos, em Nova Iorque, numa conversa, caí na asneira de dizer que, nessa noite, pensava ir ao cinema. Dois americanos olharam para mim com um ar que nunca mais esqueci...

Confiança

O cúmulo da confiança é um amigo, tão sportinguista como eu, que ontem, depois do empate do Porto, comentava, em tom já sério: “Alguém tem de começar a mexer-se para se garantir autorização para podermos comemorar no Marquês. Se os comunistas fizeram a Festa do Avante...”

Verde

Se este ano não ganhamos o campeonato, então não sei quando é que o voltamos a ganhar!

domingo, fevereiro 07, 2021

António Barreto

António Barreto, um homem inteligente e culto, desenhou, ao longo dos últimos anos, uma laboriosa e sofisticada narrativa sobre o país. A necessidade de ter de a republicar todas as semanas, renovando-a semanticamente, tem-se revelado uma tarefa pesada e nem sempre com sucesso.

“Observare”


No programa desta semana, sob a coordenação de Filipe Caetano, Carlos Gaspar, Luis Tomé e eu analisamos a ratificação (e não a retificação, como, por lapso, surge no título do vídeo) pelos EUA da extensão, por cinco anos, de acordo nuclear com a Rússia, bem com a situação política após a ação dos militares no Myanmar.

No meu caso, referi a censura à internet na Índia e um apelo, num artigo de Merkel, Macron, Guterres e outros subscritores publicado na imprensa internacional, para um esforço multilateral assente na luta comum contra a pandemia.

Pode ver aqui.

Sergey Lavrov


Nas Nações Unidas, em Nova Iorque, existe uma sala imensa, conhecida por Indonesian Lounge. É um espaço aberto, com cadeirões e cadeiras, a toda a volta. Serve para encontros breves, entre políticos ou diplomatas: consultas, apresentação de uma candidatura, transmissão de uma mensagem. Passei por lá horas, em “rapidinhas” diplomáticas de toda a natureza. O mesmo aconteceu, com toda a certeza, com quem me antecedeu e sucedeu.

Quando cheguei a Nova Iorque, em março de 2001, vai agora fazer 20 anos, e como é costumeiro, fui cumprimentar colegas embaixadores (além da imensa “máquina” onusina). Em regra, para um país como Portugal, visitam-se os representantes da União Europeia, os de língua portuguesa, os dos países membros permanentes do Conselho de Segurança, um número importante de latino-americanos, asiáticos e africanos com relações fortes connosco e uma dúzia de “key players”. Mas eu decidi mudar um pouco o registo: fui visitar os representantes de todos os países. Todos? Todos. Os então 190! Posso estar enganado, mas acho que nunca ninguém fez isso! Nem imaginam a trabalheira que aquilo me deu! Mas, um dia, explicarei por que assim procedi.

Um dos primeiros embaixadores que quis visitar, logo que cheguei a Nova Iorque, foi o russo, Sergey Lavrov, desde há 17 anos ministro dos Negócios Estrangeiros do seu país.

Com os EUA, a Rússia é a “chave” das Nações Unidas. Claro que há a China e, naturalmente, o Reino Unido e a França - os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, os chamados P5, no fundo, o diretório que manda na “casa” e sem o acordo dos quais nada se faz.

Em particular à época, Moscovo e Washington determinavam fortemente o dia a dia da organização. Os EUA viviam então as primeiras semanas da administração George W. Bush e, após a saída do embaixador de Bill Clinton, Richard Hallbrook, tinham apenas um encarregado de negócios (substituto do embaixador). Ora Portugal, com a Rússia e os EUA, compunha então a “troika” de acompanhamento do “processo de paz” em Angola. 

Lavrov foi muito simpático. Respondendo pessoalmente ao pedido de audiência que tinha sido feito por secretárias, telefonou-me a convidar para jantar em sua casa, na semana seguinte, com amigos. Mas também percebeu que não era bem isso que eu pretendia. “Estás livre, amanhã à tarde, ás 15 horas, para falarmos, no Indonesian Lounge, Francisco”. Claro que sim. Estranhei um pouco o “Francisco” e não terei retorquido “Claro, Sergey!”

E lá falamos, no dia a seguir, no tal espaço, os 20 minutos da praxe, comigo a deixar-lhe todas as mensagens políticas que queria. Sergey Lavrov foi extremamente simpático, como o seria durante todo o tempo em que coincidimos em Nova Iorque. Ele já tinha já tido um relacionamento exemplar com o meu antecessor, António Monteiro. Era um “vieux routier” e um excelente diplomata. Ficámos amigos.

A certa altura, com um sorriso aberto, foi pedagógico para o “newcomer” que eu era. E disse: “Posso dar-te um conselho, de quem já anda aqui há muito tempo?” (Lavrov chegou sete anos antes de mim e acabaria o seu posto dois anos depois de eu sair).

Apontou então para uma esquina que existe, na entrada do Indonesian Lounge, que é um espaço aberto, que não tem propriamente uma porta de entrada: “Cuidado com aquela esquina!”

Fiquei perplexo! Que diabo de especial tinha aquela esquina? Ele explicou: “Nos próximos tempos, vais regressar a esta sala centenas de vezes. Tens de contornar aquela esquina o dobro dessas vezes, na vinda e na ida. De repente, à entrada ou à saída, depararás com um colega nosso - somos quase 200! -, de um qualquer país, africano ou asiático. Vais ter apenas dois ou três segundos para te recordares se ele é o representante do Niger ou da Nigéria. Se lhe disseres “bonjour” e for o da Nigéria, ele nunca mais te perdoará. Se for o do Niger e lhe disseres “good morning”, esquece para sempre o apoio do país dele em qualquer eleição futura! Basta lembrares-te de como te sentirias se te confundissem com o embaixador de Espanha!” Como ele tinha razão! Além disso, Lavrov cuidava em saber os nomes de cada um de nós. Sempre sem falhas.

Ontem, ao vê-lo dar um “baile” de diplomacia agressiva, e até arrogante, ao Alto-Representante da União Europeia, Josep Borrell, “reencontrei” o excelente (e feroz) diplomata russo que é Sergey Lavrov.

sábado, fevereiro 06, 2021

“Observare”


Daqui a pouco, na TVI 24, de sábado para domingo, depois do noticiário da meia-noite, estarei no “Observare”, com Carlos Gaspar e Luís Tomé, sob a coordenação de Filipe Caetano, a falar dos acordos de armamento entre os EUA e a Rússia e da turbulência política em Myanmar.

Centrices

A ideia de que António Lobo Xavier seria capaz de utilizar o seu estatuto profissional no BPI para influenciar a política de crédito do banco (e este vergar-se ao “golpe”) em desfavor do único partido da sua vida é uma das maiores imbecilidades da temporada.

Livros

Em algumas incursões que (quando posso ou podia) faço por livrarias, penso sempre (mas esqueço logo) esta ideia: mas, afinal, lá por casa, não há ainda uma imensidão de livros para (por) ler? E reajo logo a tão desconfortável ideia.

CDS

A sobrevivência do CDS, com um património democrático que soube resistir ao revanchismo bombista mais reacionário, bem como a várias e contraditórias manobras de apropriação cesarista, com derivas pelo liberalismo paroquial, seria um bom sinal para o sistema político. Acreditem!

Ainda a vacina

Ter ou não ter vacina a tempo pode ser uma questão de vida ou de morte. Mas é precisamente nas questões essenciais, mesmo nas de vida ou de morte, que se mede o estofo ético das pessoas. Quem não espera pelo momento que lhe compete na vacinação é, além de um cobarde, um canalha.

O raio do vírus

No início, ouvíamos de falar de casos de desconhecidos. Depois, de nomes mais sonantes. Seguiram-se conhecidos, alguns amigos. Vieram, em seguida, os mortos próximos. “Está ventilado!”. Ou o alívio: ”Saiu dos cuidados intensivos!”. Se não morrermos da pandemia, morremos de susto.

Sem adjetivos

Pacheco Pereira explica no “Público”, com meridiana clareza, que a democracia não se “adjetiva”. Vulgarizou-se o uso laudatório da “democracia liberal”, zurzindo, em contraponto, o conceito de “democracia iliberal”. Ou há democracia ou não há democracia!

Contrição

Quando o Sporting foi buscar ao Braga, por um preço brutal, o treinador Rúben Amorim, pareceu-me um exagero.

Agora, vendo o trabalho feito (nada está ganho, claro!) e, em particular, a sua atitude serena (nunca lhe ouvi a voz, porque não vejo nem um segundo de “futebol falado”), dou a mão à palmatória.

O “ministro”


É uma vergonha para a União Europeia colocar-se na posição do seu “ministro dos Negócios Estrangeiros” ter de ouvir isto. E calar-se.

Não se vai a Moscovo mandar ”bitaites” (embora cheios de razão) sobre política interna russa sem ter capacidade de reagir com ações concretas.

Fados e pandemias

Ver na televisão programas filmados em casas de fados, com pessoas encostadas umas às outras, faz pensar: vai ser possível repetir aquilo no futuro, ali como nas caves de jazz e em outros locais com muita gente e pouco espaço? Vai haver alguma vacina contra o medo?

Biden

Vale a pena refletir na razão pela qual Joe Biden, no seu muito pensado primeiro discurso sobre política externa, não teve uma única palavra para a União Europeia - embora falasse do Reino Unido, da França e da Alemanha. E, ao dizer isto, não estou a criticar a União Europeia.

Nós e os outros

Não é agradável, para Portugal, surgir aos olhos dos outros em estado de necessidade, nesta pandemia. Mas é muito agradável assistir a mostras concretas de solidariedade, sem politiquices. Devemos tomar muito boa nota disso.

sexta-feira, fevereiro 05, 2021

Expliquem lá!

Este blogue tem uma média diária regular de leitores que segue, quase sempre, acima dos 1500. Até aqui, tudo bem: é um número muito lisonjeiro. Mas agora expliquem-me lá, se souberem, por que diabo, de ontem para hoje, passou largamente os cinco mil leitores! É que eu não escrevi nada que pudesse dar origem a este “alvoroço”! Ele há cada mistério!

Margens

Na ”segunda circular”, vistas bem as coisas, há uma imensa distância entre ambos os lados.

CDS

Com a quantidade de pessoas que, nos últimos dias, se têm demitido da direção do CDS, aquilo devia ser uma montanha de gente! (Que me perdoem a graça os amigos que tenho naquela estimável agremiação).

Os maluquinhos do “não é por acaso que...”

Não há nada de mais descredibilizante para um boato do que ouvir um amigo dizer: “Nem eu, que acredito em todas as teorias da conspiração, caio nessa!”

Pronto, fui à rua!

 


... com máscara, claro! 

quinta-feira, fevereiro 04, 2021

Presidência portuguesa

 


Coitados!

Há, por aí, um “jornal” zangado com a vida. Clica-se qualquer coisa, da alinhada opinião às notícias comentadas, e é um “vale de lágrimas”: tudo está mal, há um “finis patriae” ao virar da esquina. Diz-se que têm uma edição otimista, mas é longe para se ir comprar: parece que é em Massamá.

As palavras, o seu sentido e as vacinas

Perguntaram-me, de um jornal, se achava que António Costa devia suscitar na Europa, dada a sua qualidade de primeiro-ministro do país que tem a presidência, a possibilidade de virem a ser adquiridas as vacinas russa e chinesa. Achei a ideia muito bizarra. Tentei explicar que, depois da decisão política do Conselho Europeu de colocar em comum as aquisições, foi à Comissão Europeia, instituição executiva da União, que competiu negociar as vacinas e até financiar a investigação pelos laboratórios. Qualquer nova iniciativa no domínio do alargamento das compras seria assim da sua responsabilidade. Mas um Estado membro poderia suscitar isso? Por decisão “política”? António Costa, por exemplo, como “presidente” europeu? Sublinhei que António Costa chefiava o país que detinha a presidência europeia, mas que ele não era o presidente do Conselho Europeu. Achei estranha a insistência neste possível “papel” de Costa. Falei das dúvidas que, por muito tempo, tinham rodeado a fiabilidade da vacinas russa e chinesa, que parecia que se estavam a esbater. E que, de facto, parecia haver agora mais gente a pensar comprá-las. Mas a Comissão Europeia saberia, melhor do que ninguém, se isso era compatível com os compromissos que tinha com os outros laboratórios. Mas Costa poderia ter essa iniciativa? insistiu o meu interlocutor. Claro que, se assim entendesse, Costa teria ”autoridade” para isso. Para não ter contrariar, em absoluto, um raciocínio que ia por um caminho um pouco absurdo, lá disse que, naturalmente, se a questão eventualmente se colocasse à mesa do Conselho, se uma qualquer outra vacina (eu disse “da Rússia, da China ou até de Marte...”) pudesse resolver os problema da Europa, seria “criminoso” não aproveitar essa oportunidade, por mera questão “política”. Pronto e a coisa saiu assim! Nunca mais aprendo!



quarta-feira, fevereiro 03, 2021

Bastonários

Sou de um tempo, não muito longínquo, em que, como regra geral, quando se ouvia um bastonário de uma determinada ordem profissional, havia a quase certeza de estarmos perante uma pessoa equilibrada e sensata, um “espelho” do melhor da imagem da profissão. A regra passou a exceção.

Unidade

Um governo de ”unidade nacional”, além de democraticamente pouco saudável, poderia ter um efeito político muito negativo: polarizaria nos partidos de protesto, à esquerda e à direita, o descontentamento e mal-estar social que o agravamento da crise económica inevitavelmente irá criar no país nos próximos meses.

Amigos da onça

De um benfiquista amigo, para este sportinguista: “Parabéns! Chegar ao fim da primeira metade do campeonato nesta posição é obra! É como chegar ao topo da serra da Estrela. A seguir, é sempre a descer...”

Não percebi bem o que ele quis dizer com aquilo...

Francisco Ramos

A saída de Francisco Ramos da coordenação da “task force” das vacinas, por virtude de outro assunto, não nos deve fazer esquecer que ele é, em Portugal, uma das mais sérias e competentes personalidades na área da administração da saúde, com uma vida dedicada ao serviço público

Ajuda

No início da pandemia, a Itália recebeu muita ajuda internacional. 

Será que os piadéticos transalpinos - políticos e jornalistas - também por lá se entretinham a fazer graçolas nas redes sociais sobre a origem nacional dessa ajuda, apenas para chicana política interna contra o seu governo?

Mortos e mortos

Uma comparação que está na moda fazer é entre o número de mortos da pandemia e as vítimas da guerra colonial.

Note-se, porém, que as estatísticas sobre essas baixas são sempre “eurocêntricas”, referem-se ao “lado” português, não contando os guerrilheiros adversários mortos.

Draghi

Mario Draghi vai ser nomeado primeiro-ministro de Itália.

Draghi tinha um belo curriculum.

SEF

A acreditar no resumo das declarações dos agentes do SEF, sobre a morte do cidadão ucraniano, fica a dúvida sobre se, afinal, esses polícias não terão sido vítimas inocentes de uma feroz agressão, em que o verdadeiro culpado do incidente, no final, se mata a si próprio, com o único objetivo de deixar gente pacífica em maus lençóis e com a sua reputação beliscada. É que há quem tenha visto porcos a voar.

À flor da pele


Vivemos um tempo de tensões à flor da pele. O país responsável está visivelmente assustado com a pandemia, as pessoas vêem a sua vida subvertida, num horizonte que não conseguem limitar, e, não vale a pena esconder, paira uma erosão na confiança num poder público que, fazendo seguramente o melhor que sabe e pode, oferece um saldo efetivo de realidade pouco palpável. Morreu já muita gente, muita mais do que, há poucos meses, muito pensavam ser possível.

Politicamente, sente-se que as pessoas estão hoje acantonadas em trincheiras. As redes sociais, esses novos megafones da democracia, são disso um exemplo claro.

Os adeptos do governo, confortados pelas sondagens, entendem que seria impossível fazer-se melhor, que há razões externas e comportamentos sociais internos que ajudam a explicar o que se está a passar. Louvam as autoridades, a dedicação dos governantes, denunciam a falta de solidariedade subjacente às atitudes críticas, num momento coletivo desta gravidade, olham a comunicação social como abutres que exploram insegurança das pessoas, contribuindo para o desânimo coletivo.

Os críticos da governação apontam o lugar objetivo de Portugal no “ranking” triste da tragédia, sublinham as contradições e os vai-e-vem, denunciam a falta de rigor na questão das vacinas e dos seus fura-filas. E notam o caos em muitos hospitais, o que não foi feito e teria sido prometido. E porque o unanimismo, na sua perspetiva, nada resolve, acham que é democraticamente legítimo, e releva da transparência exigível, expor o que está mal e chamar à responsabilidade quem tem obrigação de responder pelo estado das coisas.

Até ver, a bissetriz possível, na terra de ninguém entre estas duas frentes, parece chamar-se Marcelo Rebelo de Sousa. Podemos imaginar que hoje, mais do que nunca, se sinta tentado a ser um verdadeiro provedor dos portugueses. Provavelmente, também ele se exaspera com as insuficiências evitáveis em alguns setores, mas igualmente se irrita com quem cavalga os percalços oficiais para alimentar a chicana política. Conhecendo, como bem deve conhecer, os erros cometidos, mas também as deficiências que pouco dependem das vontades, tendo ele próprio pisado o pé em ramo verde por palavras a mais, é dele que o país parece esperar alguma neutralidade, na abordagem, com a serenidade e equanimidade possíveis, do modo como a pandemia está a ser gerida. E o país parece entender que o seu papel tem sido positivo. Pelos vistos, seis em cada dez portugueses também terão achado isso.

terça-feira, fevereiro 02, 2021

Saudades do fumo


Tenho saudades de ir ao Brazen Head, em Dublin, quando o pub vivia cheio de fumo de tabaco. Como foi criado em 1198, alimentei a ideia de que, com um pouco de sorte, o dom Afonso Henriques quase podia ter passado por lá, numa aventura de turismo céltico. No Café Club, em Vila Real, que eu atravessava, fugidio e preguiçoso, para evitar dar a volta ao quarteirão, havia uma núvem de tabaco que quase escondia os cajados dos feirantes. Já para não falar da sala de dominó do Excelsior ou do Imperial do Lima, na noite de 24 de dezembro, também lá por Vila Real. Ou da sala de jogo por detrás dos bilhares no Montecarlo, ao Saldanha, em Lisboa, ou da cave com balcão do Montarroio, na Sampaio Bruno, no Porto, cidade onde a zona do strip da Candeia também pedia meças. Ou da zona do balcão do recém inaugurado Viana Mar, ou do Bar Oceano, lá por Viana do Castelo. Não guardei nenhuma imagem do Ronnie Scott’s, onde se ouvia bom jazz ou outro assim-assim, em Londres, sem estarmos todos a bufar uns para cima dos outros, com uma onda de fumo a encher o espaço. Havia também uma cave, em Luanda, abaixo do Trópico, cheia de “garinas” (connosco, os da embaixada, a portarmo-nos sempre bem, para que conste) com um ar quase tão espesso e irrespirável como o das noites da boîte do Méridien de Brazaville, onde histórias passadas (com outros, claro) não são para contar aqui. Já tive saudades (nos últimos anos, já não tinha, confesso) do branco fumarento do Procópio, nos tempos do Juvenal, quando a ASAE não nos poupava os pulmões, épocas em que ainda era “facilitado” tabaco ao balcão, em noites de carência extrema do Nuno Brederode. Para sempre, guardo na memória olfativa o cheiro do Blue Note, em Nova Iorque, onde o tabaco era “moderado” por alguma “green grass tea”. Curiosamente, o mesmo cheiro que havia no De Karpershoek, em Amsterdam e num restaurante abaixo de qualquer classificação, em Oslo, no final dos anos 70, local cujo nome esqueci (às vezes também tenho esse direito, caramba!), em que se passeava entre as mesas um tipo a tocar viola que, mal nos via, entoava o “¿ Ai Portugal por qué te quiero tanto?” 

Tenho saudades de todos aqueles fumos. Sei lá bem porquê! E, já agora, esclareço: eu não fumo nem nunca fumei!

Comentários

Vão regressar os comentários a este blogue. Infelizmente, dada a recorrente natureza de alguns, visivelmente estimulados pelo fenómeno Trump...