Daniel de Matos é o médico que acompanhou os últimos quatro presidentes da República. No “Público” de ontem, Maria João Avillez traçou-lhe um interessante retrato humano, que vale a pena ser lido. Nele se descobre um homem sereno e de bem com a vida. Quem o conhece, sabe-o um profissional de grande qualidade, com uma lendária capacidade de diagnóstico. E sabe algo mais: a sua simpatia, o seu proverbial humor e boa disposição, meio caminho andado para a confiança que transmite.
segunda-feira, fevereiro 24, 2020
USA
Era excelente ver Bernie Sanders no lugar de Trump na Casa Branca. Pergunto-me é se o facto dele poder vir a ser o candidato democrático não acabará por ajudar a que Trump permaneça no lugar por mais quatro anos. Logo veremos...
E se tentassem fazer jornalismo?
Será demais pedir à comunicação social portuguesa, em especial às televisões, que, perante a expectável extensão a Portugal do vírus, adote uma postura contida e não alarmista, deixando-se de bitaites e de especialistas paroquiais e dando relevo aos conselhos oficiais?
domingo, fevereiro 23, 2020
Palavras
Se a jornalista Ana Leal provar, sem sombra de dúvida, que o primeiro-ministro telefonou para a TVI a pedir a sua demissão, trata-se de um caso gravíssimo, que não pode passar sem sérias consequências políticas. Se não provar, a gravidade é idêntica e, de facto, é uma razão para ser demitida.
O país
Na consequência de corridas com automóveis, feitas de madrugada, bem acima dos 200 km/h, morreram anteontem quatro jovens na 2ª circular.
Ontem, em ”homenagem” às vítimas, amigos juntaram-se com carros no local do acidente, impedindo o trânsito, obrigando à intervenção da polícia.
Está tudo doido?
Está tudo doido?
Festival
A cançoneta apresentada num estilo muito La La Land foi a que mais me agradou no Festival da Canção, não obstante ter uma letra a armar ao intelectual, com um “name dropping” algo pretensioso.
Confesso que percebo muito pouco destas coisas, em que sou um assumido “achista”. Pergunto-me, contudo, se aquilo é um estilo para a Eurovisão. Alguns dirão, com razão: também a balada do Sobral não era...
sábado, fevereiro 22, 2020
“Les miens”
Ontem, a propósito da morte de Jean Daniel, citei por aqui o título de um seu livro. Hoje, olhando os mortos “notáveis” que este fim de semana nos trouxe, lembrei-me de outra obra desse jornalista (ou deveria dizer escritor?).
Há quem se queixe de que este meu espaço se converte às vezes num excessivo registo obituário. E quem diz isso, sem o dizer, é porque acha isso chato. Aceito o remoque mas a verdade é essa mesmo: cada vez tenho mais mortos conhecidos.
E há também quem entenda que “faltam” por aqui alguns mortos, que deixo “escapar” gente e que, numa espécie de hierarquia de destaque obrigatório de quantos se vão, isso deveria justificar uma nota.
Ora isto não é um órgão de comunicação social, ou melhor, isto é apenas um órgão de “comoção” pessoal. Por aqui vou notando algumas pessoas cuja saída da cena da vida me toca, umas vezes pela relação ou contacto que possa ter tido com eles, outras vezes pelo que representam na minha memória afetiva (e a afetividade tem dois sentidos, pelo que isso não significa necessariamente que deles goste). Outras vezes, essas notas surgem apenas “porque sim”. Tentar descortinar uma qualquer lógica definitiva na escolha do que aqui deixo escrito é, podem crer, um esforço vão.
O título do outro livro de Jean Daniel de que agora me lembrei é “Les Miens” e resume, em geral, o sentido das notas obituárias que aqui publico. Mas, aviso!, nem sempre!
(E a fotografia? Não tem nada a ver com isto, ou melhor, tem a ver com o facto de eu estar agora sentado num banco do Jardim da Parada, em frente da estátua da Maria da Fonte, uma figura do século XIX, período que, desde sempre, me habituei a ver refém de uma historiografia oportunista, com agendas que se projetam nos interesses políticos do tempo presente. E mais não digo, porque vou comer um pastel de nata à Aloma, para animar os meus açúcares)
Regresso à escola
Regressei ontem à minha escola, ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Fui convidado para ali fazer a conferência de abertura de um ciclo de doutoramentos em Ciência Política e Relações Internacionais.
Na ocasião, o presidente do ISCSP ofereceu-me um livro sobre a longa história daquela casa, em que acabo de verificar que surjo, numa fotografia de 1968, engravatado e de colete, com um ar de muito bem comportado, algo que, à época, estava longe de ser.
“Contumaz agitador académico” foi a expressão com que fui brindado num processo disciplinar que me valeu, dois anos mais tarde, uma suspensão de seis meses. Em duas das três eleições para os corpos diretivos da Associação Académica em que fui eleito pelo voto livre dos meus colegas, a longa mão do Ministério da Educação Nacional (tempos de Hermano Saraiva mas também de Veiga Simão) viria a determinar também a minha “não homologação”, pelo que não pude vir a exercer esses cargos.
Ganhei por essa época um cadastro e até alguma fama de “troublemaker”, coisa um pouco desajustada para quem, como eu, não estava então ligado a qualquer atividade política ou partidária e apenas me limitava a lutar pelos direitos dos estudantes. Aliás, devia ser curioso comparar a nossa agenda revindicativa desses tempos com as preocupações das estruturas associativas de hoje.
Questão de fusos
O episódio passou-se há mais de três décadas.
Estávamos num hotel de uma capital africana, integrados na comitiva de um membro do governo português. Nessa manhã, íamos partir para o palácio presidencial, onde o chefe de Estado receberia o nosso dignitário. Toda a delegação estava já no hall, pronta para embarcar nos carros. Toda, não! Faltava o nosso embaixador acreditado nesse país, que vivia no hotel, enquanto a residência oficial portuguesa não terminasse as obras que, sob o seu exigente critério, há meses prosseguiam.
Com o tempo a escassear, via-se que o nervosismo começava a apoderar-se no nosso governante, pessoa que os anos futuros mostrariam ser pouco dada a absorver com bonomia as contrariedades que a vida a todos traz.
Tomei a iniciativa de telefonar para o quarto do embaixador. Expliquei-lhe que estava tudo "em pulgas", já com algum atraso, pelo que era urgente que descesse. Como se tivesse à sua frente todo o tempo do mundo, e ignorando olimpicamente a minha observação de que o nosso político estava a ficar furioso, disse-me com a sua proverbial, mas muito simpática, displicência: "Tenham calma! Aqui ninguém chega a horas..."
Cinco minutos depois, desembarcou do elevador, sorridente, aproximando-se da nervosa comitiva. O governante não resistiu e, entre o ácido e o irónico, lançou-lhe:
- Então, embaixador?! Não acordou? Não tinha despertador?
O diplomata, homem há muito conhecido por olhar para as minudências do tempo com a serenidade de quem tem outras prioridades na vida, respondeu-lhe, sem perder o sorriso, quase sarcástico:
- Sabe, até acordei muito cedo. Foi esse, aliás, o problema! Tão cedo era que voltei a deitar-me e, olhe!, adormeci...
E já caminhando para a porta, comentou, comandando a mudança da conversa:
- Belo dia, não acha?
Entre as nossas gargalhadas abafadas e a fúria oficial do chefe da delegação, lá fomos para o palácio. Ainda por lá esperámos um bom bocado, é verdade.
sexta-feira, fevereiro 21, 2020
Mesas
A “Visão” desta semana traz um pequeno mas interessante guia de restaurantes, um pouco por todo o país.
Nenhuma listagem destas, como é sabido, é consensual, mas sempre pode ajudar bastante a quem anda por Portugal de viagem.
Foram pedidas cinco sugestões a três pessoas: à chefe Justa Nobre, ao cantor António Zambujo e a mim.
Em rigor, não se trata de “os meus restaurantes preferidos”, embora neles se incluam mesas que assim podem ser qualificadas.
Optei por indicar nomes de cinco restaurantes situados em localidades pouco comuns ao gastrófilo não iniciado, tal como Moreira de Cónegos, Valhelhas, Avelãs do Caminho, Praia d’El Rei e Vaiamonte.
Quem quiser saber mais, compre a “Visão”! É um belo número
Jean Daniel
Hoje, dia da morte de Jean Daniel, aos 99 anos, fundador do “Nouvel Observateur”, os jornalistas deveriam sentir-se felizes pela bela definição que, um dia, deles deu: os impacientes da História.
Joaquim Pina Moura
Morreu-me um amigo. Morreu Joaquim Pina Moura. Tinha 67 anos e estava doente, há muito tempo.
Conheci-o em 1995, quando ambos trabalhámos com António Guterres. Criámos, de imediato, uma magnífica relação pessoal, sempre divertida, recheada de humor e de crescente cumplicidade. Posso dizer que foi das pessoas com quem acabei por ter uma maior empatia, dentro dos dois governos a que pertencemos. Com uma inteligência fulgurante, rápida e arguta, apanhava o essencial num instante, sabendo transformar logo uma ideia numa proposta realista e com sentido. Ia “a todas”, sabia de tudo. Era um “mouro” de trabalho, uma figura em quem Guterres tinha uma extrema e justificada confiança, nele delegando imensas tarefas. Lembro-me das suas chamadas telefónicas pela noite dentro, ainda como secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, quando alguns problemas europeus “apertavam”, sempre, mas sempre!, atuando com uma insuperável delicadeza para comigo.
Os obituários das próximas horas recolherão, com toda a certeza, o seu histórico afastamento do PCP, de que se tornou num dos mais famosos críticos, após aí ter sido uma “estrela”, em forte ascensão. Nesse percurso, a partir de certa altura, foi-se aproximando de António Guterres, tendo estado no centro da operação “Estados Gerais”, que catapultou o PS para o governo, entronizando Guterres como primeiro-ministro. Durante todo esse tempo, colaborou fortemente com o PS, mesmo sem ser ainda militante do partido. Atribui-se a Jaime Gama, com quem Pina Moura tinha uma excelente relação e uma visível admiração mútua, uma graça que ficou memorável nas hostes socialistas. Reza a “lenda” que, um dia, numa conversa nesse ano de 1995, com Pina Moura presente, Gama terá dito a Guterres que era importante ele entrar para o PS. E descreveu a forma como isso aconteceria: “Um dia, o Joaquim Pina Moura decide aderir ao PS. Vai ao largo do Rato, toca à campaínha e quem é que, do lado de dentro, lhe abre a porta? O Joaquim Pina Moura!”
Lembro-me agora do jantar que ele organizou, com o João Lima Pimentel, assessor diplomático do primeiro-ministro, e para o qual me convidou, no “Vela Latina”, para explorar a ideia, congeminada por ambos, da candidatura de António Guterres à presidência da Comissão Europeia. Pouco dado a ousadias, achei a iniciativa “louca” e sem pés para andar, mas, meses depois, verifiquei que era ele, e o João Lima Pimentel, quem afinal tinha razão - e eu não. O apoio a Guterres, por parte de vários líderes europeus, começou a ser esmagador e a discreta campanha de imprensa e de contactos que o Joaquim e o João tinham engendrado - o chamado “Plano Alfa “, como então foi ironicamente crismado, de que há mesmo um registo “gráfico” - foi de vento em popa. Guterres só não foi presidente da Comissão Europeia porque não quis. Foi ele próprio quem pôs fim à ideia, por razões que um dia serão devidamente explicadas, numa reunião a quatro, na Áustria, numa noite de 1999, com o Joaquim, o João e eu. Lembro-me de mim e do Joaquim Pina Moura, já então ministro da Economia, depois do jantar, a “digerir” a nossa frustração, passeando pelo Graben, na noite fria de Viena.
Tenho muitas recordações do Joaquim Pina Moura. Todas boas. A nossa última e longa conversa acabou por ser em Paris, há já quase uma década, num jantar muito simpático e, como sempre acontecia quando nos juntávamos, bem divertido. Depois do meu regresso a Portugal, a sua progressiva doença forçou o nosso afastamento, com grande pena minha.
Deixo um grande abraço de pesar a toda a família, em especial à Herculana, uma “mulher-coragem”, de uma lealdade inquebrantável, em especial no sofrimento que para todos foram os últimos anos.
quinta-feira, fevereiro 20, 2020
Falai no mal...
Às vezes, pergunto-me se as pessoas que passam o tempo a falar do deputado de extrema-direita, cujo nome agora me escapa, apenas querem obter “visitas” à sua pala ou se, lá no fundo, não se importam de lhe fazer o jogo. É que não vislumbro uma terceira opção.
Um Pol Pot de trazer por casa
Chegou um dia a Paris, nesse início da segunda década do século XXI, com aquele ar “jeuniste” arrogante que caraterizava alguns de uma geração política a quem a “troika” tinha dado asas para poder exercer o seu liberalismo sem pudor. Não era ainda membro do governo.
No encontro na embaixada, com entidades francesas, desenvolveu uma curiosa teoria. As grandes cidades portuguesas estavam cheias de gente, em especial “velha”, cujos meios de vida, agravados à época pelos cortes nas reformas, eram muito limitados, pelo que se tornavam quase incompatíveis, não apenas com as rendas que lhes eram pedidas, cuja liberalização iria ajudar à “festa”, mas com os próprios preços dos bens e serviços.
“Essa gente é, em geral, oriunda da província e devia a ela regressar, porque teriam aí uma vida mais compatível com os seus recursos. Não digo que para isso seja necessário recorrer a medidas constrangentes, mas o mesmo resultado podia ser obtido por um “mix” de métodos administrativos”.
Os interlocutores franceses estavam siderados, calados de espanto. Eu, embaixador daquela figura, estava interiormente furibundo. E envergonhado. A certa altura, não me contive: “No Cambodja, já experimentaram isso”. O homem, que acumulava a palermice ideológica com o ser um ignorante da História, olhou para mim e inquiriu: “Com políticas públicas?”
Quem lhe respondeu foram as gargalhadas de dois ou três dos franceses sentados naquele pequeno almoço de trabalho. Sabia lá ele quem tinha sido o Pol Pot e as suas celeradas medidas de migrações forçadas para os campos!
Tenho contado este episódio muitas vezes e já me aconteceu cruzar-me com a personagem.
quarta-feira, fevereiro 19, 2020
Dietas
O mendigo para a finaça: “Estou sem comer há dois dias!” Resposta da gordaça, entre dietas: “Quem me dera ter a sua força de vontade!”
A morte, sem dramas
Gostei de ler, há pouco: a morte é um dia como os outros. Só que acaba mais cedo
Bolsonaro
O presidente brasileiro dá, a cada dia, sinais de crescente desequilíbrio emocional e de uma imensa dificuldade em viver sob a pressão crítica que a vida democrática implica. Os ataques à dignidade das mulheres, sob a capa de reação à imprensa, atingiram agora níveis inimagináveis. Até onde isto levará o Brasil?
Contra o vento
Vivemos num país de emoções: fortes, definitivas e superlativas. Com fervor quase militante, esgaravatamos o quotidiano para encontrar razões para nos mantermos em estado fervente, sempre escandalizados com “eles”, auto-flagelatórios com tudo “isto”. Se um país corrente, comum, tão igual como os outros, com defeitos e virtudes, ameaça emergir no horizonte, saltamos logo da trincheira: ou somos os melhores do mundo ou somos a escória e a vergonha da vizinhança. Ai de quem nos insulte chamando-nos normais!
Nunca Portugal viveu melhor, em toda a sua História, nunca a generalidade dos seus cidadãos, em média, teve uma vida tão confortável, em matéria de direitos, de segurança, de rendimentos ou de bem-estar. E, no entanto, se olharmos alguns títulos e o caráter façanhudo de certas pantalhas televisivas, dá ideia que o país está a caminho dos níveis de Aleppo. O nosso serviço público de saúde é notado como um dos mais eficazes do mundo, mas são as suas falhas, que sempre existiram, mas eram aturadas em silêncio, que agora fazem a notícia. Quando as estatísticas de segurança interna esmagam a boataria dos números falsos da criminalidade, não há quem não lembre que teve uma prima vítima de esticão na mala de mão, como se pudesse passar pela cabeça de alguém haver o menor orgulho em sermos o terceiro país mais seguro do mundo. Passámos décadas a gastar milhões para trazer turistas de fora, para atenuar a conversa dos comerciantes de que “isto este ano está pior do que no ano passado”. Um dia, os turistas vieram: “São demais! Lá se vai a nossa identidade! Invadem-nos a cidade!”.
E então, a corrupção? Não temos? Claro que temos, como temos o combate à corrupção, cada vez mais eficaz, o que a torna mais visível, infelizmente nunca tão eficaz que consiga erradicá-la por completo. Mas ninguém tem a coragem de dizer, alto e bom som, que os níveis de corrupção em Portugal estão perfeitamente na média dos países com o nosso grau de desenvolvimento. Espera aí! Mas a estatísticas não dizem que estamos no “topo”? Não dá jeito ler bem, não é? É que confundir deliberadamente corrupção efetiva com “perceção de corrupção”, que é o que tem sido alegado, é muito confortável para o achismo da “conversa de taxista” e vai muito com o ar do tempo e o discurso tremendista dos indignados profissionais.
É bom ser português. Tenho a ideia de que, nos dias de hoje, há muita gente que, pensando isso intimamente, teme dizê-lo alto, de tão policiado que anda pelos profissionais do pessimismo.
terça-feira, fevereiro 18, 2020
O comissário mistério
No lançamento de um livro de Carlos Moedas (evento a que não fui, apenas por impossibilidade absoluta de agenda, dada a simpatia que tenho pelo autor), Pedro Passos Coelho revelou que o nome de Maria Luís Albuquerque foi equacionado por si para Comissário a indicar por Portugal, ainda antes do de Moedas. Mas disse mais: que Jean-Claude Junker lhe sugeriu um outro nome, que o então PM não aceitou. Quem seria?
segunda-feira, fevereiro 17, 2020
O racismo no Estado Novo
O tema Marega trouxe por aí a peregrina ideia de que no tempo da ditadura é que era bom: não havia racismo, brancos e pretos viviam num mundo ideal de entendimento, o Portugal pluricontinental e plurirracial era, assim, “outra loiça”. Só faltou trazerem “o preto da Casa Africana” para o atestar. No fundo, subliminarmente, fica a ideia: a democracia é que estragou tudo isso!
Salazar, na sua bondade integradora, até tinha “eleito” uma deputada negra, para além dos indianos regularmente exibidos pelo regime. Mais do que isso: a ditadura nomeou mesmo um negro como Secretário de Educação de Angola, Pinheiro da Silva, que veio a tornar-se Procurador à Câmara Corporativa. Ah! Se o 25 de abril não tivesse aparecido!
É claro que, pelo meio, houve a guerra do Ultramar (para quem achava que aquilo eram possessões portuguesas) ou guerra colonial (para quem sabia que aquilo eram colónias) ou guerra de África (para quem pretende disfarçar-se por detrás dos eufemismos). Mas isso são “fait divers”, somados a mais de 10 mil mortos, só do lado “de cá”... porque os pretos mortos fazem parte de uma outra contabilidade, que nunca foi a “nossa”.
Um dia, na “metrópole”, nesse ambiente de consabida igualdade que prevalecia entre os diferentes coloridos humanos, sempre em amena convivência, teve lugar uma altercação entre dois políticos do regime: o já referido Pinheiro da Silva e o deputado salazarista Júlio Evangelista. Este último terá dito algo tido por insultuoso, o que levou Pinheiro da Silva a avançar para ele. O verniz do convívio multirracial estalou na frase de Júlio Evangelista, que a pequena história, com maior ou menor rigor, acolheu: “Alto lá! Preto não bate em branco!”
Uma questão de decência
Já se percebeu que a sociedade portuguesa só reage e atua sob pressão do escândalo. O caso Marega é uma extraordinária ocasião para suscitar um saudável movimento nacional contra o racismo, com impacto nas escolas, na comunicação social, em toda a sociedade. Importante, contudo, é evitar que o tema se torne refém de agendas políticas e de oportunismos. Lutar contra o racismo é apenas uma questão de decência.
domingo, fevereiro 16, 2020
Marega
Marega foi um homem de coragem. Não apenas ao querer abandonar o campo, quando alvo de insultos racistas, mas especialmente ao levar o seu ato até ao fim, não obstante as pressões que sofreu.
CGTP
A nova líder da CGTP, vem agora a saber-se, nunca trabalhou numa empresa. Mas foi assalariada... da própria CGTP, o que constituiu, em toda a sua vida, o seu único emprego. Confesso que tenho alguma curiosidade em saber quantas ações reivindicativas, quantas greves, promoveu contra o seu patronato.
Da Opinião à Cotovia
A Cotovia é uma editora ousada. Há meses, com a Imprensa Nacional, meteu-se na esplêndida aventura de editar as crónicas de Nuno Brederode Santos, uma iniciativa que, nada garantindo à partida vir a ser um êxito editorial, antes pelo contrário, mostra uma saudável responsabilidade cultural. Se já tinha uma simpatia pelo seu catálogo, ganhei, nesse momento, um maior respeito pela linha orientadora da ação da Cotovia.
Leio agora que a editora vai sair do espaço que ocupava, num edifício de montras largas, entre a rua Nova da Trindade e as Escadinhas do Duque. Passa a vender on-line e, claro, abandona o centro de Lisboa, uma zona da cidade que está cada vez menos amiga dos livros. (Há dias, andei pela rua da Misericórdia, ali perto, e constatei que, através das portas dos antigos alfarrabistas que conheci, se acede hoje a um mundo de comes-e-bebes quase só dedicado a turistas. Cada tempo tem os seus usos e a nostalgia não é para aqui chamada.)
A Cotovia sai de um lugar que, noutros tempos, conheci muito bem. Entre 1971 e 1980, aí funcionou a Opinião, uma aventura livreira e não só - era uma galeria de arte, vendia discos e havia um simpático bar no último dos quatro pisos.
Foi em finais de 1971 que comecei a trabalhar, não muito longe, no Calhariz, e a Opinião, criada logo em dezembro desse ano, era para mim e alguns amigos um lugar regular de pouso, ao final da tarde.
No bar, onde tenho na memória o vício de tomar Cuba Libre (bem à moda, por essa época), cruzei então várias figuras de uma certa intelectualidade lisboeta, alguma que tinha estado ligada à criação da Opinião e que, politicamente, andava dentro ou nas franjas do clandestino PCP.
Algum pessoal dos jornais vespertinos do Bairro Alto andava bastante por ali, com o “República” como vizinho. Foi na Opinião que o jornalista Carlos Albino adquiriu o disco que iria servir de senha do 25 de abril. Ali conheci Batista-Bastos, que trabalhava no “Diário Popular“, uma das figuras mais marcantes dessas tertúlias improvisadas, em fins de tarde agradáveis, que me atenuavam as horas de contabilidade que passava na minha atividade bancária.
A atividade da casa testava então as margens, cada vez mais estreitas, da “abertura” marcelista. Recordo bem uma conversa tida na Opinião com o historiador A.H. de Oliveira Marques o qual, a propósito da edição da sua História de Portugal, no dia em que foi ali lançada, me referiu uma conversa que havia tido com o próprio Marcelo Caetano, que o estimulara pessoalmente no empreendimento.
Às vezes, saíamos da Opinião em grupo, para espetáculos teatrais, sob a mão orientadora de Carlos Porto, o crítico de teatro do Diário de Lisboa, cuja mulher, Teresa, trabalhava na livraria, lado a lado com um amigo cujo nome agora me escapa, que antecedeu a chegada do Hipólito Clemente, que se tornaria na “cara” da Opinião até ao seu encerramento. Essas noites acabavam, em conversas e jantaradas, na Ribadoura, na Portugália e até no restaurante das bombas de gasolina da Rotunda da Encarnação. Não havia por li nenhuma particular boémia ou aventura, apenas um espírito de convívio e partilha cultural que, para o miúdo recém-entrado na casa do 20 que eu então era, constituia uma “porta” interessante para uma cidade que por essa via se lhe abria.
Depois, a tropa e a vida diplomática foram-me distanciando desse convívio, mas voltei sempre, regularmente, à Opinião, para saber de “novidades” livrescas, contando com a cumplicidade do Hipólito Clemente, que ali oficiou na segunda metade dos anos 70, para conseguir obter alguns livros menos “fáceis”.
Quando, em 1979, fui viver para a Noruega, combinei com ele as minhas regulares encomendas de “coisas” que fossem saindo e que a flexibilidade da utilização da mala diplomática me fazia chegar a Oslo, juntamente com os jornais. O acordo não durou muito tempo. A Opinião fechou no ano seguinte, sem hipótese de empréstimos bancários, porque, como dizia o Hipólito (e a Isabel dos Santos seguramente confirma), “a banca só empresta a quem o tem”.
Agora, nem Opinião nem Cotovia. Resta a curiosidade de saber que ramo de negócio irá ocupar o edifício. Há uns anos, recordo-me daquele espaço ter sido ocupado por uma atividade ligada a produtos eróticos. A cultura tem muitas formas...
sábado, fevereiro 15, 2020
Os americanos
Verdade seja que Trump na Casa Branca ajuda bastante, mas é patético ver algumas pessoas colocarem-se, “porque sim!”, contra os EUA, praticamente a propósito de qualquer assunto.
Devemos ser contra os EUA quando tivermos razões para o ser, e há boas e frequentes ocasiões para tal, mas é ridículo fazê-lo por sistema.
Os ministros de Salazar
Há dias, estava a almoçar com um amigo num certo local de Lisboa e fiz-lhe notar que, ao nosso lado, estava um antigo ministro dos governos de Salazar. Era Pedro Soares Martinez, ministro da Saúde em 1962/63, hoje com 94 anos.
Interrogámo-nos então sobre quantos mais colaboradores políticos do ditador de Santa Comba ainda existiriam. E concluimos que seriam apenas Adriano Moreira, ministro do Ultramar (1961/63), com 97 anos, e Mário Júlio de Almeida Costa, ministro da Justiça (1967/73), com 92 anos.
Ontem, outro amigo lembrou-se de João Dias Rosas, ministro das Finanças (1968/72). É tio do historiador Fernando Rosas e, na segunda-feira, faz 99 anos. São assim quatro, esses antigos ministros do Estado Novo.
Para que é que isto interessa? Para nada. Ou melhor, para a curiosidade de pessoas como eu, para os amadores de trívia.
A igreja e o referendo
A igreja tem todo o direito de expressar a sua oposição à eutanásia. Surpresa seria se o não fizesse. O que é estranho é que, depois de ter afirmado no passado que “a vida não se referenda”, surja agora a apelar ao referendo quando percebe que a relação parlamentar de forças lhe é desfavorável.
sexta-feira, fevereiro 14, 2020
Estupidez
A maior estupidez do debate sobre a eutanásia foi ter-se transformado o assunto numa trincheira esquerda-direita.
Trump no dia dos namorados
Não sei se discutir a política de Trump, como vou estar a fazer daqui a minutos num painel num pequeno-almoço de trabalho organizado para os associados da Câmara de Comércio Americana em Portugal é a melhor maneira de comemorar este Valentine’s Day. Ou talvez seja, porque, como ouvi uma vez a alguém, em Londres, “Ballantine’s Day is everyday”...
quinta-feira, fevereiro 13, 2020
Todos os nomes
Ontem, num grupo de amigos, veio à baila o novo líder do CDS. Melhor: o seu nome.
Alguém se perguntava: “Francisco Rodrigues dos Santos não será um nome demasiado longo para um líder partidário ser conhecido?”. De facto, há um costume de designar os políticos por dois nomes, contrariamente àquilo que frequentemente se passava no seculo XIX e mesmo com algumas figuras da Primeira República. Sá Carneiro só passa hoje a Francisco Sá Carneiro em alguns discursos dentro do PSD. Cavaco Silva deixou para trás o Aníbal bem cedo, como aliás perdeu o “e” logo no início do seu percurso: para quem não se lembrar, recordo que começou a ser designado por “Cavaco e Silva” (como, mais tarde, o seria “Marinho e Pinto”).
Se o jovem líder do CDS encurtar o nome para “Rodrigues dos Santos”, também se concluiu, vai ser uma confusão, quando for entrevistado no Jornal da Noite da RTP. Já havia aí boatos que eram familiares. E “Francisco Santos” não parece lá muito apelativo...
“E se continuasse a ser designado por “Chicão”? É um bom nome, forte”, alvitrou alguém. “Mas é mais para capitão de uma equipa de rugby, não é?”, disse outro. O humor não parou: “Sempre é melhor do que se chamasse Chiquinho!”. Mas logo se conclui que, em qualquer caso, é difícil a um jornalista dirigir-se a alguém por um “nickname”.
Uma pessoa que sugeriu que ele tentasse crismar a sigla FRS. Pelo ambiente em que estávamos, coibi-me de dizer que, politicamente, essa sigla não traz grandes memórias à política doméstica: era a Frente Republicana e Socialista, um “abraço” frentista liderado pelo PS, que acabou por não ser, longe disso, a “finest hour” socialista. Mas dadas as atuais ambições políticas do CDS...
Porque tenho estas coisas bem estudadas, expliquei que, em Portugal, as siglas de nomes de pessoas são muito raras. Pode dizer-se que apenas “pegaram” APV (António-Pedro Vasconcelos), BB (Baptista Bastos), PQP (Pedro Queiroz Pereira), EPC (Eduardo Prado Coelho), MEC (Miguel Esteves Cardoso) e, com bem menor popularidade, VPV (Vasco Pulido Valente), VGM (Vasco Graça Moura) e MST (Miguel Sousa Tavares). Alguém lembrou JJ para Jorge Jesus, mas a minha memória futebolística liga a sigla a Jacinto João, um antigo jogador do Vitória de Setúbal.
Portanto, a questão do jovem do CDS não ficou “resolvida”. E ninguém se referiu ao facto de José Manuel Durão Barroso, quando foi liderar a Comissão Europeia, ter artificialmente decidido impor o nome de José Barroso. “Fez bem”, dir-me-ia uns anos mais tarde um amigo meu de Bruxelas, “com a maneira como se deixou ficar nas mãos dos grandes países, manter o Durão seria de facto inadequado...”
Já estou a imaginar o que alguns leitores estarão a pensar: estes tipos não têm mais nada com que se preocupar? Ora essa! Falamos do que nos dá na gana e ninguém tem nada a ver com isso.
Malaca Casteleiro
Malaca Casteleiro foi um distinto linguista e professor universitário, com uma notável carreira académica, reconhecida pelos seus pares.
Indicado pela Academia das Ciências de Portugal, foi o responsável, a par dos académicos brasileiros Antônio Houaiss e, posteriormente, Evanildo Bechara, pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa atualmente em vigor.
Malaca Casteleiro morreu há dias. Sabemos que o Acordo Ortográfico tem os seus detratores, pelo que se entende que, na hora da morte daquele professor universitário, estes não tenham querido saudar a sua personalidade, muito embora tivessem a obrigação de entender que o trabalho e a obra de uma vida não se resumem à intervenção numa negociação específica.
Mas foi absolutamente miserável a campanha de ironias e expressões insultuosas que surgiu pelas redes sociais, na sequência do desaparecimento de Malaca Casteleiro, provando, se necessário fosse, que a baixeza reles está no ADN de alguma gentalha que por aí anda pelas caixas de comentários.
A RTP e o serviço público
A RTP 2 transmitiu, na noite de ontem, o documentário “Resistir à Cegueira do Mundo - Eduardo Prado Coelho”, realizado por Abílio Leitão, com importante apoio da RTP.
Tratou-se de um excelente tributo à vida e obra de uma grande e multifacetada figura intelectual portuguesa.
Àqueles que, com frequência, questionam a utilidade do serviço público da RTP deixo uma simples pergunta: que outro canal televisivo estaria disposto a ajudar à produção de um documentário desta natureza?
quarta-feira, fevereiro 12, 2020
As surpresas do Presidente
Há menos de um ano, antes do ciclo eleitoral de 2019, numa intervenção perante políticos americanos na FLAD, Marcelo Rebelo de Sousa, como que num regresso pontual ao seu papel de comentador, prenunciou, também em face de uma comunicação social que ali não estava por acaso, que a direita iria em breve entrar num período de turbulência. Acrescentou então, numa mensagem deliberadamente sossegante para esse setor político, do qual fez questão de lembrar ser oriundo, de que ele próprio seria garante do equilíbrio do sistema, no caso da balança vir a inclinar-se demasiado para a esquerda.
O presidente é um bom analista, mas, olhando para o que então disse, quer-me parecer que a realidade acabou por surpreendê-lo. É que nem as dinâmicas à direita apresentam hoje os contornos que, à época, era legítimo pressupor, nem os socialistas acabaram por sair dessas contendas tão à vontade como então ainda se julgava possível.
Estou em crer que o modo como o parlamento se fragmentou preocupa bastante o chefe de Estado. Se ele não desejava, naturalmente, um PS com maioria absoluta, admito que já deva ter saudades da Geringonça. É que nada pode disfarçar que, como se viu na discussão do orçamento, a turbulência se instalou nos dois lados do cenário político.
Rui Rio sai do Congresso um pouco melhor do que alguns esperariam, num PSD que se revela como nunca um partido de autarcas. Com Montenegro cada vez mais desgastado, a oposição interna tem hoje como ponto sebastiânico de referência um longínquo Passos Coelho - e já se percebeu que este não tem apetência para regressar a jogo e apenas está disponível para tentar suceder um dia a Marcelo em Belém. Para já, Rio comprou tempo até às eleições autárquicas. Se então falhar, sendo que a medida disso será sempre muito discutível, há por ali uma mão cheia de “jovens turcos” prontos para a sucessão, o que também a não facilita.
O desfecho de liderança no CDS teve já muito a ver com a nova relação parlamentar de forças, com a disputa de um eleitorado polarizado pelo discurso extremado do Chega, que levou o partido a uma desastrada tentativa de cooptação de alas que passavam já as linhas vermelhas da decência democrática. O pânico da irrelevância é um fator de união, mas as feridas não parece terem ficado saradas para os lados do Caldas.
Há menos de um ano, o presidente mostrava-se inquieto com o futuro da direita. E se, afinal, os problemas do seu novo mandato surgirem de uma esquerda onde o PS já não tem a faca e o queijo (nem limiano) na mão?
terça-feira, fevereiro 11, 2020
Diplomacia
Gosto desta definição de diplomata: um cavalheiro que sabe o dia do aniversário de uma senhora, mas esquece o ano em que ela nasceu.
segunda-feira, fevereiro 10, 2020
Eu e a eutanásia
Confesso que não tenho uma posição firme sobre a eutanásia, embora, por prudência íntima, alimente, à partida, uma predisposição bastante reticente na matéria. Mas, ao ver pessoas que respeito, e com filosofias de vida muito diversas da minha, favoráveis à ideia, admito poder rever a minha atitude.
Tenho, no entanto, uma firme certeza: sou 1000% contra a ideia de submeter esta questão (ou qualquer outra, diga- se!) ao demagógico instituto do referendo, um caldeirão fácil de preconceitos e emoções.
Portugal é uma democracia representativa. Elegemos para a Assembleia da República deputados que, em nosso nome, votam as leis, que passam depois pelo crivo do chefe de Estado e, se necessário, pelo Tribunal Constitucional.
Eu confio na democracia.
Caio em cada uma!
Desde há semanas que, em jornais e pelas redes sociais, vejo referências a um determinado livro de memórias. Não interessa o título, não interessa o autor. Hoje de manhã, numa livraria, o volume ali estava. Comprei-o. Mal o abri, constatei que a memória é daquelas que, com imensa originalidade, começa na escola primária e vai por aí adiante, numa inebriante sequência cronológica, que nos faz deparar, curiosamente, com o ano seguinte depois do anterior. A escrita revelava-se tão simplória que, num primeiro momento, lhe dei o benefício de poder querer ser mesmo assim, na busca deliberada do “telúrico” saloio, que faz um certo género. Mas não! A certa altura, a narrativa começa mesmo a tornar-se imparavelmente espessa, chata, penosa de leitura. A espaços de lucidez falhada, o autor ainda se desunha em tentar desenhar algumas flores de retórica estilística, as quais, logo na linha seguinte, cuida em enterrar num chorrilho de banalidades. Com esforço crescente mas boa vontade declinante, lá fui andando, até conseguir chegar quase a meio do volume. Mas, agora, foi demais! Parei, em definitivo, depois de ler esta pérola: “Pude constatar, com encanto, que as duas jovens, para além da sua beleza, tinham dentro de si uma não menor formosura”. Não, isto é demais! Caio em cada uma!
Dá-se um doce...
É necessário um imenso esforço de imaginação para se chegar ao nome em que Santana Lopes estava a pensar quando hoje disse na rádio que o “Aliança” poderia vir a ter um candidato presidencial.
domingo, fevereiro 09, 2020
O perigo das escutas
- Olá! Temos de falar.
- Também acho. Aquilo em Viana correu pior do que eu pensava.
- Bem se tentou agitar as águas, mas os tipos traziam as coisas bem oleadas.
- Assim não vamos lá!
- Não há que desesperar. Temos é que definir uma estratégia clara para o futuro.
- Acho importante que fique assente o que vamos fazer com o Ventura. Começamos a trabalhar noutro nome? É que eu vejo o pessoal muito hesitante, depois da crise com o tal Abel e as conversas que os “chuchas” terão tido com o Caldas.
- Queres ir almoçar ao Salsa e Coentros?
- (Gargalhada). Depois de hoje, temos de cortar nos custos. Vamos aos Courenses...
Bolachas?
Há dias, vi um lugar vago para estacionar numa lateral da avenida da República. Achei que era sorte demais. E era: a placa dizia “Aliança”. Lembrei-me das ”Bolachas Aliança” e, só depois, de um “partido” unipessoal que teve o destino que se viu.
Confissão impopular
Ainda não me decidi sobre se Rui Pinto deve ser louvado pelo facto de ter permitido o acesso a informações que podem ajudar a pôr a nu grandes traficâncias e trafulhices, pelo que deve ser solto e pode ajudar as autoridades no combate às redes criminosas ou se é, ele próprio, um simples criminoso que, movido por interesses pessoais, praticou delitos graves na área do crime informático, que devem levá-lo a passar uns bons anos na cadeia.
Verdade seja que o facto de eu não ser adepto do Benfica ou do Porto não favorece muito a minha tomada de decisão.
É uma chatice, não é?
Sei que não dá jeito a algumas agendas, sei que vai haver logo gente a relativizar e desvalorizar isto, mas as coisas são o que são! É uma chatice, não é?
Bolas
Estão criadas as condições para que os próximos meses sejam preenchidos pelas polémicas do futebol. Os panfletos clubistas, que por cá fazem o papel de imprensa “desportiva”, e as televisões - infelizmente, todas elas - vão servir de palco a intermináveis debates, teorias conspirativas e acirramento dos confrontos. Se o país se quer maniqueu, que havemos de fazer? Podia-lhe dar para pior. Assim, dá-lhe para a bola.
OVNIs e outras distrações
É minha impressão ou anda por aí uma nova mania dos OVNIs? É uma espécie de coisa cíclica.
À margem do Lima
A hostilidade do “Observador” à linha de Rui Rio é manifesta em toda a sua cobertura do Congresso do PSD. Fica a ideia de haver por ali uma certa orfandade...
sábado, fevereiro 08, 2020
Populismo
Populismo é procurar explorar os instintos medíocres de quantos, não sabendo fazer nada, não querem que nada se faça. Populismo é pôr o parlamento ao serviço do imobilismo, degradando a imagem da instituição. Populismo é procurar travar o metro de Lisboa, apenas "porque sim".
Eu, o João e a Lampreia
A revista “Sábado” desta semana, em três belas páginas, explica que onde se come uma bela lampreia é na “Imperial de Campo de Ourique”. Onde é? Na rua Correia Teles, 67.
Ora eu, para mal dos meus pecados (por muito poucos que eles sejam, como é sabido!), não aprecio por aí além o ciclóstomo. Por esta altura do ano, sou desafiado por vários grupos de amigos para jornadas de lampreia. E lá tenho eu de explicar que o bicho nunca fez o meu género, que por isso não posso alinhar nessas alegres almoçaradas, confissão que faz subliminarmente baixar a minha cotação de gastrónomo (criada por outros, que não por mim, que sempre só me achei “gastrófilo”) e ser olhado, de forma piedosa, por esse seleto grupo de eleitos do gosto.
Mas voltemos à “Imperial”. Se fosse só pela lampreia desta época, o meu amigo João, um simpático minhoto da Barca que é dono da casa, nunca me apanhava por lá. Mas a “Imperial” tem muito mais coisas, que rodam ao longo da semana, saídas das mãos da serena dona Adelaide, trazidas às mesas pelo João e pelo filho Nuno. Ah! Quem espere luxos por ali, desengane-se: a “Imperial” é a simplicidade feita lugar.
É pelas várias propostas de cozinha tradicional portuguesa que por ali se servem, mas muito também pela amizade que, ao longo de anos, criámos com aquela simpática família, que, quase sempre uma vez por semana, por lá vamos parando para almoço (A “Imperial” só abre para jantares por encomenda, para quem esteja interessado). Jamais lá iria pela lampreia! Já agora, um aviso: se perguntarem ao João como está um qualquer prato, preparem-se para ouvir, invariavelmente, a sua expressão já clássica: “Um espetáculo!”
sexta-feira, fevereiro 07, 2020
Clima e mentalidades
Há não muitos meses, ouvi alguém com grandes responsabilidades dizer mais ou menos isto: a crise climática apresenta-se hoje já tão grave que, daqui por uns tempos, como única forma de salvar o planeta, pode vir a ser necessário impor medidas muito drásticas, que terão como consequência alterar radicalmente os nossos padrões de vida, criando muitos incómodos e suscitando fortes reações. A grande questão estará então em saber se os governos nacionais terão condições políticas para, em regime democrático, conseguirem levar à prática essas medidas, alegando “estado de necessidade”. E o meu interlocutor interrogou-se: e se os cidadãos - repito, em pleno exercício das regras da democracia - não aceitarem essas imposições, seja por egoísmo seja por não estarem convencidos de que essas soluções drásticas são, de facto, necessárias? O plano B, para salvar o planeta, terá então de passar à margem da democracia? Como? Manu militari? Ou, em alternativa, para respeitar a democracia, deixa-se o planeta “afundar”? Fiquei a pensar nisto.
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