Foi na noite de ontem, num cruzamento, algures em Lisboa. Ao contrário do autocarro que se vê na imagem, aquele ia vazio, e apenas com o condutor, como vim a constatar. Não era um veículo fora de serviço, tinha o número de uma linha bem conhecida. Estranhamente, vi que estava a fazer marcha atrás, recuando de uma das ruas do cruzamento. Algum obstáculo inesperado? A operação, com um veículo daquela dimensão, não estava a ser fácil. Eu e os carros que me seguiam parámos. Como é de regra de civismo básico, tratando-se de um transporte público, aguardámos o fim da operação, com natural paciência. O autocarro, creio que ao fim de pouco mais de um minuto, completou a manobra. Ficou de frente para nós, ocupando toda a rua, impedindo a nossa passagem. Esperámos que o veículo arrancasse, para uma das duas direções possíveis. Mas não. Vimos a porta dianteira do autocarro abrir-se e a luzes interiores acenderem-se. O motorista, para minha surpresa, saiu pela porta por onde entram os passageiros e aproximou-se do meu carro. Pensei: deve ter uma avaria e vai informar-nos de que temos de tomar um percurso alternativo. Com ar calmo, o homem disse-me: "O senhor pode dar-me uma ajuda? Conhece bem esta zona?". Eu conhecia, muito bem. Ele perguntou então: "Como é que eu chego daqui a ...?". Abismado com o insólito da situação mas, confesso, também com a calma sorridente do homem (que devia ter consciência de que o seu interlocutor estava confrontado com uma circunstância em absoluto inédita), retorqui, apontando numa das direções: "Se continuar por ali, sempre em frente, vai dar lá". O motorista agradeceu, regressou calmamente ao autocarro "perdido" e avançou pelo caminho que lhe indiquei. No carro, eu e a minha mulher demos umas boas gargalhadas. Caramba! Foi a primeira (e seguramente será a última vez) na vida que ajudámos um motorista da Carris a encontrar o seu caminho pelas ruas de Lisboa. Que mais nos estará para acontecer? O mundo anda esquisito, não anda?
16 comentários:
Deve ser novo na casa e as apps dos mapas que usa para fixar as carreiras deve-lhes ter dado alguma macacoa.
Como essa do "que mais nos estará para acontecer?" lembrei-me logo do Coronel Carrasco.
for once in my life...
Bonjour !
Talvez o homem se tenha perdido ali para os lados de Campo De Ourique (?)
Como bem o sabe, é preciso de tudo para fazer um mundo.
Bonne journée à vous
Gostei!
Tony Fedup
O Francisco deveria ter tirado o número do autocarro e denunciado o incidente à Carris. É inadmissível que um motorista seja posto a fazer uma carreira sem conhecer bem o trajeto dela.
Há alguns meses, na área Metropolitana do Porto, foram reorganizados os transportes metropolitanos e criada uma rede a que chamaram UNIR, com dezenas de autocarros, reformulação de percursos e criação de novos.
Na primeira semana de funcionamento foram vários os motoristas que se perderam. Segundo alguns utentes, em declarações para a comunicação social, afirmaram que andaram mais de duas horas no autocarro, porque o motorista andou por sítios desconhecidos e depois fez o percurso ao contrário…
Recordo de ter ouvido o Presidente da Área Metropolitana a justificar o sucedido.
Ao menos esse autocarro ia vazio, só o motorista andava perdido.
J. Carvalho
No país das maravilhas tudo é possível.
Luís Lavoura, não seja tão duro! Se assim fosse ficaríamos sem motoristas e, à semelhança de outras atividades que passaram a ser "self", teriam que ser os utentes a conduzir os autocarros.
Quem nunca falhou que atire a primeira pedra.
Tony Fedup
Duvido que o autocarro vazio, apesar de lá ter o número da carreira, estivesse “em serviço”, o mais certo é que estivesse a regressar à “base” e o motorista, porque vinha por caminhos que conhecia mal e, não sendo os da dita carreira, não tivesse retirado a indicação (acontece muito desde sempre), talvez porque se esqueceu depois de umas boas horas de trabalho no transito “amigável” de Lisboa, se o é para carros leves quanto mais para pesados, se os taxistas (não falo da UBER que abolimos aqui em casa) já dão em malucos ao fim de umas horas com carros do tamanho dos nossos, imagine-se o que é andar com autocarros o dia todo, muitas vezes por ruas onde têm que sair para encolher o espelho da direita depois de terem encolhido o da esquerda e mesmo assim são tangentes aos carros estacionados à balda.
Como eu sou o tal que não tem vergonha de dizer aqui que tem três carros pouco mais que parados (capitalista explorador), mas ainda tem menos vergonha de dizer que em Lisboa só anda de autocarro e Metro com o seu passe todos os dias do ano (proletário explorado), uma espécie de Dr. Jekyll e Mr. Hyde das deslocações, tenho assim o saber de experiência feito sobre estas pequenas situações do dia-a-dia que escapam a quem não tem a experiência que lhe traria o saber.
Duas observações ainda.
O Francisco de Sousa Rodrigues tem razão (como é habitual), para mais se a minha “tese” do regresso a casa estiver correcta, mas seria longo de explicar e, de qualquer modo, não adiantaria nada.
O “exterminador implacável” Luís Lavoura, que nos conta que faz tudo a pé de casa para o local onde tem emprego e do local onde tem emprego para casa, sempre pronto a castigar tudo e todos a todas as horas do dia, o “cidadão perfeito”.
Ainda ontem me fez aqui umas observações sobre viajantes de carro e de avião, não lhe passa pela cabeça que a história tenha anos suficientes para ser do tempo em que nem toda a gente tinha carro ainda que viajasse de avião.
Finalmente duas histórias.
Eu tenho um NOKIA 3310 e portanto aplicações nicles.
Minha mulher costumava chamar um UBER quando eu não a posso levar (deixou de guiar por razões várias de saúde, anda a retomar o hábito).
Como já há poucos condutores portugueses e agora muitos deles nem inglês fala, além de estarem tão inseridos na sociedade que ao mínimo incómodo esticam o braço pela janela e espetam o dedo do meio, voltou-se aos táxis que também mudaram para melhor, a concorrência ajudou a algum esforço nesse sentido.
A última vez que andou num dizia-lhe o motorista “ando aqui 12 horas por dia, a certa altura estou num estado tal que, mesmo quando tenho razão, já peço desculpa só para não me chatear mais”.
Há dias ao saír da minha garagem estava um UBER ali especado e eu que fizesse manobras, chamei-lhe a atenção, lá se meteu no carro mas não sem antes me dizer (falava português mas do outro lado do oceano) que “vocês aqui quando têm razão começam logo a chatear”.
Leram bem: “Quando têm razão!”
Tony Fedup eu não pretendo ser duro (ou que a empresa seja dura) com o motorista. Pretendo é ser duro com a empresa, a qual deve, antes de pôr um motorista numa certa carreira, certificar-se de que ele circulou nela o número de vezes suficiente para não se enganar no caminho.
Anónimo
Na primeira semana de funcionamento foram vários os motoristas que se perderam.
É normal. Como foi efetuada uma revolução nas carreiras, a empresa não deve ter tido tempo suficiente para ensinar adequadamente a todos os motoristas os trajetos novos que teriam de percorrer.
É o que dá fazer grandes revoluções.
Isto exibe má gestão da parte da empresa. A culpa não é dos motoristas, é da empresa que decide fazer muitas mudanças sem que tenha recursos para educar adequadamente os motoristas.
Tenho aqui um textozito com uma semana, escrito ali entre as 3 e as 4 da manhã de uma noite em que o sono ainda vinha menos que o costume, mas que não iria pôr aqui sem uma oportunidade adequada (há off-topics e off-topics).
Vai a seguir, com sua licença.
Estou aqui a fazer horas não sei bem para o quê, mas como passamos uma boa parte da nossa vida a fazer horas, a certa altura começa-se a usar esses bocados de tempo para fazer alguma coisa que seja passível de ser interrompido.
Aqui há uns anos li algures que “as pessoas que nos vêm contar nas redes sociais os seus terríveis problemas deviam depois vir dizer algo quando finalmente os resolveram, escusavam de nos deixar a todos nesta angústia terrível”.
Precisamente para acalmar alguma preocupação que, com a falta de notícias, se possa ter generalizado, volto à infame luz amarela do motor, é uma luz que também costuma acender em carros de outras pessoas, alguma utilidade isto terá para alguém.
As centralinas vão lá guardando avisos vários que na hora de os apagar se verifica, muitas vezes pela mera experiência dos mecânicos, que não era nada.
Neste caso estavam lá vários mas foi com o aviso do sensor de NOx que acendeu.
O sensor de NOx pode dar algumas pistas, começando numa avaria do próprio e passando por outras, umas mais complicadas (filtro de partículas entupido, por exemplo), outras nem tanto (válvula EGR muito suja, por exemplo).
Neste caso terá sido um falso alarme, talvez uma regeneração do filtro de partículas que correu mal, não vejo porquê dado que 90% do que ando com ele é em autoestrada, onde o motor do carro atinge temperaturas adequadas durante um tempo suficiente (o combustível que meto é sempre do mais caro, entre a BP e a Repsol, não devia “sujar” muito a EGR).
Tenho andado aí de um lado para o outro com ele, se não voltar a acender esqueço, se voltar a acender substituo o sensor.
Aqui o meu mecânico local não me quis levar nada, o que bem me lixa porque lá vou eu ao PD comprar umas garrafitas que me saem habitualmente mais caras do que se me levasse alguma coisa (diz que é meu amigo, de facto é comigo que desabafa de problemas bem complicados com um dos filhos).
Mas é curioso que alguém que sabe que eu posso pagar sem hesitar para resolver um problema qualquer, me tenha dito “mas esperemos que não seja nada, olhe que estes sensores não são baratos”.
Ando aí a acompanhar os problemas do carro de um neto e não tem sido pêra doce, pelo que só para saber com o que contava lhe pergunto o preço daquilo: 120€.
E a montagem a preço de oficina “algures” e com factura (nem que fosse só por causa da garantia, convém pagar o IVA) não tem nada a ver com a mão-de-obra na capital.
Estes cuidados com a minha bolsa são uma das alegrias de tratar destes assuntos longe de Lisboa.
O que me alertou para a eventualidade muito provável do autocarro não estar "em serviço" foi levar as luzes interiores apagadas e se terem acendido quando ele abriu a porta dianteira.
Por vezes têm que tomar caminhos imprevisíveis para eles, ainda há um mês tive que ir ao Bairro da Serafina e, numa daquelas ruas esquisitas, estreitas e tortas, um autocarro de turismo não conseguiu dar a curva por causa de uns carros parados mesmo ali, não houve ir à frente nem atrás que lhe valesse (eu ter saído do meu carro para o ajudar não adiantou), lá teve que seguir na direcção oposta pois em frente era um beco sem saída, tendo em conta para onde foi ainda lá deve andar às voltas.
Bem observado, Manuel Campos, a bandeira esquecida da última carreira da "chapa" do dia.
Exactamente, meu caro Francisco Sousa Rodrigues.
Essa situação das bandeiras esquecidas é muito vulgar.
Por isso falei de saber de experiência feito, que só quem está de vez em quando numa paragem e os vê passar vazios e sem parar sabe do que se trata.
Por vezes lá trazem o "Reservado" mas, se não estiverem a fazer o percurso normal, é inútil porque quem está à espera do autocarro percebe logo.
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