“Esteve aí o senhor presidente, à sua procura, logo de manhã!”, disse-me. O “presidente”? O presidente da República era Mário Soares e não era minimamente plausível que ele viesse a minha casa. “Qual presidente?”, inquiri, surpreendido. “O presidente da Câmara, o Dr. Jorge Sampaio”.
Fez-se-me logo luz! Eu tinha combinado com Jorge Sampaio que ele viesse a minha casa à “nove e meia”. Só que não disse “da noite”, no pressuposto que ele estaria ciente de que as manhãs dos sábados eram sagradas para o meu sono. Sampaio entendeu que era “da manhã” e, britânico nos costumes, lá tinha estado a essa hora, pontualmente. Eu não tinha ouvido o toque da campainha. Telefonei-lhe, de imediato, rimo-nos do equívoco e, pelas “vinte e uma e trinta” desse mesmo dia, ali regressou ele, de novo.
Para quê? Para a primeira de várias reuniões que o já candidato à presidência da República queria ter sobre temas de política externa, para as quais tinha pedido que fosse mobilizado um grupo de diplomatas da sua confiança pessoal. Ali estavam Luís Castro Mendes, José Filipe Morais Cabral, José Freitas Ferraz e eu. A nós, se juntava Carlos Gaspar, professor universitário, que já tinha sido assessor de Mário Soares.
Sampaio tinha-nos dito que, para essas reuniões, não queria papéis, só ideias. O objetivo era poder ter connosco um “brainstorming” regular sobre as grandes questões internacionais, cruzando perspetivas, alvitrando cenários de possível evolução.
Ficou sempre muito claro que Jorge Sampaio estava bem atento ao mundo, que a nossa contribuição apenas podia servir para algum refrescamento de ideias, em particular sobre alguns dossiês mais específicos e técnicos. Não tenho presente quantas destas reuniões tiveram lugar, mas guardo-as numa muito boa memória.
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