Não sou amigo de Miguel Sousa Tavares. Conhecemo-nos socialmente, a primeira vez creio que em Brasília, em casa de uma amiga comum, a segunda num jantar com um escritor estrangeiro, aqui por Lisboa. Um dia, fui à TVI, a um telejornal, falar com ele sobre Biden e Bolsonaro. Creio que foi tudo. Fica este “disclaimer” para dizer, com à-vontade, o que, a seguir, vou dizer.
O Miguel Sousa Tavares jornalista é uma figura que, há muito, leio com prazer e, em especial, com proveito, desde os tempos da “Grande Reportagem” à sua página no “Expresso”. Mais recentemente, tenho-o visto pouco na televisão, meio que, desde há um ano, frequento com uma imensa parcimónia.
Longe de mim, quando o leio ou oiço, estar sempre de acordo com ele! Mas reconheço-o como alguém que pensa a realidade portuguesa com um olhar culto, informado e empenhado. Além de que Sousa Tavares, mesmo quando comete erros, me pareceu sempre genuíno e sério, sem agendas escondidas nem sendo portador de recados de ninguém.
Pode não se apreciar o seu estilo enfático, às vezes quase sobranceiro, outras muito militante de certas causas que parece serem quase “teimas” pessoais. Muitas vezes, nessa frontalidade destemida para afirmar coisas, até em alguma ligeireza menos desculpável de certas abordagens, faz-me lembrar o seu pai, Francisco Sousa Tavares, uma figura muito interessante, um homem que tinha a polémica à flor da boca, e que igualmente correu os riscos de quem teimava em pensar, às vezes com erros e injustiças, pela própria cabeça.
Miguel Sousa Tavares tem algumas “manias” e ódios ou amores de estimação com que às vezes embirro, que me irritam - e imagino que irritem muitos de quantos por aqui me leem. Mas gostava de deixar bem claro que, correndo os riscos que qualquer “tudólogo” sempre corre, ele esteve sempre a anos-luz, em matéria de qualidade, de alguma mediocridade que hoje pensa estar a ilustrar-se, quando fala por aí, às vezes do que não sabe nem estudou nem deu mostras de ter percebido, em colunas e comentários.
Por isso, reconhecendo o direito a Miguel Sousa Tavares de se ter cansado de tanta exposição mediática e ter decidido arrumar as botas da escrita precária para se dedicar àquilo que também faz muito bem - a escrita literária - quero dizer que não fico feliz com a sua saída do espaço público. E que, decididamente, não me coloco ao lado dos que aplaudem a sua “reforma” do jornalismo. Mas, tomada que foi a sua decisão, só posso desejar que ele se sinta mais feliz assim. Afinal, a vida é dele!
10 comentários:
Quase que subscrevo o que diz de Miguel Sousa Tavares. No entanto, acho que ele se descuidou na forma como faz as entrevistas e a análise na sua coluna de opinião no Expresso, e acaba quase sempre a resvalar para um discurso que se resume à crítica do politicamente correto (mesmo se até nos direitos sociais ele evoluiu) e à queixa permanente de que paga(mos) demasiados impostos.
O exemplo que apresentou sobre os impostos pagos por um jovem que ganha 2700€ na entrevista com o PM foi caricato. Os jovens não ganham isso e muito frequentemente dependem do apoio de um Estado Social que cobra impostos a pessoas que ganham os tais 2700€.
O Estado Português tem um nível de gastos (onde se inclui a redistribuição por via das despesas sociais) comparável aos Estados Social-Democratas do Norte da Europa em percentagem do PIB (acima da Alemanha e muito acima de RU e Irlanda). Se Sousa Tavares e outros estão contra tal coisa, devem assumir também as consequências para os serviços públicos de uma diminuição desse nível de gastos.
Por isso, confesso que tenho saudades do Sousa Tavares do 'Terça à noite' com António Barreto e Pacheco Pereira na SIC (uma pedrada no charco na informação de então) mas não sei se vou ter tantas saudades do Sousa Tavares actual. Em todo o caso, um jornalista mede-se pelo conjunto da carreira e Sousa Tavares representa o melhor que o Portugal democrático produziu em termos de jornalismo...
Tenho dificuldade em aceitar o episódio caricato em que MST explica como funciona a blockchain como mera gafe ou erro. É um assunto complexo que a maioria dos informáticos não compreende porque requer estudo específico e por isso não estou à espera que um jornalista não especializado consiga dar uma explicação clara ou minimamente precisa. Mas inventar uma explicação recorrendo a um jogo de palavras ridículo não inspira qualquer espécie de confiança.
"O Estado Português tem um nível de gastos (onde se inclui a redistribuição por via das despesas sociais) comparável aos Estados Social-Democratas do Norte da Europa em percentagem do PIB (acima da Alemanha e muito acima de RU e Irlanda)."
Ai jaiminho,so phoney.
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"O Estado Português tem um nível de gastos (onde se inclui a redistribuição por via das despesas sociais) comparável aos Estados Social-Democratas do Norte da Europa em percentagem do PIB (acima da Alemanha e muito acima de RU e Irlanda)."
Ai jaiminho,so phoney.
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Gosto do estilo frontal, contundente, e da postura independente. É inteligente saber quando sair - e tão fácil não o saber e não o fazer.
Certo,o Miguel perdeu o fia à meada e perdeu-se muitas vezes em comentários e entrevistas descuidadas.
Tomou a atitude corajosa de se afastar, fez bem.dedique-se à escrita.
Também apreciei muitas vezes MST na imprensa e na televisão. Claro que, para mim, ele sempre foi um centralista Lisboeta, cheio de suficiência e com algumas manias. Também concordo que estava no topo do nosso jornalismo, era inteligente e, julgo também, razoavelmente culto. Aquela dos 2700€ como salário de um jovem é um bocado estratosférica e ter objecções ao pagamento de IRS por quem tem esse rendimento não revela grande sentido do real - é ver quantos estão no 1º 2º e 3º escalões. Portanto, praticamente, não se cobraria IRS em Portugal.
José Figueiredo
Sts, por acaso não é phoney. Estou a falar de despesa pública em percentagem do PIB, veja a sua própria citação.
E veja aqui:
https://www.statista.com/statistics/263220/public-spending-ratio-in-eu-countries/
Ou aqui:
https://data.oecd.org/gga/general-government-spending.htm, pode selecionar os diferentes países.
Os números que conhecia eram mais antigos (a Alemanha ultrapassou Portugal em 2018), mas nos números de 2020, Portugal gastou 48,12% do PIB e a Alemanha 51,09%, com a Irlanda a gastar 28,71%. A Finlândia, o estado nórdico com nível de gastos mais elevado, gastou 56,72%.
Já agora, os estados que mais gastaram são a França e a Bélgica, o que é capaz de ajudar a explicar a decadência relativa do primeiro...
Claro, devem ser descontados os valores gastos com os juros da dívida e as quebras do PIB durante o período da troika, mas no caso dos gastos com juros, estes ascendiam em 2018 a menos de 4% no nosso caso.
Que valores tem o meu caro para apresentar? Nenhuns, imagino...
Eu percebo que queira matar o mensageiro, não é o único, mas vai continuar a ter que me aturar (e eu a si)...
Peanuts de pobretanas jaiminho.
agora deu para desancarem Jaime Santos?
pessoalmente acho-o um dos mais inteligentes e cultos dos contribuintes
maitemachado59
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