Hotel numa antiga colónia portuguesa, no início dos anos 80. Telemóveis era uma coisa, à época, inexistente.
Tinha chegado de Lisboa, lá para as 10 horas da noite. Do quarto, liguei para a telefonista e pedi uma chamada para Portugal.
- O camarada necessita de vir aqui preencher boletim de "registro" de chamada, para a mesma se poder "efetivar".
Lá desci os quatro andares a pé, porque o elevador estava em dia não, e preenchi o boletim, que tinha a curiosidade de ser em triplicado, com papel químico pelo meio, herança burocrática do colono. Perguntei se demorava muito. "Vai ser verificado", foi-me dito.
Como a "verificação" não chegava, lá para a meia-noite, liguei de novo, a insistir.
- O camarada aqui tem que ter paciência. Não tem linha. Aqui há muita falta de linha.
- Então, esqueça! Já não quero chamada nenhuma. Muito obrigado.
- O camarada tem de vir anular boletim.
- Faça isso por mim, por favor, rasgue o boletim.
E desliguei.
Lá para as quatro da manhã:
- Foi o camarada que pediu uma chamada para Lisboa?
- Fui!!! Mas eu tinha-lhe pedido para cancelar a chamada!
- Tinha, mas não efetivou cancelamento. O camarada não veio cá destruir pessoalmente o boletim.
- Ó minha senhora! Mas então eu não lhe tinha pedido para rasgar o boletim?
- O camarada devia saber que, depois de "registrado", um boletim só pode ser anulado pelo próprio.
- Pronto, esqueça! Não quero a chamada...
- Mas já tem gente na linha! É voz de senhora. Parece que a acordei e, pela fala, não está nada contente, camarada!
E ouvi a minha interlocutora telefonista a rir!
A língua portuguesa é falada por 240 milhões de pessoas, não é? Mas isso não significa que todos nos entendamos sempre.
4 comentários:
Não me parece que neste caso seja a linha......
Fernando Neves
Uma estória deliciosa
ahahaha!
mas a telefonista tinha razão, o próprio é que deve cancelar o que assinou!
nesse tempo não havia gravação das chamadas!
nunca se sabe...
Hilariante!!
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