domingo, dezembro 13, 2020

Retratos





Há dias, uma pessoa amiga notou: “Não vejo, na tua sala, fotografias com alguns “grandes”, autografadas por eles, como é normal nas casas dos diplomatas. Mas tens, não tens?”

Claro que tenho, com gosto, do “tutti quanti” que contou na minha vida profissional e política, algumas até com dedicatórias bem simpáticas, outras apenas com uma formal assinatura. E dos atos formais de apresentação de credenciais. Porém, abandonada que foi a vida oficial, a memória fotográfica desses tempos está hoje recolhida em áreas menos visiveis da casa ou, na maioria dos casos, anda por gavetas e caixas, lá por Vila Real.

Não rejeito, longe disso!, a importância desses retratos, e dos tempos que eles marcaram, mas, no que me toca, acrescentam hoje muito pouco à minha maneira de estar na vida. Embora perceba, e respeite muito, que outros - a maioria dos meus colegas de profissão, por exemplo - tenham uma perspetiva diferente das coisas. Cada um é como é, não é?

Há muitos anos, em Serajevo, no final de uma reunião do Pacto de Estabilidade para o Sudeste Europeu, onde acompanhava António Guterres, este falou por uns minutos, comigo ao lado, com Bill Clinton, a quem me apresentou. Da delegação que vinha com o nosso primeiro-ministro vi uns gestos, simpáticos, da parte de alguém, para eu me pôr em posição para tirar uma fotografia com a “vedeta” americana. Não me mexi. 

Gostava de ter tirado uma fotografia com Clinton? Não sei, talvez, mas nada fiz por isso e, claro, não foi por timidez, que é coisa que nunca senti na vida pública. Ao ver hoje esse tipo de instantâneos perdidos por gavetas ou a encher buracos em estantes remotas entendo melhor aquela minha reação.

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Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...