domingo, dezembro 13, 2020

Le Carré


Numa conversa, há muitos anos, disse a António Pinto da França que achava que Le Carré tinha um perfil de cara que era a mistura do dele com o de Álvaro Barreto. “Que disparate!”, reagiu ele, com uma gargalhada, na reação típica de toda a gente: nunca o próprio se acha parecido com outra pessoa. 

Agora, já desapareceram os três. Le Carré morreu hoje, aos 89 anos. 

Há meses, escrevi por aqui isto: 

“Um dia, recém-colocado em Londres, adquiri um dos poucos “audio-livros” que tive em toda a minha vida: foi “Tinker, Tailor, Soldier Spy”. Num passeio pelo sul de Inglaterra, ouvi essas “cassettes” (julgo que eram ainda cassettes). Porquê? Porque, durante algum tempo, confesso que tive alguma dificuldade em conseguir ler, no original, as obras de Le Carré. “Ouvir” o livro ajudou-me assim a “entrar” na narrativa do autor, de quem julgo conhecer hoje praticamente toda a obra - e não é pequena. (Já tenho saudades de quando lia muita ficção, coisa que hoje não acontece).

Le Carré é, a meu ver, o mais notável cultor de um estilo de romance de espionagem que assenta, precisamente, naqueles serviços secretos que sempre me interessaram mais: a “intelligence” britânica, que continua a ser, para mim, o mais fascinante desses mundos de “sombras”, a que o fim da Guerra Fria colocou um (apenas relativo) ponto final. O “Tinker, Tailor, Soldier, Spy” é, a meu ver, o romance mais bem construído da chamada “trilogia de Karla”, dentro de uma série bem mais longa, em que surge a extraordinária figura de George Smiley. Voltar a obras já lidas de John Le Carré é algo que tento fazer com regularidade e, como me acontece com outros bons romances, não é que continuo a descobrir por ali coisas que antes me tinham escapado?“

2 comentários:

Lenah disse...

Concordo. Morreu um grande escritor e ainda bem que lhe presta homenagem aqui.

Lenah disse...

Concordo. Morreu um grande escritor que merece que lhe prestem homenagem.

Vou ler isto outra vez...