Ao ouvir hoje, num debate, Catarina Albuquerque, uma especialista portuguesa que se tem destacado mundo multilateral que se ocupa da questão vital da água, falar-nos, com o seu convincente entusiasmo, da tragédia - porque é de uma tragédia que se trata - que envolve a gestão global desse recurso escasso, lembrei-me de um episódio passado comigo há cerca de 15 anos.
Foi numa travessia do Usebequistão, na Ásia Central, numa carrinha da OSCE. O calor exterior, nessa viagem pelas montanhas, era imenso e nós ali íamos, bem instalados, muito confortáveis, numa espécie de “oásis” em movimento.
Era uma estrada de montanha, sem localidades visíveis, com uns casebres à distância, de quando em quando. Em um ou dois locais do percurso, reparei que havia umas crianças que nos estendiam garrafas de água, que traziam na mão. Por curiosidade, perguntei à funcionária local da organização, que nos acompanhava, se elas estavam a vender água.
A jovem, funcionária local da OSCE, riu-se: “Não. Eles estão a pedir água a quem passa. São mandadas pelos pais, das casas lá em baixo, para pedirem um pouco de água para beberem, em especial nesta altura de grande calor”.
Fiquei siderado com a revelação. As pessoas que me acompanhavam, quatro embaixadores junto da OSCE em Viena, ficaram incomodados pela firme recusa do motorista e da guia de voltarmos atrás, para darmos aos miúdos algumas garrafas das muitas que, bem geladas, nos abasteciam a carrinha. Isso atrasaria o nosso programa, disseram-nos. Verdade seja que não íamos resolver nada de essencial, apenas apaziguar a nossa consciência. Mas sempre seria melhor do que não fazer nada.
Não existe ainda entre nós uma consciência da importância política do tema da água, que é central nas questões de sustentabilidade com que o mundo se confronta. E que isto é já, nos dias de hoje, um problema já com um potencial de conflito muito sério em certas regiões do mundo.
5 comentários:
deve ser deveras monumental a quantidade de coisas que não são feitas, unicamente com a frieza de que não se pode atrasar programas?!
Muitos especialistas vêm chamando a atenção para uma futura escassez de água e a sua possível ligação a conflitos violentos.
A água é um dos pontos litigiosos na Bolívia, que se arrasta desde há anos. O conflito relacionado aos recursos hídricos em Cochabamba, durante o ano de 2000, tornou-se um ícone do discurso anti-globalização não apenas sul-americano, mas mundial. Desde então, vários artigos publicados têm caracterizado a Guerra da Água na Bolívia enquanto luta da sociedade civil local contra o consórcio multinacional “Aguas del Tunari”.
Nestes últimos dias o problema da privatização da água, que Morales sempre recusou, voltou à baila com os fascistas que apanharam o poder através dum golpe de estado.
A invencao da agua MHL
por mario viegas
https://www.youtube.com/watch?v=a-ctEMpcAXY
Dizia-se que o português mata por ciúme e por águas ( entenda-se a partilha de acesso à água em sistema comunitário ou familiar)
No norte do país a partilha das águas para rega era, nas primeiras décadas do sec. XX uma fonte de conflitos que muitas vezes originava violentas agressões e mesmo mortes.
A 2ª metade do sec. XXI vai ter no acesso à água a sua principal fonte de conflito que poderá originar mesmo graves conflitos armados.
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