domingo, novembro 17, 2019

20 anos do euro


A convite do governador do Banco de Portugal, tive muito gosto, na passada sexta-feira, em ser o moderador de um interessante debate entre Wolfgang Munchäu, do Financial Times, Paul De Grauwe, da London School of Economics, e Carlos Moedas, comissário europeu cessante. Com essa conversa, culminou um dia dedicado a uma conferência comemorativa dos 20 anos do euro, com a presença de vários especialistas portugueses e estrangeiros.

No debate, suscitei a questão do estatuto do euro como instrumento de poder europeu. Foi interessante perceber, em alguns dos meus interlocutores, a ideia de que a moeda única, tendo sido um inegável sucesso, poderá, contudo, ter ficado aquém das mais optimistas expetativas suscitadas aquando do seu lançamento, em especial no tocante à partilha de “mercado” com o dólar, que permanece líder incontestado como moeda de referência.

Interessante foi ouvir, falando da assistência, o antigo presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, ser de opinião que um maior “êxito” do euro poderia ter criado pressões difíceis de comportar, numa eurozona sem poder político suficientemente forte. As atuais debilidades dessa eurozona, por incompletamento da União Bancária, foram referidas por alguns intervenientes, tal como, neste contexto, alguma falta de sintonia entre Paris e Berlim, circunstância que torna difíceis alguns avanços tidos por essenciais para o reforço do euro.

Falou-se bastante da China, da pluralidade de perspetivas dentro da UE sobre o relacionamento com Beijing, dos EUA e das suas dissonâncias com as posições europeias, do pós-Brexit e das dúvidas sobre se a atitude comum europeia na atitude face a Londres tem condições para de se manter, no processo negocial que irá estruturar o futuro relacionamento.

Muito mais foi discutido, nesta hora e meia de debate, que incluiu perguntas da assistência, e que encerrou esta excelente iniciativa do Banco de Portugal.

1 comentário:

Luís Lavoura disse...

a moeda única poderá ter ficado aquém das mais optimistas expetativas no tocante à partilha de “mercado” com o dólar

Significativo é o facto de muitos países estarem a deixar de fazer o seu comércio externo em dólares, não para transitarem para o euro, mas sim passando a utilizar sistemas de câmbio bilateral entre as suas próprias moedas. E de alguns países estarem a abandonar o dólar nas suas reservas, transitando não para o euro, mas para o ouro.

Agostinho Jardim Gonçalves

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