sábado, novembro 09, 2019

Há três anos


Faz hoje precisamente três anos, estava em Berlim, onde tinha sido convidado para debater a Europa com interlocutores alemães. Numa conversa, alguém lembrou, quase por acaso, que, nesse dia, passavam 27 anos desde que o muro caíra. Escrevi “quase por acaso” porque, por esses dias, as atenções estavam concentradas noutro acontecimento, ocorrido horas antes: a eleição de Donald Trump. Nesse cenário, a recordação da queda do muro não mobilizou ninguém.

Um pouco por toda a Europa, a vitória de Trump, se bem que já pressentida por alguns, tinha provocado um choque político. Porém, fiquei com a sensação de que o discurso equívoco do novo presidente americano face à Rússia, as suas críticas à Nato e, muito em particular, o início de uma atitude de direta hostilidade à União Europeia e ao mundo multilateral estavam a provocar um trauma muito especial nos alemães. Todos quantos, de Portugal, tínhamos ido nessa missão a Berlim pudémos constatar a grande intranquilidade que transparecia dos nossos interlocutores.

Trump não falava então do muro de Berlim, mas já suscitava a questão de um outro muro, desta vez com o México.

Há uma coisa em que temos de ser justos: Trump não pode ser acusado de ter desiludido a forte expetativa negativa que criou.

4 comentários:

Anónimo disse...

Trump e o muro. Mas, porque razão nunca dizem que ele apenas quer "completar" o muro? Porque não dizem que o muro começou a ser feito pelo Clinton e foi continuado pelo Obama?

aamgvieira disse...

Não temos muros,apenas muros ideológicos.

Só quando o "paraíso" socialista desabar em cima da "clique" que nos governa, com estrondo, o eleitorado acordará para o Partido da Sociedade Civil que faz oposição ao Partido Estado.

Joaquim de Freitas disse...

Pena é, Senhor Embaixador, que o Mundo ande cego e nao veja todos os muros que roubam a luz dos humanos.

Porque muros, hà muitos. Conheço um, Dois mundos, um ao lado do outro que se frequentam pouco, excepto durante as horas de trabalho, (palestinos muitas vezes vão trabalhar lado israelita, trabalhadores, pedreiros, jardineiros, funcionários, etc.) línguas, religiões, estilos de vida, as tradições que diferem e acima de tudo, um desses mundos, o israelita -impõe-se pela força ao outro, o palestino. Os muros não são apenas en betão!

No Ocidente, fala-se hoje, e falou-se muito e criticou-se durante anos, o Muro de Berlim.

O imenso violoncelista Mstislav Rostropovitch, dito "Slava" tinha dado um concerto improvisado ao pé do Muro. Nunca foi ao de Jerusalém.

Kennedy tinha gritado ao pé do Muro de Berlim:” Ich Bin ein Berliner”…Sou um berlinense!

Mas nenhum presidente americano foi gritar ao pé do Muro de Palestina: “ Sou um Palestino”… Mistérios do imperialismo subordinado ao lobby israelita.

Este monstro de concreto de 7 metros de altura, que visitei, duas vezes mais alto do que o muro de Berlim, é vigiado por torres com janelas blindadas, câmaras e detectores.

Os raros pontos de passagem entre os territórios e Israel, conhecidos de forma moderna como "terminais"-é melhor do que "checkpoints"-são obstáculos intransitáveis para quem não tem as autorizações ad hoc.

Natal está próximo. Seria a data ideal para o Ocidente ajudar a derrubar este Muro da Vergonha. Antes que Trump não acabe o seu no México…

Mas hà mais ...

A Letónia procede à construção de uma cortina de ferro de 2,5 metros de alto e 90 km de comprimento ao longo da fronteira com a Rússia, que será concluída este ano.
Ela será estendida em 2020 em mais de 190 km de fronteira, para um custo de 17 milhões de euros. Um muro similar de 135 km é construído pela Lituânia na fronteira com o território russo de Kaliningrado.
A Estónia anunciou a próxima construção doutro muro, ainda na fronteira com a Rússia, de 110 km de comprimento e também de altura de 2,5 metros. Custo esperado: mais de 70 milhões de euros, para o qual o governo estoniano solicitará o financiamento da EU, isto é de nós, contribuintes de todos os países…

O objectivo, de acordo com as declarações dos governos respectivos, é de: "proteger as fronteiras externas da Europa e da NATO".

Se excluímos o motivo "proteger" dos fluxos migratórios maciços da Rússia, altamente improváveis, o outro seria as fronteiras externas da UE e da NATO devem ser "protegidas" da “ ameaça russa”. E tudo está dito…Mas é mais honesto como escrevi…

Andei na tropa, mas não sou um “esperto” militar, mas esta construção tem praticamente zero de eficiência militar, o seu objectivo é fundamentalmente ideológico: o de um símbolo físico que indica que existe uma “Inimigo perigoso” que “nos” ameaça… Pobres idiotas…

Isto faz parte da martelada guerra psicológica para justificar a escalada EUA/NATO na Europa contra a Rússia.
Esta NATO esfrangalhada que conta no seu seio um "nosso" aliado : a TURQUIA de ERDOGAN , o tal que liberta os assassinos de Daesch..

Os homens não aprendem com a História, senão saberiam que nenhum MURO resistiu às contingências do tempo.

Luís Lavoura disse...

pudémos?!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...