“Bom dia, senhor Costa, são sete e meia”. Aquela voz feminina, que me despertou pelo telefone, à hora pedida, no Hotel Intercontinental, no Luxemburgo, em março de 1986, ficou-me para sempre na memória.
Naquela que era a minha primeira visita em trabalho por ali, bem no início da nossa aventura europeia, dei-me assim conta da sensação diferente que era estar como português no Luxemburgo.
A senhora, telefonista do hotel, terá pressentido, pelo meu nome, que estava a acordar um compatriota. E era muito confortável sentir aquela expressão de proximidade, no lugar do mundo onde a nossa comunidade é mais significativa, em relação à população total do país.
Desde então, nas muitas viagens que fiz ao Luxemburgo, “tropecei” com portugueses um pouco por todo o lado. Quantas vezes, em restaurantes, ouvi de empregados, depois de um “então o que é que vai ser?”, em voz baixa e cúmplice, “não peça o cerf“ ou “as moules hoje não estão muito boas”. E, pelos corredores do “Le Royal”, que, por anos, passou a ser o meu “albergue” no centro da cidade, era bem simpático trocar os bons-dias com as senhoras da limpeza que, entre si, falavam português pelos corredores.
Ontem à tarde, ao ver a bancada do Luxemburgo-Portugal pejada de bandeiras e cachecóis verdes e vermelhos, fiquei a pensar no prazer que os nossos compatriotas devem ter tido ao verem a nossa seleção ganhar, precisamente ali, o passaporte de acesso ao Europeu de futebol.
É que hoje, ao entrarem nos empregos e olharem os seus colegas de trabalho, tenho a certeza de que os portugueses do Luxemburgo afivelarão um sorriso matinal (e, vá lá!, compreensivelmente um pouco sobranceiro) muito especial...
4 comentários:
Recentemente estive num hotel em Thun, na Suíça (hotel no qual, por sinal, poucos dias depois a equipa do Benfica se alojou para estagiar), onde também diversos empregados se me dirigiram em português.
Um pouco ao lado: lembram-se de, quando por alturas do Euro 2004, alguns se indignavam com o BES andar a distribuir bandeiras nacionais com o logótipo do banco aposto? Agora é a FPF que o faz! Deve ser, realmente, muito importante dizer ao mundo inteiro quem dá a bandeira...
"Era bem simpático trocar os bons-dias com as senhoras da limpeza que, entre si, falavam português pelos corredores."
Infelizmente a sua categoria não é a regra!
Parabéns à nossa selecão.
Os nossos emigrantes estiveram a um passo de chorar, tão má foi a nossa exibição! Se não fossem os emigrantes, teria dado por mim a torcer pela nossa justa derrota! E daí teriam resultado três vantagens: diminuíram os programas de comentário desportivo, próprios de um país subdesenvolvido; ficaríamos livres do egocentrismo da nossa estrela, que só quer bater recordes; e livres também do nosso seleccionador e das suas tácticas defensivas.
Mas pelos nossos emigrantes estou disposto a aguentar...
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