sexta-feira, novembro 08, 2019

Lula


Creio ser uma evidência que a saída de Lula da prisão abre um tempo novo na vida política brasileira, independentemente da opinião que cada um possa ter sobre a sua culpabilidade e os processos judiciais que o envolvem. 

Lula nas ruas vai poder polarizar, à sua volta, muito do crescente sentimento anti-Bolsonaro. Mas é importante não esquecer que há quem não goste do atual presidente e, simultaneamente, se não reveja nem em Lula nem, especialmente, no PT. 

Só podemos esperar que Lula, solto, tenha a sabedoria para atuar de uma forma que não dê razões a que possa ser acusado de potenciar a tensa situação que se vive no país. Olhando o seu passado e a sua experiência política, quero crer que é mais plausível que isso venha a acontecer do que confiar em que os que se lhe opõem possam vir a ter essa mesma sensatez.

Independentemente do caso específico de Lula, é para mim muito óbvio que a decisão do Supremo Tribunal Federal brasileiro de aguardar pelo trânsito em julgado das sentenças, antes de prender os acusados, reconcilia o Brasil com as práticas mais comuns no mundo.

Pena foi que, no passado, o entendimento da justiça brasileira não tivesse sido o mesmo, o que credibiliza a teoria de que Lula foi preso para não poder ser candidato contra Bolsonaro.

6 comentários:

Anónimo disse...

Pelos vistos, sai o Lula, sai o Dirceu, etc., etc. E deve haver montes de pessoas, em outros processos, duplamente condenados, a aguardar decisão do Supremo, prestes a virem para a rua. E é este risco que esteve na base do anterior entendimento do Supremo (antes mesmo de Lula) de permitir o cumprimento da pena a partir da segunda condenação, ainda antes do trânsito. Se antes já era assim porque devia ser diferente com Lula? Penso que foi mais este perigo de falta de resposta do sistema que esteve na base do entendimento do Supremo de 2016 e não qualquer propósito deliberado de colocar o Lula fora da corrida presidencial, com objectivos meramente políticos. Desconfio sempre de alegadas motivações políticas dos juízes ( do Supremo) ou conspirações entre eles em relação aos políticos. Os critérios por que se regem são os da lei e os critérios da interpretação da lei (que são publicados e pretendem ser transparentes) nem sempre se coadunam com as tramóias políticas que se lhes imputam.

Anónimo disse...

O destino político do Brasil, só Deus o ditará. O Bolsonaro se coisa der para o torto o Artigo 142 entra en acção e "pum,pum que se farta.

Joaquim de Freitas disse...

Anonimo de 9 de novembro de 2019 às 01:06 disse:


"e não qualquer propósito deliberado de colocar o Lula fora da corrida presidencial, com objectivos meramente políticos."

Nunce vi maior tratado de "naiveté" que esta frase ! Seria como se dissesse que o incêndio do Reichstag , em 27 de Fevereiro de 1933, foi a obra de Marinus van der Lubbe...

Anónimo disse...

Antes naïve do que preconceituoso. Mas admito todas as teses, desde que fundamentadas.

Gian disse...

Caro embaixador, seu texto suscitou-me uma dúvida.
Corre cá na imprensa daqui a mensagem que o sistema jurídico brasileiro, com quarto grau de jurisdição para o transito em julgado, é uma aberração enquanto o senhor afirma que o Brasil volta a figurar entre os bons Estados de direito.
O senhor verificou mais exemplos parecidos ao brasileiro em suas andanças pelo mundo?

Joaquim de Freitas disse...

Anonimo de 9 de novembro de 2019 às 17:54; que escreve:


"Antes naïve do que preconceituoso." Pois é, a "naïveté" pode levar não importa onde. Mesmo a Auschwitz.

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