O voto é o momento mais democrático da vida de uma sociedade. O voto de cada um é igual ao voto de qualquer outro.
Intimamente, há ainda muito quem ache que o seu voto, por ser mais informado ou educado, não deveria valer o mesmo que o de pessoas menos conhecedoras ou desinformadas. Esse elitismo, de quantos entendem o seu voto mais “qualificado”, reflete um vetusto sentimento anti-democrático, que, entre nós, esteve subjacente à ditadura, que reservava o direito de voto a uns “happy few”.
Ora é precisamente o saldo de diversidade de perspetivas e sentimentos o verdadeiro “barómetro” da sociedade e do país.
Posso perceber que alguém chegue à urna de voto e decida não escolher entre as opções que lhe são propostas, por não gostar de nenhuma delas ou por se considerar menos informado para escolher. Percebo o voto em branco.
Posso perceber quem, numa reação mais afirmativa, decide riscar a globalidade do boletim ou deixar nele expresso, tornando-o inválido, o que lhe vai na alma (seria, aliás, pedagógico estudar esses ditos), num qualquer gesto expressivo de revolta. Percebo o voto nulo.
Mas não consigo perceber o abstencionista. O abstencionista é um irresponsável e um inconsciente. Não percebo quem, não tomando deliberadamente posição (o voto em branco ou nulo representam, apesar de tudo, uma expressão de respeito mínimo perante o sistema, ao levarem o cidadão a ir ao local de voto), se acha depois no direito de vir protestar pelo andamento das coisas públicas.
Há cidadãos que não gostam daquilo que os que estão (pela vontade coletiva anterior) na gestão do Estado fazem ou não fazem? Então escolham outros em quem tenham confiança de que podem vir a fazer diferente. Ao não votarem, entregam o país àqueles que votam. Repito: depois não têm a menor legitimidade para se queixarem!
O abstencionista é um pária cívico, alguém que, no fundo, acaba por ser indigno da liberdade pela qual alguns lutaram, para que todos tivessem a mesma voz, por forma a, em conjunto, decidirem o futuro do país.
9 comentários:
O meu já lá está, mas pela afluência que observei não creio que a abstenção desça. Levei a minha filha, ela ainda não vota, mas ficou a perceber que é simples e não demora. Infelizmente, eu, pai dela, era um dos rostos mais jovens, como ela, desolada, constatou. A “maltinha nova“ raramente a vejo nas mesas de voto. Seria urgente perceber se é assim, e porquê. A juventude mobiliza-se por certas causas, porque não vota?
E acha mesmo que depois de mais de 40 anos de democracia (como se todos tivessem iguais oportunidades...) que o povo acredita em políticos? Diga um que tenha cumprido tudo o que prometeu fazer?
São as falsas promessas, os políticos profissionais, e não ter qualquer esperança naquele que possa ganhar as eleições que faz com que as pessoas não percam 1m do seu tempo em ir votar.
Ao Anónimo das 15:45. Qual é a sua alternativa? Ditadura?
Não votar, portanto abster-se, é uma atitude política, que, ao que vejo, o FSC, estranhamente, não consegue compreender (bom, depois de ter defendido o voto obrigatório, explica-se tal atitude). Tenho nesta família, que é alás bastante grande, vários irmãos e vários cunhados, com inúmeros filhos, sobrinhos e outros por via do casamento, que se estão, na sua maioria, totalmente nas tintas para estas (e outras - como as do P.E, que eles ignoram por completo) eleições. E como não se identificam com o "Menu" que lhes é apresentado - aliás um Menu já com uma oferta muito mais diversificada - fiquei espantos com a dita oferta, a ver o tamanho do boletim de voto), não votam. Uns foram de fim de semana fora, outros para a praia, outros para um casamento, outros para uma tertúlia de amigos, tudo menos ir votar. Acho tudo isso normal. E porquê? Pela simples razão de que não se identificando com o o que lhes é oferecido no tal "Menu", porque hão-de ir votar? Votar (como propõe o Rio) em branco para quê?
Acho estranho este tipo de atitudes, mas, é a deles. Por culpa nossa!
não consigo perceber o abstencionista
É muito simples: há pessoas que não se interessam pela política e, por não se interessarem, não estão informadas e não sabem sequer em quem votar.
Com seriedade e consciência, essas pessoas afastam-se da decisão: em vez de votarem de forma inconsciente e desinformada, não votam. Fazem elas muito bem.
As pessoas não são obrigadas a gostarem de política e prestarem-lhe atenção.
É por isto mesmo (entre outras razões) que sou totalmente contra o voto obrigatório: se as pessoas não estão informadas e atentas à política, mais vale que não votem.
Haverá pessoas que nem sequer se dão ao trabalho de ir ler o programa dos partidos !
Isso também aparece na internet
Então depois dizem que não estão informados !
CIRCULO VICIOSO
:
a) As pessoas não se interessam pela política, ou a politica não lhes interessa. E por isso não vão votar.
b) As pessoas não conhecem nada de politica, e como não conhecem nada de politica, não vão votar. Porque não sabem em quem votar.
c) E como são pessoas conscientes, que não sabem em quem votar, porque não conhecem nada de politica, com muita consciência não vão votar.
d) E fazem bem, porque não são obrigadas a gostar de política e prestarem-lhe atenção.
e) Por isso o voto obrigatório, que obrigaria a pensar na política, falta de gostar dela, e a informar-se antes de votar, não é aceitável. *
f) E não é aceitável porque retiraria todo o direito a protestar contra o que quer que seja, bom ou mau, com a condição que aquele que protesta saiba o que é bom e o que é mau.
g) E é assim que um dia, aqueles que sabem o que querem, e sabem fazer politica, vão implementar a política que lhes interessa e só esta. Por todos os meios.
h) E quando aqueles que não votam, porque não sabem, porque não gostam, e não se informam, vao acordar porque os seus interesses não interessam ninguém, e vai para a rua protestar, só merecem o que os outros quiserem oferecer-lhes.
Quase 4500000 de abstencionistas porque a escolha política não lhes interessa? O boletim de voto tinha 15-20 listas de partidos/movimentos! Não, não me venham dizer que os políticos são todos iguais, que a política não serve a nada... O abstencionismo é um voto... De ignorância e de indiferença. E como consequência e como disse o sr Joaquim de Freitas ao ponto h... "E quando aqueles que não votam, porque não sabem, porque não gostam, e não se informam, vão acordar porque os seus interesses não interessam ninguém, e vai para a rua protestar, só merecem o que os outros quiserem oferecer-lhes"...
Talvez uma boa ditadura soviética ou um fascismo, ou ainda à moda chinesa?
R.
Pensem nisto:
http://dererummundi.blogspot.com/2019/10/portugal-amordacado.html?m=1
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