quinta-feira, outubro 31, 2019

Lordes e Comuns


Lembrei-me deste episódio, enquanto assistia pela televisão à sessão de ontem da Câmara dos Comuns.

Em 1993, durante a sua visita de Estado ao Reino Unido, o então presidente Mário Soares fez uma visita informal à Câmara dos Comuns, numa hora em que esta não estava em sessão, passeando-se com parte da comitiva pela sala.

A certo passo, notei que o acompanhante oficial que o Palácio de Buckingham tinha designado para estar com o presidente português, um aristocrata, membro da Câmara dos Lordes, demonstrava um inusitado e quase turístico interesse pelos pormenores do mobiliário e pelo conjunto de símbolos que ocupam a mesa central, em frente aos quais governo e oposição se digladiam.

A certa altura, disse-me: "Sabe, estou um pouco emocionado!". No instante, não percebi bem a razão dessa emoção. "É que, como membro da Câmara dos Lordes, estou impedido de visitar a Câmara dos Comuns e, em toda a minha vida, esta é a primeira vez que consigo entrar aqui."

Os membros da Câmara dos Comuns visitam os Lordes, no início de cada sessão do parlamento. O contrário nunca é possível. Há uma interdição absoluta, que se prende com a hierarquia britânica de poderes. Aquele lorde, que tinha por nome Camoys (Soares brincou com a ideia de que a similitude fonética com Camões talvez tivesse levado à escolha do aristocrata), tinha cumprido um sonho “impossível”.

Peculiaridades do sistema político britânico.

7 comentários:

João Cabral disse...

Outra vez, senhor embaixador?
https://duas-ou-tres.blogspot.com/2009/05/comuns.html

Anónimo disse...

Texto repetido?

Luís Lavoura disse...

Nenhum país tem tantas peculiaridades como a Inglaterra. Peculiaridades no sistema político e não só. Os ingleses têm uma adoração por peculiaridades e anacronismos, e conservam-nos per secula seculorum.
E o que é interessante é que há muita gente, por este mundo fora, que admira os ingleses pela sua manutenção de peculiaridades e anacronismos, que os adora por isso, e que declara a superioridade deles pelas suas peculiaridades e anacronismos.
Eu por mim considero todas estas peculiaridades ridículas, e indignas de serem vistas e apreciadas, como Mário Soares fez.

Francisco Seixas da Costa disse...

A João Cabral e anónimo das 8:32: claro que sim! Como dizia Paulo de Carvalho, “10 anos é muito tempo”. E há uma nota inédita sobre o Camoys...

Duarte Vicente da Silva disse...

Texto repetido!!

Dulce Oliveira disse...

Seja o texto repetido ou não, muito agradeço ao senhor embaixador as suas crônicas deliciosas que não perco e que espero que nos brinde com elas por muito tempo.

Patrick disse...

Repita mais textos do que tiver de melhor :)

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