quinta-feira, outubro 24, 2019

Francamente


Hoje é o dia da exumação do corpo de Franco, o último ditador de Espanha. Sai finalmente do Vale dos Caídos, onde estava desde a sua morte, em 1975, local que se transformara numa romagem dos saudosistas do seu regime.

Aos impenitentes nostálgicos do franquismo, que também por cá os há, aconselho agora duas alternativas: ou uma visita à casa de Ferrol onde nasceu aquele que viria a ser o Caudillo (de que deixo uma imagem, para que não se percam) ou um almoço na Casa Olga, em La Guardia (A Guarda, para quem respeitar o galego). 

Nesta última, um local cheio de memorabilia franquista, irá cruzar-se com a dona, uma fascista ferrenha, a cantar por entre as mesas o “Cara al Sol” e outras canções da Falange. Ah! Mas nem lhe passe pela cabeça trautear por ali versões republicanas do “Ai Carmela”, principalmente as que falam de “la mujer de Paco Franco...” ou sequer entrar com o “El País” debaixo do braço. É que os socialistas (já para não falar dos comunistas) estão banidos por lá. Ou melhor, só como clandestinos “voyeurs” é que podem ir àquele patético parque temático do Fascismo espanhol. E não se come por lá grande coisa, também posso garantir...

11 comentários:

netus disse...

Bom dia.
Concordo com a maioria do que escreve.
Fui lá, à Casa da Olga, levado por amigos do Porto, creio que há cerca de dez anos.
Quando viu que éramos Portugueses não se mostrou muito simpática, mas como depois as nossas conversas versaram famílias e lazer, não nos incomodou.
Quanto ao que comemos, foi "apenas" à base de "peixes variados com casca", e estavam muitíssimo bons.
António Cabral

Anónimo disse...

Curioso. Na primeira fotografia que aparece quando se procura essa casa, aparece logo uma fotografia do Salazar, pendurada na parede.

Anónimo disse...

Em Espanha nunca se comeu grande coisa em lado nenhum...

Joaquim de Freitas disse...

Neste dia em que o espectro deixa o local onde, para a sua glória, morreram tantos prisioneiros republicanos para construir o seu antro, são estes que o escorraçam hoje, definitivamente, espero.
Falta agora reconstruir este monumento à memória daqueles que deram a sua vida pela Espanha republicana, contra o Fascismo.

Não sei se ainda vive aquele vizinho que tive em Sainte Maxime, no Var, que, criança órfã de pais assassinados pelos falangistas, tinha sido roubado pela Igreja Católica, e oferecido a uma família falangista, seus pais adoptivos, graças às relações incestuosas, consubstanciais e criminosas, que a Igreja tinha urdido com o ditador fascista.

Nunca lhes perdoou, a partir do dia em que lhe disseram a verdade. Tinha constituído um dossiê terrível contra esta igreja, fascista, totalitária, que durante décadas teve um destino ligado a Franco, que usará esta igreja anti republicana para ganhar e manter o poder.

Anónimo disse...

A História não se pode apagar . O mau é quererem vinganças e humilhações . Talvez por isso a Espanha está no caos que se vê .
Se Franco tivesse sido comunista a atitude seria a mesma ?
E já pensaram na humilhação a que sujeitam a Família ? Os netos , bisnetos , sobrinhos ... que culpa tiveram ?
Que decisão tão radical e vergonhosa .

Joaquim de Freitas disse...

Escrever :"E já pensaram na humilhação a que sujeitam a Família ?"

e nao pensar que durante décadas, milhares de crianças foram afastadas das mães, e entregues a famílias que apoiavam o regime do general Franco, o que é? Logo após o parto, e entregues como filhos biológicos a outras famílias. O que começou como uma repressão política, logo após a Guerra Civil espanhola, converteu-se num negócio organizado por médicos, padres e freiras,

Em 2008, até ao início dos anos 50, cerca de 30 mil crianças foram roubadas a mulheres republicanas detidas nas prisões, e entregues a famílias que apoiavam o regime fascista do general Franco. Então não se tratava de um negócio, mas sim de uma reação política, contra as "íntimas relações entre marxismo e inferioridade mental".

A tese era defendida pelo militar psiquiatra Antonio Vallejo Nájera que, autorizado por Franco, em 1938, criou o Gabinete de Investigações Psicológicas. No ano seguinte, o psiquiatra publicava um livro segundo o qual "militam no marxismo sobretudo psicopatas antissociais" e legitimava o roubo de crianças às mulheres republicanas, defendendo que "a segregação desses sujeitos desde a infância poderia libertar a sociedade de uma praga tão terrível".

O anonimo de 25 de outubro de 2019 às 10:29 devia reflectir no ùltimo paragrafo do seu vergonhoso texto.

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,

A Casa Olga já não exibe qualquer "memorabilia" franquista/salazarista: foi alvo de vandalismo (democrático?) e a dona intimidada ao silêncio.

Hoje em dia, a decoração está em conformidade com o politicamente correcto.

Com os melhores cumprimentos,

Henrique Souza de Azevedo

Anónimo disse...

Ao anónimo de 25 de outubro de 2019 às 10:29

Isto é básico. Um ditador estava numa espécie de panteão que o glorificava. O regime mudou. A Espanha tem agora uma democracia. Consequência lógica: ditador sai de lá e é tratado como qualquer outro cidadão. Isto não tem a ver com Espanha. É uma regra de bom senso de aplicação universal. Não tem nada a ver com os filhos, netos ou bisnetos, é uma questão de Estado. De resto, nenhum cidadão, seja o Franco, filhos ou netos dele, estão impedidos em Espanha de terem sepultura. Com todo o respeito, qual é a parte disto que não entende? E apaga-se a História com isto? Mas como se pode apagar a história, se pode continuar a conhecer a história de Espanha? Ou deixou de um dia para o outro, de conhecer a história de Espanha, porque alguém a apagou com uma borracha?

Anónimo disse...

Sr. Joaquim de Freitas
É o que vou fazer , refletir ...
Mas já agora onde é que foi buscar tanta informação tão deprimente . Deve ter visto muitos filmes ...

Joaquim de Freitas disse...

Anonimo 25 de outubro de 2019 às 17:27


visao.sapo.pt › actualidade › mundo › os-bebes-roubad...

Anónimo disse...

O Anónimo das 10.29 e 17.27 não precisa refletir...não tem como..

Que tal uns livrinhos para se instruir?

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