sábado, outubro 05, 2019

O meu voto

(“Nunca digas em quem vais votar! O voto é secreto!”, dizia-me alguém um dia, equivocado com o sentido da frase. O voto ser “secreto” significa que ninguém deve ser obrigado a revelá-lo, mas não impede que o anunciemos, se assim quisermos fazer).

Votei sempre ao sabor do meus humores políticos. A liberdade e a independência são isso mesmo.

Votei na CDE durante a ditadura. Depois, nas primeiras eleições livres, em 1975, votei MES (uns gloriosos 1,02%), claro! Repeti o voto no MES em 1976 (“progredimos” para 0,57!). Podíamos ter ido longe, se tivéssemos continuado!

Nas presidenciais desse ano votei Otelo (sim, esse mesmo!), tal como fez Jorge Sampaio e muito boa gente, sabendo bem que não ia ganhar (teve 16,5%), mas para afirmar a minha distância face ao pré-bloco central que avançara com Eanes (em quem vim a votar, com toda a naturalidade, em 1980, menos por ser então a seu favor e, muito mais, por contra Soares Carneiro e a AD que eu detestava).

Em autárquicas, lembro-me de que cheguei a votar APU, porque, tendo vivido em Santo António dos Cavaleiros, agradou-me a gestão municipal de Severiano Falcão, em Loures.

Nas eleições legislativas e autárquicas seguintes, creio que sem exceção até hoje, depois dos “gestos” no MES em 75/76, sempre que votei, votei no PS, ou no seu bizarro e falhado heterónimo FRS. Mas, algumas vezes, nem sei bem porquê, abstive-me.

Em presidenciais, votei sucessivamente em Salgado Zenha (na segunda volta, em Mário Soares), em Mário Soares, duas vezes em Jorge Sampaio, de novo em Soares (estando Manuel Alegre na contenda), depois em Alegre e, finalmente, em Sampaio da Nóvoa.

Constato que nunca votei à direita, mas costumo dizer que, em presidenciais, poderia tê-lo feito se o candidato fosse Francisco Pinto Balsemão (e desde que não me agradasse o nome da esquerda) e não excluo poder vir a votar na reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, se o seu comportamento e equidistância se mantiverem de um modo que continue a apreciar.

Esta minha “transparência” (que percebo não ser muito comum) serve de prólogo a uma banalidade: no domingo, vou votar PS. Vou votar, essencialmente, em António Costa, porque é alguém que demonstra ser, a grande distância, a pessoa mais bem preparada para dirigir o país.

Teve a arte de escolher Mário Centeno, soube fazer uma opção inteligente pelo respeito pelos compromissos internacionais do país, ganhou respeitabilidade na Europa e (contra a minha opinião, mas quem estava errado era eu) fez uma aliança parlamentar com a “esquerda da esquerda”, sabendo repor justiça e humanidade nas políticas públicas, depois de uns anos para esquecer.

O PS de António Costa (e sublinho ser “este” PS, e não, necessariamente, um outro qualquer) é, na minha perpetiva, o partido mais equilibrado do nosso espetro político, combinando um forte sentido social com uma visão moderna da sociedade. Tem defeitos? Imensos! Mas acho que tem muito menos do que os outros.

Por isso, embora pessoalmente não o subscrevendo, gostava que alguns amigos mais relutantes seguissem o lema de Alexandre O’Neill: “Ele não merece, mas eu voto PS”.

11 comentários:

Anónimo disse...

Mereceu
Fernando Neves

Manuel disse...

Subscrevo quase na totalidade.
Também nunca votei à direita, mas apoiei Eanes apesar de, na altura, ainda não ter idade para votar. Claro que cunhar Eanes como direita é algo muito relativo hoje, a esta distância temporal. Mas lembro-me bem da aproximação de algumas esquerdas da altura em torno dele, um ensaio distante e tímido de uma geringonça.
Nunca votei Mário Soares apesar de, na altura, já ter idade para isso. Tive desculpa por estar longe e não poder exercer o meu dever cívico (a única vez) e foi um alívio. Contudo não me entristeceu a sua vitória e, de certo modo, reconcilei-me mais tarde com ele, nos tempos da oposição épica a Cavaco.
Domingo vou votar à esquerda, como sempre. Mas estou indeciso pois, ultimamente, em que voto acaba sempre sempre por perder.
Viva a República.

Anónimo disse...

Lamento que o seu blog se tenha degradado ao ponto de, se transformar num espaço doutrinário...não lhe fica mesmo nada bem!!0

Anónimo disse...

I would love to agree with you, but then we would both be wrong.

Agente provocador da Direita

MJ

aamgvieira disse...

Amanhã saberemos o que é Portugal e qual é o nosso estado de venezuelização.

Anónimo disse...

Aviso. Com esta do Pad "à boca das urnas" quem responder a esse inquérito pode ser fotografado, ao mesmo tempo, pelo Pad. Uma verdadeira lista, com voto e foto, comprometedora.
Claro que não há obrigatoriedade de coerência entre os dois votos, mas....

Anónimo disse...

"Inteligente não é quem sabe para onde ir,

mas quem aprendeu para onde não deve voltar"


Não sei se ele não merece...
Eu voto PS

Anónimo disse...

É o que se chama um eleitor "analítico"; aquele que vota após analisar programas,pessoas,personagens, carácteres ético-morais, estilos, linguagens, enfim uma infinidade de "leitura & preconceitos". Na gíria popular é um eleitor "cata-vento".
No fim e na maioria das vezes no pós-eleições sente-se mais ou menos enganado ou, no mínimo que votou pró-maneta.
Ao contrário, o eleitor "tradicional" que já se fixou num partido porque tal partido lhe garante a liberdade e a democracia ou determinada prática política que é garantia de defesa de interesses próprios, este nunca se sente trído.
Já ouvi um leitor "analítico", normalmente muito letrado e dado a análises pró-científico, queixar-se junto de uma eleitora comum "tradicionalista", normalmente menos letrado mas muito convicto na ideologia e prática partidária que lhe respondeu; pois eu nunca me engano, voto sempre no mesmo.
Realmente, programas e palavras de campanhas eleitorais escritas para captar novos "clientes" valem mais que uma prática constante constatada ao longo dos anos?

jose neves

Joaquim de Freitas disse...

: aamgvieira disse...
“Amanhã saberemos o que é Portugal e qual é o nosso estado de venezuelização.”
5 de outubro de 2019 às 14:22.


Estará algum Guaido escondido na Boca do Inferno, em Cascais, à espera do sinal da Casa Branca ?
Ou descobriram petróleo em Portugal?

Anónimo disse...

Exatamente! Voltar ao socratismo / “venuelizacao” seria a maioria absoluta do PS! É preciso não esquecer a mais negra história da democracia portuguesa que comprometeu todo o nosso futuro. Não podemos esquecer que Costa foi vice primeiro ministro e vários ministros do atual governo também o era na altura... por tudo e por Portugal NÃO!

aamgvieira disse...

O Sr. Freitas é impagável!.......

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