“Creio que ainda não nos conhecemos pessoalmente. Acompanho-o, à distância, há muitos anos. Gostava de lhe dizer que o oiço e leio sempre com muita atenção e agrado, mesmo quando às vezes posso não concordar consigo”. Guardo no meu álbum afetivo de memórias esta frase que, um dia, já há muitos anos, ouvi de Manuela Silva, ao vir ter comigo, com um sorriso simpático, no início de um colóquio na Gulbenkian, organizado pela “Comissão Nacional Justiça e Paz”, para o qual eu fora convidado por José Manuel Pureza.
Não sei o que lhe respondi, para além do óbvio agradecimento. Mas, apanhado pelo inesperado do gesto, muito provavelmente não soube então expressar-lhe a grande admiração que, desde sempre, mantinha por aquela senhora, que, partindo de uma postura religiosa que sempre a motivava a intervir civicamente por causas nobres, como a luta contra a pobreza e a busca da paz, me habituara a respeitar como uma figura com uma imensa dignidade na sociedade portuguesa.
Manuela Silva, que depois vim a cruzar em diversas outras iniciativas, e com quem cheguei a subscrever posições públicas conjuntas sobre alguns temas, morreu agora, aos 87 anos. Professora catedrática do ISEG, fez parte do primeiro governo constitucional e manteve-se sempre como uma relevante voz nos meios católicos portugueses.
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