Sinto ter muito pouco a dizer, a propósito da decisão dos tribunais espanhóis sobre os secessionistas da Catalunha. A decisão não me surpreendeu, à luz das leis espanholas, que são as relevantes na matéria. Um gesto de atenuação da pena por parte do rei, que se mostrou muito inábil no início deste processo, seria, contudo, bem vindo, para provocar alguma acalmia nas tensões. Oficialmente, por parte de Portugal, só espero uma atitude: contenção no discurso e respeito absoluto pela unidade espanhola. O nosso único interlocutor peninsular é Madrid. Ponto. Espero, aliás, que as pessoas tenham sentido da medida nas suas reações, preocupando-se talvez um pouco mais com o drama curdo, onde morre gente “como tordos” a toda a hora, em face da inércia palavrosa da Europa. E mais não digo, sabendo que, com o que acabo de escrever, não irei ser muito popular. Mas não ando aqui para isso, como já devem ter percebido.
14 comentários:
FSC preferirá muito mais ser popular junto dos amigos do outro lado da fronteira e de entidades às quais possa estar ligado profissionalmente.
Quanto à questão curda, trazida para este contexto é de uma demagogia atroz.
Essa das “entidades às quais possa estar ligado profissionalmente” é de uma imensa baixeza. Típica da coragem de anónimo
respeito absoluto pela unidade espanhola. O nosso único interlocutor peninsular é Madrid. Ponto.
Evidentemente. Portugal não fala diretamente com as regiões espanholas, da mesma forma que não fala diretamente com os estados de uma qualquer federação (EUA, Rússia, Índia, Brasil, etc).
Mas isto não significa "respeito pela unidade espanhola". É apenas uma elementar regra de diplomacia. Países só falam com outros países, não falam com regiões (ou províncias, ou estados, ou o que se chamem) de outros países.
contenção no discurso
Sem dúvida. Portugal não tem nada que interferir em assuntos internos de outros países. Muito menos em questões que são nominalmente de justiça (na prática e na verdade não o são, mas nominalmente são-no), e não do poder executivo.
Vamos lá, caro Embaixador, arregimentar um grupo de valentes, tomar a Moncloa, derrubar o governo e dar a independência aos catalães.
Ele há gente mais parva.....
Excelente texto, lembrando situações diferentes face ao que se espera de Portugal.
Sr. Embaixador,
estou de acordo consigo: em matéria de Espanha e respectivos separatismos, Portugal tem todo o interesse em aderir estritamente à «Raison d'État» e esta recomenda exactamente aquilo que V. Ex.ª escreve. Isto é uma coisa, outra, muito diferente, é vir tomar as dores de Madrid... (não afirmo que seja o caso, mas há por aí quem não perca oportunidade para o fazer, alguns até, para meu escândalo, colegas seus.)
Eu, que não sou espanhol e que não gosto de me meter onde não sou chamado, mais não digo. Mas, não sei porque será, deu-me agora uma súbita vontade de reler a "História do Portugal Restaurado", do Conde da Ericeira, que irei já a seguir buscar à minha biblioteca, para a compulsar com redobrado carinho e interesse. E, claro, no próximo 1º de Dezembro, lá estarei, presencialmente ou em espírito, nas comemorações na Praça dos Restauradores. Permita-me pensar, que é esta a resposta que um português de lei deve dar aos acontecimentos no país vizinho.
Respeitosos cumprimentos,
A. Costa Santos
O Sr. Embaixador provocou a capacidade intelectual do anónimo corajoso habitual do blogue, para quem, a independência eventual da Catalunha, desejada por uma parte dos Catalães, não tem nada a ver com a independência eventual do Curdistão, desejada pelos Curdos e pela qual se batem.
Ele não vê nenhuma relação entre os dois, porque os Curdos, fieis aliados dos americanos e da coalizão na guerra contra os islamistas, economizando as vidas dos nossos soldados, foram cruelmente atraiçoados pelo amigo Trump, que os abandonou ao exército turco, aliado da NATO.
Esta traição, habitual da parte daqueles que abandonaram um dia os Chitas de Bassorah à raiva de Saddham, e ao seu consequente massacre, depois de os terem devidamente incitado à rebelião, é uma nódoa indelével para os EUA, da qual, mesmo as altas esferas de Washington e os militares americanos têm uma vergonha profunda. Porque abandonar os “irmãos de armas” no campo de batalha” como fizeram aos Curdos é indigno da maior potência mundial.
Agora que o traidor da causa Curda passou a mão a Putine , a Bachar el Assad, e a Erdogan, ainda há aqui quem vai dizer que, francamente, sou duma americanofobia atroz…Os incultos !
Ah "ganda" Freitas! Até para falar da Catalunha ele vai buscar os americanos. Doentio!
E que sabe ele do que eu penso dos Curdos? Nada! Nem precisa de saber porque o que interessa é... falar.
Já agora, ficamos sem saber o que pensa o Freitas do direito à autodeterminação dos catalães. Era disso que se falava aqui mas ele não se quer comprometer... Ou, se calhar já se esqueceu de que o pipinho foi logo pedir bênção ao Trump aquando da repressão ao referendo.
Bem, se a questão são as "atitudes oficiais", ou seja, o interesse do Estado português, isso tanto dá para a questão da Catalunha, como para os curdos. Sendo a Turquia nosso parceiro da Nato, suponho que o governo deva ter também contenção. A mesma coisa em relação a tantas questões internacionais... mas tenha em atenção, senhor embaixador, que a opinião pública não tem de coincidir com os interesses do Estado. Seria mau sinal... Pode-se falar da questão da Catalunha e também da questão curda. Isso de "porque é que falam nisso, se há questões mais graves", não funciona assim. Ainda bem.
Olha o palerma das 09.40que bate no embaixador por falar dos curdos no tema da Catalunha, e que bate no comentador Freitas por este ligar os curdos aos americanos , que deram à sola deixando-os nas mãos dos turcos. E o tipo não compreende . Tapado ou quê?
Isto está a ficar um sítio fino, sim senhor.
Mas o outro, de facto, não disse o que pensa da Catalunha.
Ao anonimo de 15 de Outubro de 2019 às 16:42: O "outro" tem um nome e nao se esconde como o Sr.
Tenho aqui « amigos da onça » que insistem para dar a minha opinião sobre os Catalães. Não gosto de me repetir: Já dei a minha opinião há dois anos, exactamente, e não mudo. A minha opinião foi inscrita num duo com o Sr. Luis Lavoura:
Luís Lavoura disse...
O direito à autodeterminação é uma conversa da treta. Na prática, o que vale é muito simples: se um povo se quer separar de um Estado que nós queremos enfraquecer, então nós apoiamo-lo calorosamente; se um povo se quer separar de um Estado nosso amigo, contra a vontade desse Estado, então nós amochamos nesse povo.
É assim que funciona na prática. Apoia-se o direito à secessão do Sudão do Sul e do Kosovo, porque queremos enfraquecer o Sudão e a Sérvia, respetivamente; mas assobia-se para o lado quando o povo da Catalunha se quer separar, porque a Espanha é nossa amiga e não queremos estar a hostilizá-la. Da mesma forma, assobia-se para o lado nos casos da Somalilândia e do Curdistão - não é que a Somália e o Iraque sejam propriamente uns Estados maravilhosos, mas são Estados nossos amigos e não convem hostilizá-los.
(Os EUA apoiaram as independências das ex-colónias francesas e inglesas porque queriam enfraquecer esses Estados europeus. Tal como no século 19 tinham apoiado a independência das colónias espanholas na América.)
Tudo o resto é conversa de chacha.
16 de Outubro de 2017 às 16:36
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Senhor Luis Lavoura : Eu até podia ter escrito o mesmo texto. Só, em vez de “assobia-se para o lado nos casos da Somália e do Curdistão - não é que a Somália e o Iraque sejam propriamente uns Estados maravilhosos, mas são Estados nossos amigos e não convém hostilizá-los” ,
Eu teria antes escrito que, para o Curdistão, não convém incomodar Erdogan, aliado da NATO, e que o Irão e a Síria talvez não estivessem de acordo.
Quanto ao ultimo parágrafo, o Senhor Luís Lavoura deveria afrontar a ira do “americano filo” irascível” deste blogue, acrescentando ao: “ (Os EUA no século 19 tinham apoiado a independência das colónias espanholas na América.)”
, “para as colonizar e integrar mesmo no seu Império”. Cuba, Puerto Rico, parte do México, Panamá, etc,etc,etc.
16 de outubro de 2017 às 18:05
Será que -mais uma vez- o Rei vai perder a ocasião de ser Rei?.
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