quinta-feira, novembro 25, 2010

Memória

Bruno Le Maire é uma figura em ascensão na vida política francesa. Com 41 anos, é ministro da Agricultura, depois de ter sido secretário de Estado dos Assuntos Europeus e trabalhado de muito perto com Dominique de Villepin.

Dando curso a uma tradição comum a muitos homens de Estado franceses, Le Maire escreve. E escreve muito bem. Publicou já três livros, dois deles ligados a memórias do trabalho político ("Le Ministre" e "Des Hommes d'Etat") e, mais recentemente, um outro, de diferente natureza, intitulado "Sans mémoire, le présent se vide". Li os dois primeiros (citei aqui um) e estou a ler o terceiro.

O aspeto curioso deste livro é que, ao longo de todo o texto, surgem frequentes referências à obra de José Cardoso Pires "De Profundis, Valsa Lenta". O tema da memória, como sustentáculo indispensável para a vida, é tratado por Le Maire de uma forma muito interessante, indo buscar à experiência trágica revelada na admirável obra de Cardoso Pires a inspiração para algumas ideias que desenvolve.

Em Portugal, com muito honrosas e raras exceções, os nossos políticos escrevem muito pouco. E é pena.

9 comentários:

cunha ribeiro disse...

É pena, é, Sr Embaixador. Mas cá para nós que ninguém nos ouve:

Será que a maioria dos políticos de hoje sabe escrever?

cunha ribeiro disse...

Tema interessantíssimo a "memória". Tenho de ler esse livro.

anamar disse...

Mas será que os nossos políticos são acometidos de sensibilidade literária???
Cultos o quanto baste para desenvolverem uma obra literária???
Não vislumbro...
E que vontade de ir de novo até JCP...
Abraço

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, quando reparei em duas semelhanças com o Bruno Le Maire (a pasta de Secretário de Estado dos Assuntos Europeus e a paixão pela escrita), comecei a pensar que bom seria para o país acontecer a terceira… mas não na Agricultura! :):)

IBP

Helena Oneto disse...

"Normalien, énarque", e bom escritor não há muitos.

Anónimo disse...

Memória é o fato de batizado
O passado engomado aguardado
Os sonhos de-cadência de espera
Leve o esvoaçar que não desespera

Memória pode ser o foi possível
O aconteceu-Nos o só e aprazível
Mas também a luz escondida do breu Mulher que perdeu coração que doeu

Tudo que vem à memória é presente
Somos Nós evadidos em parte ausente
Quando alguém dá por ela e dá conta

Deslindam-se os Nós de grande monta
secretos escombros cinzas volvidas
Luzes apagadas, Click são acendidas
Isabel Seixas

Armenio Octavio disse...

nas honrosas excepções, temos um candidato presidencial, já ouvi por diversas vezes a expressão " é bom escritor, nada mais "

pode ser que tenhamos no topo da hierarquia um escritor, romancista, poeta... e podermos dizer que em Portugal as letras estão de mão nada com a politica

Anónimo disse...

Ás vezes, mais vale escrever pouco do que escrever mal, ou algo sem interesse!
P.Rufino

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa,

Subscrevo inteiramente a sua ideia de que os nossos políticos escrevem muito pouco, antes, durante e depois das suas funções públicas; o que parece provar o excesso de formação tecnocrática e de carreirismo partidocrático das novas gerações que aderem aos partidos por interesses e não por convicções.

É realmente interessante que o actual Ministro da Agricultura francês aborde nesse livro o tema abordado e vivenciado por José Cardoso Pires, que tem estado na própria Cultura Portuguesa muito esquecido.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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