Tive um amigo, infelizmente já desaparecido, que colecionava daquelas papeletas de "Não incomodar", para pendurar nas portas dos quartos de hotéis. Numa altura em que a minha vida me fez viajante frequente, implorava-me que lhe arranjasse novos modelos e, de tempos a tempos, queixava-se se eu o não fornecia de novo material. Tendo-lhe feito a vontade algumas vezes, cansei-me, a certa altura, da vergonha que já sentia em surrupiar esses anúncios. Nunca soube o que aconteceu à sua, seguramente apreciável, coleção.
Vem isto a propósito de um outro conhecido, diplomata estrangeiro, que um dia visitei na capital do seu país. Depois de um magnífico jantar que me ofereceu, quis que fôsse beber um copo lá a casa. A certo passo, ao fazer o "tour du propriétaire", mostrando-me o belo apartamento, disse-me, com ar misterioso:
- Quero que vejas aqui um espaço especial.
Era uma espécie de arrecadação. De início, pensei tratar-se de uma zona "proibida", alguma videoteca de vícios escondidos, coisa só "para homens". Mas não. Eram livros. Algumas centenas. Ao fundo da divisão, havia uma parede inteira de estantes, quase completamente preenchida, com volumes quase todos de tons sombrios. Pensei: "vêm por aí os clássicos anónimos do século XIX, Sacher-Masoch, Sade, Miller, Louys, Bataille ou Anais Nin".
- Sabes o que tenho aqui? Bíblias! Todas "sacadas" de hotéis, em várias línguas, nas minhas viagens pelo mundo. Quase 500. Não achas que é uma bela coleção?
- Sabes o que tenho aqui? Bíblias! Todas "sacadas" de hotéis, em várias línguas, nas minhas viagens pelo mundo. Quase 500. Não achas que é uma bela coleção?
Eu achava, claro! Cada um tem a sua mania...
13 comentários:
ho Sr. Embaixador gostava que falasse de novo nas Pousadas de Portugal,como falou aqui a tempos.
Credo!...
Isabel Seixas
Eu acho que a colecção do anfitrião do Sr Embaixador é de facto importante.
Outra muito importante colecção ( a dos azares...) pertence a Carlos Queirós.
E há outra , de asneiras políticas, que nem vou nomear...
A propósito de Bíblias, aqui envio uma piada (na língua de Shakespeare):
Every time a new Pope is elected, there are many rituals to be followed, in accordance with tradition. But there's one ritual that very few people know about.
Shortly after the new Pope is enthroned, the Chief Rabbi of Jerusalem seeks an audience with him.
He is shown into the Pope's presence, whereupon he presents him with a silver tray bearing a velvet cushion. On top of the cushion is an ancient, shrivelled parchment envelope.
The Pope symbolically stretches out his arm in a gesture of rejection.
The Chief Rabbi then retires, taking the envelope with him, and does not return until the next Pope is elected.
Pope Bendict was intrigued by this ritual, the origin of which was unknown to him. He instructed the best scholars of the Vatican to research it, but they couldn't came up with anything. So when the time came and the Chief Rabbi was shown into his presence, he faithfully enacted the ritual rejection.
But then, as the Chief Rabbi turned to leave, he beckoned to him. "My brother," he whispered, "I must confess that we Catholics are ignorant of the meaning of this ritual enacted for centuries between us and the Jewish people. I have to ask you, what is it all about?"
The Chief Rabbi scratched his head and replied, "Frankly, Your Holiness, I have no idea either. The origin of this ritual is lost to us, too."
The Pope thought for a bit and said, "My brother, let us retire to my chamber and enjoy a glass of wine together. Then, with your agreement, we shall open the envelope and discover, at last, the secret."
The Chief Rabbi agreed.
So, after a leisurely glass of wine, they reverently picked up the curling parchment envelope and opened it with fingers trembling with anticipation.
The Chief Rabbi reached inside, took out a sheet of ancient parchment, and carefully unfolded it. He looked at it, and then handed it to the Pope.
It was the bill for the Last Supper.
P.Rufino
Rapaz religioso, esse diplomata! E, além do mais, com o ceu garantido...
Manias originais, mas inofensivas
Senhor Embaixador, este seu post deixou o meu ego de coleccionadora um pouco em baixo…
As minhas humildes colecções, feitas à conta das viagens ao estrangeiro, resumem-se a simples sabonetes (de hotéis) e pacotes de acúçar (de restaurantes, cafés e afins).
Vantagens: ocupam pouco espaço e não provocam qualquer prejuízo material ou financeiro aos sítios de onde são retirados (estão incluídos no preço do consumo).
IBP
Uma das primeiras coisas que faço quando chego a um quarto de hotel é desfolhar a biblia.
Diria que, três a quatro vezes em cada dez, lá estão umas notitas á minha espera, normalmente 'greens'.
Então, em África é “trigo limpo farinha amparo"
E continua a ser o cofre mais utilizado, porque é o mais barato.
Manias, essas fazem com que cada um seja único mesmo. Alguns mais outros menos. E, no caminho religioso, quem não tem uma mania que atire a primeira pedra.
Mágda Cunha, Porto Alegre/Brasil
Ó P. Rufino o que a sua cultura nos desvenda!
Caro Cunha Ribeiro se um dia quiser fazer a lista dos dislates políticos, conte comigo para o ajudar. Porque são tantos que não sei se conseguiriamos, os dois, por fim à tarefa!
O Pai enfeitava as estantes da loja com pratas dos pacotes de cigarros, criteriosamente coladas com cola de farinha e água, abstraindo-se completamente do mundo na execução da sua arte, enquanto Nós operacionalizávamos assaltos a caixas de biscoitos com uma perícia invejável resguardando sempre a primeira divisória e despojando a do fundo logo das bolachas de chocolate com invólucro vermelho azul e verde e as bolachas baunilha...
Como assim as chineladas da Mãe estavam certas e o medo delas era inferior à intensidade do desejo.
Depois ninguém naquela altura comprava caixas de biscoitos inteiras "Quem podia".
O pai guardava os pacotes de cigarros vazios para as senhoras que faziam tapetes com um design de entrelaçados que não se soltavam e eram uma espécie de turcos com desenhos próximos do geométrico onde emergiam poucos mata ratos, bastantes definitivoa e davam nas vistas o SG Filtro o Ventil e o Português suave.
Por fim o Pai despedia-se do nacarado das estantes com toques terapêuticos impregnados de carinho, com pena de ter terminado.
Isabel Seixas
In "Quem me limpou os Moncos Quem me ensinou a Assoar"
Senhor Embaixador,
A história de seu colega com a tara "fisgar" 500 biblias nos quartos dos hoteis sofria de "cliptomania" e dava-lhe para as bíblias mesmo que fosse ateu.
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Eu conheci um miúdo na minha "parvónia" que era alérgico âs moedas de 1,2 e 5 tostões que os devotos dos santos, festejados,davam umas esmolas que colocavam na bandeja junto ao altar.
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O malandro, fazendo de conta que colocava uma moeda na bandeja, limpava outras que depois ia deixar ao taberneiro da esquina, para comprar um "pirolito" (aquelas simpáticas garrafas, de dois murros no gargalo e uma bolinha empurrada para dentro para beber a limonada
com gás.
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Só que o miúdo não fazia colecção de garrafas, mas esvaziavas com o dinheiro das esmolas.
Saudações de Banguecoque
José Martins
magnifica a historia do papa e do rabino sobre a tradição de rejeitar a conta ou as responsabilidades.
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