Um bom amigo, pessoa que sofre as coisas da vida com uma seriedade asceta, dizia-me há dias que eu deveria refletir sobre se não haveria uma excessiva "leveza" humorística na escolha de algumas coisas que aqui publico e no estilo com que as trato, porventura pouco consentâneos com a gravidade dos tempos por que passamos. Assim, no parecer desse meu leitor, afetivamente atento, eu deveria cultivar um estilo mais sóbrio - ele não disse, mas eu presumi-o, mais "embaixadorial" - e seco, quiçá devendo optar para, por este intermédio, fazer chegar à Pátria o sumo destilado do que vou aprendendo por este posto, tido por privilegiado, de observação.
Descanse o amigo. Sirvo diariamente à Pátria as reflexões que creio poderem ser úteis a quem a gere. Isso é feito pelas vias adequadas, embora eu próprio me interrogue sempre sobre a real utilidade daquilo que remeto a Lisboa - com desvelo informativo, zelo burocrático e o mínimo possível de erros de ortografia.
Mas este blogue, volto a repeti-lo, não tem grandes pretensões. Ou melhor: tem - isso sim! - nos seus objetivos escondidos (gosto mais do termo britânico "hidden agenda") a finalidade de ajudar quem o escreve e quem o lê a suportar a quase endémica acidez dos espíritos que a digestão da dura realidade quotidiana a todos provoca. A vida já é o que é. Valerá a pena torná-la mais sombria, retratando-a a tons negro e cinza? Ou não será preferível servir algumas pílulas de ironia e humor qb, por forma a que algumas das nossas rugas passem a ser devidas a sorrisos, em vez de resultarem das preocupações? Estou consciente de que não consigo controlar todos os efeitos secundários do que por aqui sirvo. Mas, como rezam todas as bulas, eles variarão sempre de pessoa para pessoa...
Mas este blogue, volto a repeti-lo, não tem grandes pretensões. Ou melhor: tem - isso sim! - nos seus objetivos escondidos (gosto mais do termo britânico "hidden agenda") a finalidade de ajudar quem o escreve e quem o lê a suportar a quase endémica acidez dos espíritos que a digestão da dura realidade quotidiana a todos provoca. A vida já é o que é. Valerá a pena torná-la mais sombria, retratando-a a tons negro e cinza? Ou não será preferível servir algumas pílulas de ironia e humor qb, por forma a que algumas das nossas rugas passem a ser devidas a sorrisos, em vez de resultarem das preocupações? Estou consciente de que não consigo controlar todos os efeitos secundários do que por aqui sirvo. Mas, como rezam todas as bulas, eles variarão sempre de pessoa para pessoa...
34 comentários:
Estou 459,8% por cento com o texto. Para o vale de lágrimas em que nos alapamos, já bastam as carpideiras profissionais.
Sou adepto incondicional da ironia, do riso, ambos sudáveis, com a. De resto o meu http://aminhatravessadoferreira.blogspot.com é disso exemplo.
Deixá-os falá-los que eles calarão-se-ão.
Agora mesmo estou a publicar uma rubrica HISTÓRIA COM ESTÓRIAS que já teve dois artigos gozados: ... e o Dom Fuas de... Roupinho e A Rainha das Rosas. Passe a publicidade, se quiserem vão até lá
Ridendo castigat mores mandara pintar o arlequim Domenico no pano de boca do seu teatro. E mandara muito bem.
Nem mais, nem ontem, senhor embaixador...
Blogar é um puro deleite para quem leva isto ao sabor do tempo e dos estados de espírito. Nossos e dos outros...
atenta de si.
Ana
"Nada no homem é mais importante do que o seu senso de humor, é o sinal de que ele quer toda a verdade!" (Mark Van Doren)
"meu" caro embaixador, por favor, nao mude nada! é um prazer imenso ler a sua prosa, tal qual!
Se entretanto O Seu amigo Asceta no âmbito do politicamente correto o aconselhar a livrar-se de algum comentador, obviamente eu também, aaaaa...
Tente...
Cada blogue tem a Sua Cruz...
Precisamos de provas dos nove da resiliência dos blogues versus a sua robustez fisica estrutural/durabilidade democrática e emocional...
É a vida...
Porque sim...
E em desespero de causa se os conselhos fossem bons davam-se não se pagava o preço da irritante lei de Murphy como se já não se soubesse...
Oh...
Resumindo
Da ironia e do humor
Hoje vou trabalhar com um sorriso
(Mas é o que faço normalmente)
Isabel Seixas
Gosto do estilo deste blogue, não vejo necessidade de mudar.
Há cada uma... patetices de invejosos ou azedumes de má digestão ?
Francisco, continue mantendo o estilo que imprimiu ao “Duas ou Três Coisas”.
... E que Portugal ganhe à Espanha!
Um assíduo visitante
C.Falcão
O interesse deste blogue de FSC reside na variedade dos temas sobre que escreve e apresenta, na informalidade, no humor mas também na seriedade quando necessária, no inesperado das entradas (que aparecerá hoje no blogue?), na variedade (que não o torna monótono), nos debate e diálogo que provoca, na boa escrita, etc, etc.
Por falar em Pessoa, com letra maíuscula de tamanho incomensurável, já ele dizia que "a ironia é o primeiro indício de que a consciência está consciente". O seu blogue, Senhor Embaixador, é um acto de liberdade criativa e muito pessoal que não poderia deixar de reflectir a sua atitude positiva face à vida e às suas "surpresas", umas boas outras menos. Um abraço de Berna.
Ora nem mais! E que este blogue assim continue, com o estilo que lhe foi imprimido ao longo da sua existência.
P.Rufino
Senhor Embaixador mantenha o blog nos moldes em que o tem, pois ele é extremamente interessante tanto a nível cultural, político e de memórias diplomáticas. A sua leitura diária (ou quase) é algo que não dispenso.
LBA
Sr Embaixador,
Não siga o soturno conselho desse Senhor. Eu quero continuar presente neste Bendito Blog.
Olha que esse teu amigo deve ser um chato de galocha, como se diz no Brasil...
Se o "repas gastronomique des français" foi elevado ao grau de "património imaterial da Humanidade" eu elevo este blogue ao grau de "Terapia Quotidiana da Alma" : ))
Tal como o sr. embaixador, também eu, já fui alvo de críticas por causa do sentido de humor. Vou chegando à conclusão que o humor é como a literatura e matemática; todos as usam, poucos as percebem.
Henrique ANTUNES FERREIRA:
Adorei o seu post!
Continue com este seu estilo, caro embaixador.
O que nos falta é humor.
Cumprimentos
Senhor Embaixador, um dos seus encantos - permita a ousadia que a idade me dá - é, justamente, essa acidez doce com que tempera o seu humor.
O mesmo que de outro modo, me deliciava no Tintin no Tibete que, para minha tristeza, encerrou as suas portas.
Lá como aqui usufruí de post´s deliciosos e comentários judiciosos.
Tudo me tem enriquecido. Mais, têm sido muitos dos seus textos, que me têm feito encarar as "Necessidades" com outros olhos! Por favor mantenha-se como está!
Obrigado.
Caro C. Falcao, o jogo de hoje é daqueles em que fico contente qualquer que seja o resultado...vantagens de se ser Ibérica, na verdadeira acepçao da palavra ; )
Et cerise sur le gâteau...o jogo é na LUZ : )
Peço imensa desculpa senhor embaixador, mas esta minha identidade de Catwoman pertence a outro blogue : )
Agradeço que publique com o meu nome "en ville".
Caro C. Falcao, o jogo de hoje é daqueles em que fico contente qualquer que seja o resultado...vantagens de se ser Ibérica, na verdadeira acepçao da palavra ; )
Et cerise sur le gâteau...o jogo é na LUZ : )
A mim também me agrada imenso a versatilidade dos temas, e a forma irónica como nos são relatados ao pormenor. Fascinam-me as short stories dos bastidores da diplomacia pelo mundo fora, certas personagens que consigo imaginar, e as pequenas notícias de Portugal no estrangeiro, ou como olhamos o país do exterior. Absolutamente inspirador!
Ao final da noite, depois de ver as desgraças do país e do mundo, é um verdadeiro bálsamo dar uma escapadela até ao “duas ou três coisas”.
Para nos provocar “acidez dos espíritos” já temos que chegue por terras lusas... e com excesso de produção!
Senhor Embaixador, continue a escrever assim!
P.S. Concordo plenamente com o Alcipe, esse amigo deve ser um “chato de galocha” :)
IBP
The best about this blog are the short stories and the author's hidden agenda:)!
Cara Helena
Eu não encerrei o meu blog. E as suas palavras (bem como as da Helena Oneto) tiveram grande importância nessa minha decisão de continuar. Obrigado.
Depois pensando bem;
O ascetismo por si só é um mecanismo de defesa,ás vezes oriundo da auto inquisição outras apenas revelador de alguém que faz cerimónias e faz um pedido mudo de posso entrar.
Meu Deus não se vive sem ironia e humor(que tédio), daí que este post é paradigmático e os comentadores reafirmaram também ao seu estilo e ainda bem que também têm um essa Verdade.
Isabel Seixas
Caro Alcipe não podia dar-me melhor notícia no dia em que o iluminado Dr. TS nos diz que o que nos vai esbulhar é para sempre...
Salvou-me a tarde, se é que ainda tenho salvação!
o Humor, a Ironia serão dos mais belos e requintados toques literários, acho quem delicioso rir, será eventualmente a melhor das coisas que o Homem faz... rir
gosto do estilo, e quanto mais mordaz for, melhor... diz-me na minha terra a rir e a brincar se dizem as coisas mais serias
Ha muito poucos blogues com as qualidades da subtileza, da ironia e da seriedade patentes neste blogue. Seguramente reflectindo a diversidade de experiencias dafantastica historia de vida do seu autor. Admiro tambem, a 'contenção criativa' do Embaixador, naturalmente inerente as funçoes que desempenha. Obrigado e boa continuaçao.
Sendo bom amigo, como o identifica, só terá abordado o tema para 'seu bem'.
Sendo bom amigo, conhecê-lo-á e não se surpreenderá com o tom (ou a variedade deles) deste espaço; apenas sentirá vaga apreensão com os eventuais reflexos de algumas gostosas gargalhadas, piadas sumarentas, estocadas finas ou chibatadas secas em alguns sectores mais, digamos, oficiais que são, afinal, o seu ganha-bijou...
;)
Ai Maggie, como eu gostei do seu comentário.
Ouvem-se aí, no Norte, as minhas gargalhadas?
:-))
Margarida ?
CLAP, CLAp, CLap, Clap...
Acho que esta frase de Wittgenstein também fica aqui bem : "Humor não é um estado de espírito, mas uma visão de mundo."
Bom domingo, caro embaixador...longe dos "Tropicos" : ))
Claro Júlia...
É daí que advém o mau humor...
Isabel Seixas
...) acho que todos os meus livros têm esse outro mundo, que me é natural: o mundo do humor e da ironia. Como se as palavras fossem coisas materiais e nós pudéssemos ver as costas das palavras, a parte de baixo das palavras; como se pudéssemos levantar a saia das palavras. Instintivamente, quando recebo uma frase, quando ouço uma frase, é como se me movimentasse em redor dessa frase. A ironia é não recebermos uma frase exactamente como ela nos surge e tentarmos ler o outro lado do que se está a dizer. Isso é-me muito natural.»
Gonçalo M. Tavares, acaba de ganhar o Prix du Meilleur Livre Étranger, depois de já ter sido finalista dos prémios literários Fémina e Médicis.
Ler aqui :
http://www.publico.pt/Cultura/goncalo-m-tavares-vence-premio-do-melhor-livro-estrangeiro-2010-em-franca_1467559
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