terça-feira, abril 17, 2018

Sócrates

Aquilo que a SIC apresentou ontem, depois do seu Jornal da Noite, com extratos video dos interrogatórios da PGR ao antigo PM José Sócrates, é um programa que, pelas mais contraditórias das razões, deve ser visto.

Não há almoços grátis!

Tem alguma graça a ingénua indignação de quantos se acham “pirateados” e invadidos na sua privacidade pela empresas proprietárias das redes sociais.

Será que andavam, há anos, a usar e-mails à vontade e achavam que isso era ”à borla”, só pelos seus lindos olhos?

E quem seria o “benemérito” que, sem pagarem um tostão, os deixava trocar conversas no Facebook, mandar bitaites no Twitter, contar histórias nos blogues e colocar inspirados pôr-do-sol no Instagram?

Não há almoços grátis! Aprendam!

segunda-feira, abril 16, 2018

"From Russia with love..."

Quanto russófilo de nova geração por aí anda, apenas porque Putin parece aborrecer Trump!

A Rússia de Putin é, nos dias que correm, o "next best" de quantos têm saudades do muro de Berlim, dos anti-yankee "de carteirinha", dos eurocéticos ferozes.

Ser pró-Putin é assim como estar "um pouco" com Guevara na floresta Bolívia, com Giap nos túneis do Vietcong, com a Pasionaria às portas de Madrid.

Estas novas Brigadas Internacionais da tecla e do sofá colam-se hoje ao KGB reconvertido em estadista com ar grave, borrifam-se para os jornalistas liquidados nas noites de Moscovo, para os opositores encarcerados, para as barbáries da Chechénia.

A América é para eles, desde sempre, o inimigo principal e, agora com Trump, nunca se pôs mais a jeito...

PPMO

Ainda sou do tempo em que falar do “processo de paz do Médio Oriente” (PPMO, para os iniciados) era referir o conflito israelo-palestino. Onde isso vai!

Questão

Ainda não vi isto respondido de forma serena e convincente: se o governo de Assad estava, como tudo indica que continua a estar, com a situação sob crescente controlo, no caminho para uma vitória militar, que interesse teria em provocar o mundo com uma ação com armas químicas, de cuja não utilização o seu parceiro russo era garante?

TV Damasco

As televisões sírias que cobrem as manifestações de apoio a Assad seguem o “método” das nossas televisões durante as campanhas eleitorais: filmam de frente e de perto, com a câmara baixa, para ajudar à ideia de que está muita gente a assistir. Lá pode ser por medo, cá por que é?

Dormi melhor!

O modo como correu o ataque ocidental à Síria deixou-me bastante mais descansado: houve um cuidado extremo em não atingir forças ou pessoal russo. As “rules of engagement”, pelos vistos, ainda seguem as boas regras da Guerra Fria. E isso são muito boas notícias.

Os pequenos grandes

Reino Unido e França, que “no grupo dos pequenos fazem papel de grandes” (dizia um MNE com quem trabalhei), têm de fazer “prova de vida” para justificarem o seu lugar no CSNU. Ao serem “úteis” a Trump, limitam o unilateralismo americano e condicionam a dimensão das ações. É bom!

A França e a guerra

Foi interessante a posição francesa no caso Sírio. Até Trump citou a França antes do Reino Unido! Macron, contando com o Brexit e inexistência militar da Alemanha, está-se a sugerir como o parceiro europeu, simultaneamente fiável e eficaz. E a Arábia Saudita e Israel agradecem.

O Irão e guerra

Veremos se um dos “preços” que Trump vai ter de pagar pelo apoio franco-britânico na Síria não será no dossiê nuclear com o Irão. O teste está aí em semanas: se o “State Department” confirmar uma vez mais que o Irão está a cumprir o acordado, Paris e Londres (e Berlim) ganharam.

O Reino Unido e a guerra

A Theresa May saiu a Taluda com estas “oportunas” crises, ironicamente todas à sombra das armas químicas. Se a isso somarmos as trapalhadas de Corbyn com Israel, deve ir festa rija em Downing Street. Mas Berlim não deixará de cobrar, no Brexit, o seu apoio a Londres, podem crer!

A Rússia e a guerra

A reação russa à iniciativa ocidental na Síria foi do género “agarrem-me senão bato-lhe!” Com um pé no Médio Oriente como nunca antes teve (recordo-me do seu papel irrelevante no “Quarteto” para o processo de paz), Moscovo percebeu que a sua reação só podia ser retórica.

Publicidade enganosa

Andam aí falsos “artigos” com a indicação de “conteúdo patrocinado”. Por que razão a ERC não obriga a chamar “os bois pelos nomes” e a forçar a identificação real desses conteúdos: publicidade?

Centeno

Tenho Mário Centeno na mais elevada conta. Não sendo minimamente qualificado para julgar a sua competência técnica, enquanto cidadão parece-me que tem feito um lugar excelente, com a conjuntura a ajudar, naturalmente.

Foi uma bênção para o país esta excelente escolha de António Costa.

Não fui, contudo, dos portugueses que ficaram mais satisfeitos com a ida de Centeno para a presidência do Eurogrupo. Porque temi que, no seu louvável esforço para mudar, naquele contexto, a imagem de Portugal, ele pudesse ser tentado a alguns excessos de zelo. E que, nessa mesma onda, pudesse ser seduzido por hipóteses futuras em lugares de maior influência, embora não desconheça o efeito positivo que tudo isso pode vir a ter para a imagem e os interesses a longo prazo do nosso país. Mas eu sou um cético do longo prazo...

Confio - mas confio mesmo! - em que António Costa e Mário Centeno acabarão sempre por tomar as melhores decisões. Mas gostava que ambos nunca se esquecessem de que esta nossa gente e este nosso país vivem aqui, hoje e nos amanhãs imediatos que contam (mesmo que eles já não “cantem”), não a um prazo longo em que, como bem lembrou Keynes, todos estaremos mortos.

"Estou aqui!"

É quase sempre um ano e picos antes das eleições que começam a surgir entrevistas e artigos de deputados, nacionais ou europeus, mostrando-se e passando “a mão pelo pêlo” aos respetivos líderes, sugerindo-se subliminarmente para mais um mandato. Foi sempre assim! Este ano são ainda poucos. Estou mesmo a estranhar...

Uma boa ideia

Rui Rio disse ontem uma coisa bem sensata: é preciso saber os nomes dos grandes devedores (e dos beneficiários de perdão de dívida) da Caixa Geral de Depósitos, que os contribuintes foram chamados a refinanciar. O argumento de que isso dificultava o refinanciamento já não é válido. Quem tem medo?

Parlamento

Há algo que não honra a imagem do nosso parlamento: o surgimento regular de dúvidas sobre viagens, subsídios, ajudas de custo e similares dos deputados. É assim desde sempre. Fica mesmo a ideia de haver um “omertà” transpartidário para evitar a fixação de regras estritas e transparentes. Não quero crer que seja verdade.‬ Mas será?

Em chávena quente

Vou episodicamente a esse café. Fui lá hoje, ainda não eram nove horas.

De dentro do balcão, vinha uma voz "encarnada", furibunda. A conversa, com um colega adverso que atendia às mesas, ia pesada, ouvida por toda a sala, com indiferença ou com sorrisos, alguns dos quais só íntimos, como era o meu caso. Tratava-se do alegado "roubo" do penalti, ontem. 

Foi então que entrou o "senhor engenheiro". Pediu uma bica e um queque. De trás do balcão, sorridente e solícito, o empregado "encarnado" tinha dito: "Bom dia, senhor engenheiro! O costume?". E para o lado: "Tira aí uma bica curta em chávena aquecida, aqui para o senhor engenheiro". E acrescentou, acolhedor: "Tem ali o "Público", se quiser, senhor engenheiro!"

O senhor engenheiro estava com pressa. Mas não resistiu à conversa cruzada que atravessava o balcão. Enquanto escorropichava a bica, saiu-lhe: "Aquilo ontem, vendo bem, não foi penalti!".

De dentro do balcão, feita súbita trincheira, o empregado urrou: "Não foi penalti? Essa agora! Foi um roubo, uma vigarice, uma falta descarada que ficou por marcar! Querem dar o campeonato àqueles morcões! Isto é tudo um bando de gatunos!"

O senhor engenheiro, não tendo apreciado o "outburst", de cara fechada, já limpava as migalhas do queque no sobretudo quando, imprudente, adiantou, salomónico: "Cada um olha as coisas como lhe parece. Bom dia!" e, moedas postas sobre o balcão, foi saindo.

Foi então que ouviu, gritado, bem alto, de trás da trincheira, com a ousadia da raiva: "Ó senhor engenheiro! Vá mas é ao oculista!"

Fiquei convencido - pelos olhares, eu e vários clientes - que o senhor engenheiro, amanhã, é capaz de mudar de café. 

domingo, abril 15, 2018

Jornalismo


O jornalismo televisivo tem três básicas componentes: a política (nas últimas horas, a guerra), os desastres e “o que corre mal” e o futebol. O que sai disto é quase irrelevante e atirado lá para o fundo dos alinhamentos, para que não se diga que não se mencionou. Em particular, se for algo “positivo”, que vai a contra-ciclo do sentido dessa informação.

Hoje, é o dia em que as televisões se dedicam a “isto”, depois de terem andado com o presidente do Sporting ao colo noticioso por quase uma semana.

Em lugar de 90 minutos de transmissão de um jogo, seguido de uma análise serena de meia hora de comentário por quem sabe, sem emblemas nem tribos, temos estas horas de enxurrada de imagens de adeptos, javardice, emoções insultuosas.

As nossas televisões, todas sem exceção, embora umas mais do que outras, são cúmplices objetivos deste clima balcanizado que atravessa o país. São parceiros da violência e da agressividade. Companheiros da vergonha em que a exploração do futebol de transformou.

Uma tristeza!

Fernando Reino (1929/2018)



Morreu Fernando Reino. Era um transmontano de Felgar. Foi o meu primeiro embaixador quando, em meados de 1979, fui colocado na Noruega. Trabalhámos pouco tempo juntos. Menos de um ano depois, Reino viria a ser chamado por Ramalho Eanes para chefe da sua Casa Civil. Mas, desde os fiordes, ficámos amigos para sempre.

Fernando Reino, como já aqui escrevi, foi um excelente diplomata, com grande sentido de Estado e dos interesses nacionais, com uma muito exigente leitura do serviço público, que impunha aos seus colaboradores. Aprendi imenso com ele. Era uma “força da natureza”, incansável e absorvente, com um ritmo de atividade difícil de acompanhar. Não era fácil trabalhar com Fernando Reino, mas, no que me respeita, foi sempre muito bom, profissional e humanamente.

Europeísta e profundamente empenhado na reforma e modernização da nossa máquina diplomática, via o país em grande. Ainda na semana passada, em Madrid, olhei o prédio onde ele um dia sonhou, quando aí foi embaixador, concentrar todos os serviços oficiais portugueses - da embaixada e consulado às áreas de turismo, comércio externo e até a TAP. As “capelinhas” de Lisboa impediram a concretização desse sonho, a fixação de uma prestigiante centralidade lusitana na capital espanhola.

Como diplomata, Fernando Reino começou por estar colocado na NATO (então ainda em Paris), em Tóquio (recordo-me da sua bela coleção de leques japoneses e das memórias sobre seu primo orientalista, Armando Martins Janeira), em Madagascar, no Cabo, em Tunis (curiosamente, foi diplomata português dentro da embaixada espanhola, que então cuidava dos nossos interesses) e na missão junto da CEE, onde viria a apurar o europeísmo que passou a ser a sua imagem de marca. 

Com o 25 de abril, uma das grandes alegrias da sua vida, coordenou a Comissão Nacional de Descolonização, tendo participado na Conferência do Alvor. Amigo próximo de Melo Antunes, tinha uma excelente relação com Mário Soares e esteve sempre identificado com a ala mais progressista dentro do MNE. 

O seu primeiro posto como chefe de uma embaixada foi em Oslo, em 1977, onde com ele colaborei, tendo daí passado a Belém, por cerca de um ano. Foi depois para Genebra, onde representou Portugal junto de diversas organizações internacionais. Daí, viria a transitar para a embaixada em Madrid, tendo concluído a sua brilhante carreira em Nova Iorque, como embaixador junto das Nações Unidas.

Tenho muita pena que Fernando Reino não tenha deixado obra publicada, como testemunho do muito que viu, das figuras com quem se cruzou, dos momentos históricos em que participou e teve mesmo papel destacado. Falámos muitas vezes da algumas ideias que tinha nesse domínio. Era dono de uma memória privilegiada, como pude constatar em dois agradáveis almoços que, nos últimos anos, tive com ele e com dois diplomatas e seus grandes amigos, João Niza Pinheiro e Alfredo Duarte Costa, que muito vão sentir a sua falta. Agora, ficou para nunca mais o novo repasto que estávamos a organizar.

Deixo um abraço sentido de pesar à Ana Isabel e à Sofia, agora que à saudade da mãe Maria Gabriela juntam a do pai.

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...