A resposta europeia à crise grega, assumida no último Conselho Europeu, deve ser lida como uma primeira tentativa no sentido de acalmar os mercados e procurar testar até que ponto estes são, ou não, sensíveis a uma manifestação de solidariedade política dos parceiros, a qual, por ora, tem muito de retórica. É por esta razão que só os próximos dias poderão dizer se o PM grego Georgios Papandreou estava certo quando a qualificou como uma reação "tímida".
A Europa do euro cedo percebeu que a crise grega, tendo em si dimensões nacionais muito específicas, se pode transformar numa grave "infeção" da zona da moeda comum. E esse é um cenário que não interessa a ninguém - a começar na Alemanha e a acabar em Portugal.
A Alemanha não prescindiu do marco para ter de viver com uma moeda instável. Os fantasmas dos tempos de Weimar nunca desapareceram em Berlim. Quando o ministro dos Finanças alemão, Theo Weigel, impôs, nos idos de 1997, o seu discutível pacote de "critérios de convergência", o objetivo era, precisamente, "blindar" a nova moeda do potencial laxismo de países como a Grécia ou Portugal. A suprema ironia foi que, anos depois, a Alemanha e a França iriam estar entre os primeiros países a ultrapassar essas mesmas metas quantitativas...
Para um país como Portugal, a crise grega, bem como o modo como a ela a Europa reagir, não é de todo indiferente. É que sendo a Grécia, neste conjuntura, o elo mais fraco do tecido monetário europeu, com indicadores bem mais gravosos que os nossos, a verdade é que, num cenário piorado de crise, Portugal surgirá inevitavelmente na linha de fogo, como um dos alvos seguintes. Por isso, e mesmo que não houvesse outras razões - e elas existem, no plano político e estratégico -, a resolução favorável do problema grego é-nos muito importante.
Comecei por dizer que à eventualmente "tímida" atitude europeia do último Conselho Europeu vão seguir-se, se necessário for, outras medidas. Por isso, e por ora, estamos perante um mero "deitar o barro à parede", para ver se as coisas podem ficar por aqui. É que a fragilidade do caso grego não interessa a ninguém e os ministros das Finanças do Eurogrupo sabem que têm ao seu dispor algumas outras armas para reagir, se acaso, como muitos receiam, os mercados se não contentarem com o discurso político que há dias saiu de Bruxelas.
É no quadro destas novas medidas, que podem vir a tornar-se necessárias, que tem condições de germinar uma nova doutrina para a gestão económica da Europa, para a criação de um "governo económico europeu" que alguns líderes reclamam, por ora ainda sob forte ceticismo da Alemanha.
Um país como Portugal tem todo o interesse em ver esse projeto florescer. De certo modo, ele acabaria por ser um movimento compensatório daquilo que parece desenhar-se como o enfraquecimento da Europa comunitária, isto é, de um projeto que tínhamos por muito favorável, com a Comissão Europeia no seu centro propulsor. Se a "outra" Europa que o Tratado de Lisboa parece consagrar, marcada por um forte pendor intergovernamental, conseguir gerar um tecido comum mais sólido, em matéria de políticas económico-financeiras, talvez alguns tenham de rever algumas leituras recentes, e menos favoráveis, sobre os caminhos por onde a União Europeia atualmente anda. No que me toca, gostaria muito de encontrar razões para o fazer.