Não foi há muitos anos. Aquele embaixador caminhava, decidido, nos corredores do Palácio das Necessidades. Era um homem pequeno de estatura, mas erguia a cabeça para tentar ganhar a altura dos grandes da casa. Pelo vigor da passada, pelo modo confiante como observava à sua volta, num fácies grave e determinado, era patente que estava ungido da determinação daqueles a quem, ao virar da esquina do futuro próximo, iriam ser atribuídas novas e importantes responsabilidades.
Os contínuos já o olhavam de uma forma respeitosa, os diplomatas mais jovens com os quais se cruzava baixavam a cabeça, num reverencial temor, ficando a segredar murmúrios em torno do seu nome, que os zunzuns ligavam à futura ocupação do cargo central da hierarquia diplomática.
Ele era, nesses dias de mudança política no ”terceiro andar” (onde se acolhem os ministros e o seu séquito), o objeto privilegiado do chamado "rumor dos claustros" - uma vetusta forma de boataria diplomática que, em casos limite, chega quase a ser constitutiva de direitos.
Forte das bençãos do destino que inexoravelmente se aproximava, faltando apenas o despiciendo detalhe do convite que ainda não fora formalizado, mas já com a segurança dos putativos eleitos, prenhe de confiança que conversas recentes só tinham adubado, abriu a porta de um gabinete e, não podendo conter mais a exploração do sucesso certo que aí vinha, comentou, para uma funcionária, pessoa tida por muito bem informada, pelo seu lugar na geografia funcional da casa, confiante de a ir ouvir ecoar as suas expectativas:
- Então!? Fala-se agora por aí muito no meu nome, não é?!
A senhora, uma distinta servidora da casa, já vira passar muitos mundos, das glórias aos ocasos, testemunhara a chegada e a partida de várias ambições, olhava já para tudo aquilo com uma relativização construída num sereno bom-senso. Pelo que, arvorando um indefinível sorriso, que a doutrina da casa nunca concluiu se incluía ou não o seu grão de sadismo, respondeu ao interlocutor:
- Falava, senhor embaixador, falava! Agora, esta semana, já se fala noutros nomes...