O grupo Sonae anunciou mudanças importantes na sua liderança. Uma filha do fundador, que há pouco desapareceu, vai agora assumir a chefia executiva. Isso acontece, curiosamente, poucos meses de depois de um outro grupo nortenho com forte presença familiar, o grupo Amorim, ter consagrado o papel proeminente da filha do seu também falecido fundador.
Por razões de envolvimento profissional direto, tenho vindo a atentar de perto, nos últimos anos, para a especificidade das empresas de base familiar. À primeira vista, as questões que se colocam a esses grupos não serão muito diferentes das de outras grandes empresas - e também conheço alguma coisa dessa outra realidade. Mas, de facto, não é assim. Há um conjunto de dimensões muito particulares que são próprias das entidades de base familiar, em matéria de desafios de gestão, o que, aliás, justifica, desde há muito, a existência, em algumas universidades internacionais, de modelos de estudo dessa complexa realidade, que também já deu origem a variada literatura especializada. Precisamente porque cada caso é um caso, os grupos familiares somam às questões tradicionais de “governance” e de gestão a necessidade de refletir a especificidade da composição familiar nesse mesmo processo. E é muito evidente que o sucesso dos grupos depende bastante da sabedoria de muitas das decisões tomadas no quadro dos equilíbrios da família detentora do capital.
Algumas das atuais grandes empresas portuguesas têm uma base familiar. Há dias, li uma biografia de José Manuel de Melo através da qual é traçado o retrato de um grupo de base familiar que, como alguns outros, atravessou complexos tempos da nossa história contemporânea. Outros surgiram, em décadas mais recentes, e constituem hoje uma parte muito importante do tecido económico nacional, que o mesmo é dizer do emprego e da criação da riqueza.
Ao iniciar a escrita deste post, aqui nas redes sociais, dei comigo a pensar que este seria talvez o lugar mais inadequado para deixar uma nota serena sobre a realidade específica que procurei destacar. Ao mesmo tempo, achei que seria um bom teste: veremos como se comporta alguma pulsão para o radicalismo e para a demagogia, para a expressão da inveja e para o insulto fácil, para a personalização diabolizada, que a simples menção dos grandes grupos económicos, e das personalidades que os titulam, regularmente convocam.