Foi há pouco, no palácio de Belém, a anteceder uma cerimónia. Um cavalheiro aproximou-se de mim e disse-me que ambos tínhamos feito parte, há quase cinco décadas, de uma delegação técnica portuguesa a Marrocos.
Eu lembrava-me bem da viagem, mas confessei não ter presente a composição de todo o grupo, onde meu companheiro representava uma conhecida empresa. Até que ele me perguntou, com um largo sorriso, antecipando a minha reação: "Mas recorda-se do homem das pirites?"
Aí, "caiu a ficha". Claro que me recordava! Era uma figura muito simpática, cordial, também membro do nosso grupo. Por que é que eu o não tinha esquecido? Porque, no decurso dessa viagem de quase uma semana, com dezenas de contactos, sempre que visitávamos alguma entidade, a quem nos tivéssemos de apresentar, o "homem das pirites" ocupava um longuíssimo tempo a dizer o seu nome, que agora não vem para o caso, e, sempre num correto francês, a sua qualidade de "vice-président exécutif du conseil d'administration de la Société Minière Santiago et de l'entreprise Pirites Alentejanas".
E dizia isto com lentidão, quase soletrando o título, enquanto apertava a mão de cada um dos nossos interlocutores marroquinos. As filas de cumprimentos, quando chegavam a ele, atrasavam-se sempre e, dia após dia, os membros da nossa delegação começaram a trocar entre si sorrisos cúmplices, ao observar a repetição da cena. A verdade é que nenhum de nós teve coragem para recomendar ao simpático "homem das pirites" que procurasse encontrar uma "job discription" um pouco mais sintética.
Eu e o meu colega de viagem magrebina rimos um bom minuto desse nosso breve passado conjunto, até sermos chamados para o momento para o qual ali estávamos convocados.
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