quinta-feira, julho 04, 2024

Roland Dumas



Roland Dumas, que morreu agora aos 102 anos, era uma figura relevante nesse mundo complexo que eram os amigos de François Mitterrand, pessoa a quem foi leal toda a vida. 

Advogado de profissão, sedutor por vocação e com grande sucesso, teve um tempo interessante à frente da diplomacia francesa. No ambiente político, a sua imagem esteve sempre muito longe de ser vista como imaculada, bem antes pelo contrário, o que o tempo veio provar que fazia jus aos factos e à verdade objetiva das coisas. 

Dumas era um realista cínico, o que ajuda sempre muito em diplomacia, provando, contudo, por várias vezes, que tinha limitados escrúpulos na sua vida privada. Isso, porém, não pareceu preocupar em demasia o seu grande amigo Mitterrand. 

Hoje, o "Le Monde", jornal com quem Dumas teve em tempos fortes "accrochages", traça-lhe um perfil bastante "mauzinho". Até a grande imprensa tem destes reflexos menores.

A certo passo dessa nota necrológica, o "Le Monde" anota: "Après que François Mitterrand a remporté la présidentielle, le 10 mai 1981, lorsque la gauche remonte à pied jusqu’au Panthéon, Roland Dumas figure au premier rang, seul à porter un costume crème et les cheveux dans le cou, bien visible parmi les fidèles." 

O jornal fica-se por aqui no relato. Estou certo que Dumas teria gostado que o artigo tivesse explicado que o inusitado traje claro, impróprio para a função, se devia ao facto de, nessa manhã, ele ter saído diretamente de casa de uma amante, sem ter hipótese de passar pelo seu apartamento pessoal, para recolher um fato mais discreto, em tons de Estado. Dumas sempre gostou de viver à altura dos seus estimados vícios. E isso, no fim de uma vida cheia, não deixa de ter a sua graça.

4 comentários:

Nuno Figueiredo disse...

vícios públicos, públicas virtudes...

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Embora estejam nas minhas antípodas relativamente a "rabos de saia", que sou um cultor do "dois é bom, três é demais", não deixo de achar um piadão a estas personagens que encheriam o Grande Auditório do CCB com os seus "affaires".

Faz lembrar uma história de família do velório de um tio-avô meu, falecido pelo Natal de 1966, em que uma ou outra das suas amantes iam aparecendo, muito pesarosas, e a minha tia, esperta que nem um alho e tesa, logo fazia um autoritário sinal a proibir as ditas senhoras de levantarem o veu que cobria a cara do defunto.

Anónimo disse...

uma vida repleta, sem dúvida. acabou por ser ilibado no caso ELF (que rebentou com a principal petrolífera francesa) por um tribunal superior. foi muito amigo dos árabes.

Carlos Falcão disse...

D’accord avec le dernier paragraphe.
O resto é a espuma dos dias.
C. Falcão

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