Há figuras políticas do passado que, de tanto se apagarem por muitos anos, nos surpreendem quando, inopinadamente, emergem a público.
Há precisamente uma semana, vi ressurgir Jacques Toubon, um homem próximo de Alain Juppé e de Jacques Chirac. Hoje com 83 anos, Toubon foi ministro da Cultura e da Justiça e responsável pelo partido de direita gaullista, RPR - que hoje se chama Les Républicans, depois de antes ter tido cinco (!) outras designações.
Na sequência da primeira volta das eleições legislativas em França, Toubon assumou a terreiro apelando à "frente republicana", para travar a eventual chegado do Front National ao poder. A "frente republicana" é uma fórmula simples, de grande dignidade cívica: havendo o risco de alguém de extrema-direita poder vir a ganhar uma eleição, o gesto "republicano" recomendado é votar no candidato que estiver melhor colocado para provocar a derrota da figura da extrema direita. A esquerda recomenda que se vote num candidato da direita ou centro e vice-versa. Tudo menos permitir a eleição de alguém da extrema-direita! (Sublinho que a palavra "republicano" tem, em França, uma aceção algo diferente daquela que nos é comum em Portugal).
Nas últimas eleições, tendo observado gente de direita, do centro e até de alguma esquerda a seguir pelo caminho do "ni-ni" ("ni Front National, ni Nouveau Front Populair (NFP)"), foi muito interessante ver Toubon, sem quaisquer reticências, recusar esse caminho.
Nesta eleição, o "ni-ni", aliás, era tanto mais enganador quanto acabava por ser um apoio indireto ao Front National. Porquê? Porque sendo esta, daquelas duas forças políticas, a única que tinha uma hipótese de poder vir a ter uma maioria absoluta, coisa que realisticamente nunca poderia acontecer com o NFP, a "neutralidade" favorecia abertamente o primeiro e diminuía as hipóteses do segundo.
Toubon teve o instinto certo e, com o seu gesto, reforçou aqueles que, ao centro e à direita, evitaram aquele que seria o primeiro governo de extrema-direita em França, desde os anos 40 do século passado, isto é, desde Vichy.
Há pouco, Jacques Toubon foi entrevistado pela France 24 e, sem quaisquer complexos, sendo embora um homem de direita, defendeu que Macron deve agora chamar para tentar formar governo a figura que o NFP, como grupo mais votado, vier a designar. Seja essa figura quem for!
Para mim, teve alguma graça "reencontrar" Jacques Toubon. Lembro-me de, em 2011, o ter visitado, como embaixador em França, na sua qualidade de presidente do Museu da História da Imigração, em Paris, com vista a procurar colaborar no esforço que a instituição fazia para dar expressão museológica à memória dos fluxos migratórios que tiveram impacto na sociedade francesa. Mostrou-me, na ocasião, a vitrine que o museu tinha consagrado à figura de Baptista de Matos, um personalidade muito carismática da nossa comunidade, infelizmente já desaparecida.
No final da visita, fomos almoçar a convite de Jacques Toubon a um restaurante próximo do museu. Viviam-se os dias do "Beaujolais nouveau", um vinho francês que, a cada ano, é lançado na terceira quinta-feira do mês de novembro, um pouco por todo o mundo. Em face da insistência do dono da casa, Toubon perguntou-me se eu queria experimentar a colheita desse ano. Notei que o fez sem grande convicção e, da minha parte, terei deixado transparecer um entusiasmo também não demasiado esfusiante. Ao longo da vida, em várias partes do mundo onde o fui experimentando, nessas datas festivas de lançamento, nunca o "Beaujolais nouveau" me convenceu, por muito que os meus sucessivos colegas franceses se tivessem empenhado em promover o "néctar". Lembro-me de ter retorquido a Toubon: "Recomenda? Está bom, este ano?". Ele sorriu e, de forma cúmplice, disse-me: "Está tão bom como nos outros anos. Vamos para um Borgonha?" Fomos.
4 comentários:
é realmente estranho que num país com grandes vinhos haver periodicamente uma correria a essa mistela que é o beaujolais nouveau (est arrivé!).
quanto ao toubon, só me recordo dele, ao tempo ministro da cultura, no festival de cannes a deitar o olhar matreiro para as atrizes em voga, com a careca vermelha que nem um camarão.
Parasitagem e Parolagem =
= farinha do mesmo saco!
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A parasitagem do neo-cidadanismo de Roma está perfeitamente identificada no planeta:
1- «a nossa economia precisa de outros como fornecedores de abundância de mão-de-obra servil».
2- «a nossa economia precisa da exploração das matérias-primas de outros».
3- mais: são lambe-botas de investimentos dos 'construtores de caravelas'; consequência: há 500 anos que estão em conluio com negócios de roubo/pilhagem e negócios de substituições populacionais.
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A parolagem (vulgo, os parolos do nacionalismo mainstream) é mais do mesmo:
- são lambe-botas de investimentos dos 'construtores de caravelas'.
E mais, já há séculos: quando pretendem fazer negócios no caos... os 'construtores de caravelas' enfiam/vendem à parolagem (vulgo, os parolos do nacionalismo mainstream) a existência duma 'guerra rápida'...
[pois é, a guerra na Ucrânia é mais do mesmo: os 'construtores de caravelas' venderam à parolagem ucraniana (nacionalistas mainstream ucranianos) uma 'guerra rápida' (a guerra rápida 'nove em cada dez'); resultado: 1- centenas de milhares de mortos e amputados, 2- riquezas da Ucrânia nas mãos de 'construtores de caravelas' (BlackRock, Soros, etc): na previsão do senador republicano Lindsey Graham são 10 a 12 triliões...]
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P.S.
A VITÓRIA RÁPIDA NOVE EM CADA DEZ
-> Nove, em cada dez, dos mais variados analistas ocidentais garantiam:
- «armas da NATO na Ucrânia... juntamente com sanções económicas à Russia,
...e...
a Russia seria conduzida rapidamente ao caos: tal seria uma oportunidade de ouro: iria proporcionar um saque de riquezas da Russia muito muito superior ao saque de riquezas que ocorreu no 'caos-Ieltsin' na década de 1990».
[pronunciamento de Joe Biden em 2022: "um rublo vai valer menos que um centavo do dólar americano"]
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Anexo
Dizer não a 500 anos de parasitismo&pilhagem:
- O REGRESSO DA LIBERDADE AO PLANETA: povos autóctones dotados da Liberdade de ter o seu espaço, explorar as suas riquezas naturais, prosperar ao seu ritmo.
--->>> SEPARATISMO--50--50
Gosto de o ler, é sério, livre, tem memória e sentido de humor.
Mria Helena
Cascais
Nåo sou conhecedor de vinhos, mas quando chega, bebe-se.
Le Beaujolais Nouveau é sinónimo de rendez-vous gastronómico e sobretudo, rdv de convívio e amizade.
Algumas empresas, convidam os empregados a saída deste rouge.
C.Falcão
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