domingo, setembro 03, 2023

O Sumol e os meus dias de verde


Há pouco, no Twitter, constatei que o Sumol aparece como o nome da "soft drink" que internacionalmente mais é associada a Portugal. É interessante notar como esta "laranjada" (era assim que se dizia) tem perdurado no tempo e, à sua medida, tem conseguido sobreviver à concorrência das marcas estrangeiras. 

Do mesmo modo, o Sumol pôs de lado muitos refrigerantes locais - de laranjadas a pirolitos e colas - que chegaram a fazer o orgulho bairrista de certas cidades. Recordo-me que, na Vila Real da minha juventude, havia por lá uma certa laranjada Aleo, cuja composição química era um mistério, com a única certeza de a ligação à fruta ser manifestamente bem longínqua. Dizia-se, a gozar, que os chapeiros das oficinas de automóveis usavam a Aleo como decapante, para retirar a tinta...

Tenho uma ternura pelo Sumol. Nos meses da recruta na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, naquelas horas chatíssimas em que nos mandavam em exercícios, pelas traseiras da unidade até ao chamado Alto da Vela, fronteiro à estrada que leva para o Juncal (na imagem), vinha colocar-se estrategicamente junto ao muro uma carrinha, em cujo tejadilho surgia um vendedor de garrafas de Sumol. 

Quando a instrução se suspendia para um descanso, deixada a nossa G3 ao cuidado de colegas, era ver-nos descer, em bandos, de lá de cima, de junto às árvores, para comprar o refresco que nos ajudava a matar a sede e entreter o tédio. Até que o comandante de pelotão dava por fim o intervalo e chamava os "nossos cadetes" para a retoma desses infernais dias "de verde".

Foi há uns exatos 50 anos, mas parece que foi, não digo ontem, mas, vá lá!, anteontem.

12 comentários:

Flor disse...

Gosto de Sumol mas raramente tomo refrigerantes. O Sumol tem um sabor totalmente diferente das laranjadas e depois tem aqueles vestígios de fruta no fundo da garrafa...

netus disse...

Bom dia Sr Embaixador.
Pois é, também ando a dizer de vez em quando - parece que foi anteontem!
Quanto a bebidas, respeitosamente sugiro "Bongo", uma delícia, para mim naturalmente.
E se a memória me não falha, "anteontem" havia um anúncio nas TV que era mais ou menos assim - um cão é um cão, um gato é um gato, Sumol é aquilo que os outros não são!
António Cabral

Anónimo disse...

Saudades da laranbjina e long live Sumol, já que é um soft drink
Fernando Neves

manuel campos disse...


Para mim foi também há um pouco mais de 50 anos mas há coisas que parecem sempre ter sido ontem ou, quando muito, anteontem como bem diz.
Há 50 anos já estava enfiado num muito peculiar quartel onde residia uma não menos peculiar companhia que, fruto de um capitão que estava sempre de baixa (era de facto doente) e de um tenente muito ocupado com outras coisas (só mais tarde se percebeu que era o Movimento dos Capitães), acabou este Asp. Of. Mil. a "tomar conta daquilo" interinamente e "de boca" na altura mais crítica, sem ter o poder real do cargo e sujeito às indicações à distância de um deles (demasiado cauteloso, acabou em casa) e do outro (demasiado impulsivo, acabou emigrado).
Eu nem era o oficial miliciano mais antigo, mas como era de longe o mais velho, o único licenciado, casado e já com um filho, havia por ali um certo consenso da parte dos outros do tipo "deixá-lo ficar com os problemas".
E no entanto lembro-me dos episódios desses tempos como não me lembro de episódios de mais nenhuns tempos (e não tive, nem tenho, uma vida monótona).

Estas recordações da E.P.I. são bem vindas porque comuns a toda uma geração de cadetes que passaram por Mafra, desde o Sumol a alguns tarimbeiros que se compraziam em complicar a vida aos "doutores" por lá e não o escondiam.

Os meus irmãos já nem sequer passaram um dia na tropa, nem mesmo o que tem menos um par de anos que eu.
Mas vinte e tal anos depois, quando já só eram chamados para o S.M.O. um em cada cinco rapazes, os meus filhos agora com 53 e 52 anos foram os dois chamados e passaram lá quase um ano cada, um deles até perdeu um bom emprego que já tinha e que, quando voltou, já não estava evidentemente lá e não foi nada fácil arranjar outro equivalente.

Algumas notas finais para quem não foi à tropa (e que cada vez são mais porque os que foram naqueles tempos estão em extinção natural).

"Asp. Of. Mil." é "Aspirante a Oficial Miliciano", o 1º degrau da escada do oficialato no Exército (na Marinha tem outra designação) e quando se assinava qualquer papel constava do mesmo e por baixo do nome o posto de cada um.
A seguir éramos alferes miliciano (Alf. Mil.) e daí não passávamos a menos que "metêssemos o chico", que era assim designado na gíria da época o acto de após o serviço militar obrigatório seguir a carreira militar.

Depois ficávamos na "reserva" até aos 35 anos o que implicava que, cada vez que se tinha que saír do país, era preciso pedir uma licença especial ali na Avenida de Berna (para quem era de Lisboa), onde agora é a Universidade Nova de Lisboa, válida por um período de 3 meses segundo creio lembrar-me.

No fim dos anos 70 e nos anos 80 não se viajava como hoje porque os bilhetes de avião não estavam aos preços dos bilhetes de autocarro como agora e, com inflações entre 20% e 30% de 1974 a 1986 e actualizações salariais de ano a ano, havia uma evidente predominância das viagens de trabalho no total.
Portanto viagens urgentes do tipo "tenho que ir amanhã" era para esquecer.
Podia-se ir ao Entrocamento onde havia uma espécie de serviço central, que lá davam na altura, foi o que eu fiz numa situação de extrema urgência, lá me meti no carro e fui por aí fora, chegado lá era o feriado municipal e lá me passou a urgência a mim e à fábrica para cujo painel de controlo central ia buscar uma peçazita tão pequena como essencial.

Francisco F disse...

O Sumol é uma espécie de património nacional.

O Sumol de laranja costumava ter evidentes vestígios de fruta (aqueles fiozinhos todos que lá vinham). O Sumol de ananás era menos natural mas era ainda melhor.

Com o tempo, a receita foi abastardada até ficar com um sabor artificial que fazia aquilo parecer um xarope.

Tenho ideia de que, a certa altura, houve uma coisa do tipo "Sumol clássico", mas não consigo garantir.

Em plenos anos 90 lembro-me de um grupo de adolescentes do Sul que tinha uma espécie de culto ao Sumol.

manuel campos disse...


A propósito da última parte do meu texto anterior.
Pouca gente sabe que, depois do 25A e em especial do PREC, não nos era fácil encomendar equipamentos de alguma importância lá fora, que era de onde vinham (e vêm) quase todos os que sejam mais sofisticados.
Por isso nesses tempos difíceis, talvez até 1981/82 em muitos casos, fazia-se as encomendas e as mesmas eram aceites pelos fornecedores com a imposição explícita de só lhes darem andamento depois de receberem o dinheiro na conta deles.

Naquela minha tentativa de ír buscar uma peçazita a Frankfurt, ía de manhã, levava o cheque no bolso e voltava à noite, o que seria óbvio em qualquer altura depois dos tempos acalmarem e hoje banalíssimo, levou a uma paragem total de um fábrica durante 2 semanas, entre pagar à maneira “da época” (transacções electrónicas, o que é isso?), faxes para lá e para cá até confirmação final, entregas pelos meios convencionais (DHL, o que é isso?).
Ora vivendo as empresas por cá um período complicado em termos financeiros, mal recuperadas da crise do petróleo de 1973 e das vicissitudes sociais e económicas durante o PREC e anos seguintes, já estavam a apanhar com a 2ª crise do petróleo em 1979, nem sempre era fácil não viver de algum “crédito”, como sempre se viveu e cada mais se vive, mas que na altura nos estava de um modo geral completamente cortado.

E acontece que todo este material vinha da Europa, que não confiava de todo em nós, maioritariamente da Alemanha, Reino Unido, França e Itália (com algumas excepções dos EUA).
A China ainda vivia outras vidas, Mao Tsé Tung só morreu em 1976, o mundo ocidental ainda não tinha desistido de ser auto-suficiente e de entregar o futuro a outros, com os riscos que se adivinham e já se começam a sentir, nem uma peça de 33€ já com IVA e que a marca diz que existe em armazém (mas onde?) me chegou ainda e já lá vão 2 meses que está encomendada.

Quando as pessoas da minha idade e mesmo mais novas uns bons anitos acabam as suas histórias com um “eram bons tempos” respondo sempre “esses bons tempos na altura não eram assim tão bons, tu é que eras muito mais novo”.

Porque a mente humana tem um “filtro” muito bom, como canta/diz Jean Gabin na canção “Maintenant je sais” :

On oublie vite un soir de tristesse
Mais jamais un matin de tendresse

Anónimo disse...

Não costumo beber refrigerantes mas tenho uma memória muito bonita em torre de Moncorvo, onde sempre adorei passar temporadas na minha juventude. Os meus avós lá me faziam a vontade de comprar sumol e lembro me bem que a minha querida e saudosa avó também bebia ao jantar, com muito gosto 🤣 que belos tempos

Unknown disse...

Habituado às Fantas e Coca-Colas o Sumol foi uma das poucas coisas doces que encontrei em Portugal Continental nos recuados anos 70. Obrigado, Sumol.

Flor disse...

Anónimo das 13.23, será que quis dizer "Larangina C" umas garrafinhas redondas?

afcm disse...

Sumol - a bebida da minha juventude : laranja e ananás.
A fábrica da Sumol, em Viseu, era uma "referência" logo à entrada, para quem chegava à cidade vindo de terras de Azurara.
Cada vez mais acho que há coisas, tradições e instituições que deveriam ter prerrogativas de irremodeláveis constitucionalmente consagradas.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

"Quando as pessoas da minha idade e mesmo mais novas uns bons anitos acabam as suas histórias com um “eram bons tempos” respondo sempre “esses bons tempos na altura não eram assim tão bons, tu é que eras muito mais novo”.

Ora bem, Manuel Campos, o saudosismo é da juventude e às vezes esse saudosismo é tão pateta que até se faz o elogio da miséria de antanho.

Nuno Figueiredo disse...

como decapante...eheheh.

"Quem quer regueifas?"

Sou de um tempo em que, à beira da estrada antiga entre o Porto e Vila Real, havia umas senhoras a vender regueifas. Aquele pão também era p...